A QUEDA DA TORRE

(Imagem da Web)

 Em Outubro de 2006 “A Universidade de Coimbra (UC) estava entre as 300 melhores universidades do mundo, indicava um “ranking” divulgado naquele mês pela publicação do jornal londrino “Times” dedicado ao ensino superior, “Times Higher Education Supplement” (THES). Na lista, onde constavam aquelas que eram, segundo o suplemento, as 500 melhores universidades do mundo, a UC surgia como a melhor instituição de ensino superior portuguesa e aparecia à frente das Universidades Católica e Nova de Lisboa, as outras duas instituições nacionais “avaliadas” no “ranking”.

Ontem, foi divulgado um novo “ranking” mundial, em que foram seleccionadas mais de 1200 instituições de ensino superior. “A Universidade do Porto é considerada a melhor das portuguesas, encontrando-se entre as 400 melhores do mundo, enquanto a Universidade Técnica de Lisboa e a Universidade de Lisboa se situam entre as 400 e as 500 melhores.”, in jornal Público de ontem. 

Se em 2006, o então magnífico Reitor, Seabra Santos, foi lesto a anunciar a boa nova ao país e à cidade, em que a UC estava então classificada entre as 300 melhores do mundo, agora, com esta nova desclassificação divulgada pela Academic Ranking of World Universities (ARWU) 2012, da Universidade de Jiaotong, de Xangai, exige-se também que o actual reitor, João Gabriel Silva, faça o mesmo balanço, ainda que em “hara-kiri” –ritual japonês no assumir individual da culpa.

Naturalmente, não tenho peso significativo para me manifestar. Mas, enquanto ex-aluno trabalhador-estudante da Faculdade de Direito, que tal como milhares de outros, seniores e jovens, foram “obrigados” a claudicar, tenho a legitimidade de pedir contas e reivindicar uma universidade mais democrática, virada para um ensino prático, menos teórico e tecnocrático, apenas interessada em formar pessoas, cidadãos conscientes e defensores de um mundo melhor, com base no seu saber pragmático e menos sebenteiro e assente em notas duvidosas de charneira atribuídas em frequências para alunos mal preparados. Que quem está à frente dos destinos dos homens deste país diga o que se quer e o que se pretende com clareza e objectividade. Que não se continue a mandar estudantes a apanhar pedras sem previamente lhes serem balizados os parâmetros. Porque, de uma vez por todas, é preciso dizer bem alto que o ensino desta instituição não serve os portugueses e antes continua petrificada num falso estatuto com mais de um século de atraso, quando era única em Portugal. Embora todos comentem, todos remoam por entre dentes, poucos têm a coragem de afirmar que a UC há muito foi ultrapassada por outras. Pelo contrário, num jogo de espelhos que reflectem sempre a mesma imagem e os mesmos apelidos, continua-se a lançar loas ao vento, mesmo sabendo que o rei –neste caso rainha- vai nu. Esta classificação, de certo modo humilhante para quem sempre se considerou a melhor, apenas vem constatar o óbvio.

Era bom que quem está a dirigir esta insigne instituição, perante este resultado, fizesse um balanço para o futuro. Em responsabilização geral dos corpos docente e discente, era bom que se tomasse noção de quantos sonhos de jovens e outros mais velhos, ao longo das últimas décadas, por força de uma avaliação idiota e duvidosa –em cuja malha estreita não passa quem souber, mas quem decorar melhor-, foram coveiros e fizeram enterrar em campa rasa o melhor que cada indivíduo contém e deve explorar como mais-valia para a Nação: a sua vocação.


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