quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O CANCELAMENTO DO JORNAL NACIONAL DA TVI





Segundo declarações de Manuela Moura Guedes à rádio TSF, o jornal de sexta da TVI foi suspenso pela administração. Disse também que este jornal estava a ser preparado há duas semanas e continha revelações sobre o “caso Freeport”. A direcção de informação, em protesto, demitiu-se em bloco. Ao que parece, foi o próprio presidente da Prisa que, em ordem expressa, suspendeu o programa.
Paulo Portas, líder do CDS/PP, já veio dizer que o cancelamento do programa da TVI foi ordem Socialista. Classificou ainda como um “acto de censura que afecta a liberdade de expressão”.
Vamos ver se consigo alguma imparcialidade a analisar esta notícia. Comecemos pelo “Jornal Nacional”, transmitido à sexta-feira. Era isento? Isto é, era feito com alguma equidistância necessária ao bom jornalismo? Penso que não. Aparentemente notava-se na transmissão televisiva, com apresentação de Manuela Moura Guedes, algum “ressabiamento” contra o governo. Era bom para o quarto canal? Era. Gerava “share”, que certamente, em publicidade seria muito rentável. Embora, penso, temporariamente. Este telejornal da TVI transmitido à sexta-feira, em analogia, estava a funcionar do mesmo modo que o desaparecido jornal Independente. É um modelo que “vende” no imediato mas perde em credibilidade futura. Ou seja, para alimentar a sua aleivosia jornalística tem de ter permanentemente assuntos que tenham a ver com escândalos. É um jornalismo que se alimenta do submundo, das entranhas antropológicas do “homos politicus”. Não conhece a ética e muito menos a moral que deve estar subjacente a quem escreve. O que procura é o jornalismo espectáculo, cujo objecto, para além do reconhecimento, é o lucro através das vendas. O final destes órgãos de informação podem durar algum tempo, mas, à partida, têm fim anunciado.
Ora, em minha opinião, os espanhóis que não brincam em serviço, ao adquirirem a TVI, fizeram-no com a certeza de que estavam adquirir um canal de televisão para o futuro, não jogando no imediatismo como faria um qualquer outro grupo económico português.
Penso que poucos acreditam que a Prisa, proprietária da TVI, esteja a fazer um frete ao governo. Aliás, tenho dúvida se esta suspensão, ao gerar suspeita de conluio entre o canal e o primeiro-ministro, não acabará por ser muito mais prejudicial não indo para o ar do que o fosse. Deixa sempre uma dúvida entre o “será ou não será?”. Para mim, que sou um analista de trazer por casa, esta suspensão, “em acto de censura”, como acusa Paulo Portas, não faz sentido em fim de legislatura.
Se eu estivesse à frente de um grande grupo económico, a fazer frete, a apostar num partido, seria sempre no partido de oposição. Ainda que velho na programação política, neste momento, para os portugueses é novo na esperança. Para todos os efeitos, sob o ponto de vista do poder económico, quer se concorde ou não, o governo esgotou o seu prazo de validade. Um grande grupo como a Prisa aposta no futuro, não no passado.
A ser assim, se fizer sentido o que argumento –eu acredito no que escrevo-, o grupo espanhol estará verdadeiramente interessado é no seu umbigo. Portanto, pouco lhe interessa o que vier a acontecer, se pode causar mossa ou não ao governo de José Sócrates.

1 comentário:

Rui Costa disse...

Sou de uma opinião próxima da sua, como pode ver aqui. O que mais me surpreende é que, mesmo tendo sido o jornal cancelado, a onda de sensacionalismo continua.