terça-feira, 22 de setembro de 2009

BAIXA: DIA SEM CARROS/OUTRAS RALAÇÕES










 Hoje é o “Dia Europeu sem Carros”. São 14 horas. A Rua da Sofia está praticamente entregue aos peões. De tempos a tempos lá se avista um táxi ou um autocarro. Curiosamente, como se mentalizados que só os passeios lhe pertencem os transeuntes não arriscam ocupar o alcatrão e chamar a si toda a largura da rua.
Alheio à simbologia, o sol, sem preocupações miméticas, espreguiça-se todo ao comprido da longa artéria e ocupa metade da longa faixa.
Junto à Câmara Municipal um stand improvisado com bicicletas, colocado ali de propósito para este dia sem carros. Pela falta de duas ou três bicicletas no expositor mostra que as pessoas, apesar do convite expresso “Bora lá Pedalar” pouco se interessaram pelo esforço físico em dar ao pedal.
Na Rua Visconde da Luz, em frente às escadas de São Tiago, sete Hergómenos de Remo descansam ao sol à espera que alguém se canse a montá-los.
O movimento pedonal nas ruas da Baixa, aparentemente, será igual aos outros dias. Pelo menos para quem aqui passa a esta mesma hora diariamente. Pelo menos parece. Mas e para os estabelecimentos comerciais, será bom ou mau? O que sentem os comerciantes? Vamos até ao fundo da Rua da Sofia, quase junto ao Diário de Coimbra. Vou parar na Sofimoda, um reconhecido pronto-a-vestir de grande qualidade naquela rua. Então, vou falar com o Arménio Pratas, o proprietário.
-começo por te perguntar como é que, em termos de negócio, vês o dia de hoje, comparativamente com o de ontem e outros dias da semana, quando o trânsito automóvel é normal?
-Ó pá, não tem comparação. O dia está uma porcaria. Esta restrição, durante a semana, não faz sentido nenhum. Só chateia. Eu pergunto-me, como é possível os políticos não verem antecipadamente que este corte de automóveis prejudica todo o comércio da rua?! Será que não percebem o momento grave que estamos a atravessar? Pura e simplesmente, pelos vistos, estão a marimbar-se.
-Diz-me, Arménio, enquanto vice-presidente do sector comercial da ACIC, vais propor alguma tomada da associação comercial?
-Sim. Já durante a manhã liguei para a associação para marcarmos uma reunião extraordinária para o efeito e para debatermos este assunto. A ACIC tem obrigatoriamente de tomar uma posição.
-Partindo do exemplo de hoje, como vês o hipotético desaparecimento, total ou parcial, do trânsito automóvel da Rua da Sofia?

-Se tirarem o trânsito da rua é uma desgraça. Vai ser a falência precoce de todos ou quase todos os comerciantes desta artéria. Parece que querem deliberadamente acabar connosco. São problemas, atrás de problemas…
Caminhando em direcção à Praça 8 de Maio, paro no quiosque de revistas e jornais do senhor José da Cruz Oliveira.
-Diga-me, senhor Cruz, como vê hoje a Rua da Sofia sem carros? Foi afectado o seu negócio, comparativamente ao dia de ontem?
-Está muito pior. O negócio foi afectado. Sabe que aos outros dias, embora não possam, mas os automobilistas sempre encostam e sai alguém e vem comprar o jornal ou uma revista. Hoje nada! Isto, este corte de automóveis, à semana, está muito mal feito.
-Há quantos anos está aqui estabelecido, senhor José? Interrogo.
-Há 39 anos. Com estas alterações que têm vindo a fazer nas últimas décadas deram cabo de tudo. O comércio é sempre a descer. Começaram por alargar os passeios e proibir a paragem de veículos. É evidente que isso prejudica muito as actividades comerciais. Mas isso não é lógico?
A seguir retiraram todas as paragens de transportes colectivos. Você sabia que hoje a Rua da Sofia não tem uma única paragem de autocarro? Isto cabe na cabeça de alguém? Há 20 anos haviam aqui três paragens.

-E alguma vez fizeram ver o vosso ponto de vista à Câmara Municipal?
-Sim, já há muitos anos. Lembro-me de se fazer qualquer coisa, e que se apresentou na autarquia.
Continuei a andar na Rua da Sofia, agora vou parar nos Talhos Boavista e vou falar com o senhor José Pimentel.
-Como é que está o negócio hoje mesmo sem carros?
-Olhe, para nós, está igual. Nós trabalhamos muito com o transeunte que anda a pé e com os restaurantes daqui da zona. De modo que não notamos diferença nenhuma.
Continuo a minha peregrinação a pé, em direcção à antiga praça de Sansão. Vou parar no Restaurante Marcius. Vou falar com a D. Graça e o Victor, os proprietários, e faço-lhes a mesmas perguntas.
-Hoje, até agora, há muito menos movimento. Sobretudo ao almoço. Durante a manhã, ainda andaram por aí umas pessoas de bicicleta e sempre beberam uns cafezitos.
Estou agora a chegar à Câmara Municipal. Os únicos “biciclistas” que avisto são dois polícias da PSP montados nas suas bicicletas a pedais.
Entro na Rua Visconde da Luz. Vou falar com o Armindo Gaspar, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e atiro-lhe com as mesmas perguntas.
-Para mim, aqui, como esta rua não tem trânsito, é igual aos outros dias. Mas já recebi muitas queixas de comerciantes da Rua da Sofia. E, é claro, não tenho resposta. Eu não sabia que hoje era o "Dia Europeu sem Carros”. Só soube logo de manhã, quando li no jornal. A Câmara Municipal não avisou a Agência.
-E concordas que este dia simbólico seja feito durante a semana?
-De modo nenhum. Isto não faz sentido. Parece que querem deliberadamente tirar os consumidores da Baixa e empurrá-los para as grandes superfícies. Por que raio tem de ser sempre a Baixa sacrificada todos os anos? Porque não fazem as medições ao ar na Solum? Será que esta zona comercial e residencial, hoje, não estará mais poluída que o centro histórico?
-A APBC irá tomar alguma posição pública sobre este assunto?
-Sim, iremos tomar uma posição. Durante os próximos dias iremos reunir. Esta situação, todos os anos, não pode continuar. Por um lado, através de muito esforço, com iniciativas, andamos a lutar para trazer pessoas para a Baixa. Por outro, vem a autarquia, sem passar “cavaco” a ninguém, e “enxota” os consumidores para fora daqui.
Já agora, para terminar, fui ouvir o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Carlos Clemente. O que pensa deste dia sem carros?
-Penso mal. Fazer isto num dia de semana não faz sentido. Até entendo a necessidade de se chamar a atenção pública para a qualidade ambiental das cidades, no entanto, a fazer aqui no centro histórico, deveria ser num Domingo. Jamais durante a semana. Eu, durante a manhã, presenciei o pandemónio que foi no trânsito nas Ruas de Aveiro e da Saragoça. Eu estive na fila. Isto é decidir em cima do joelho sem ter em conta as actividades económicas. É lógico que esta medida os prejudica.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Dia Europeu sem Carros" ou "Dia Europeu sem Compras" ? Uma vez mais esses senhores da gravata (obviamente funcionários públicos) repetiram a gracinha de outros anos e toca de fechar umas estraditas nas cidades, que é pró pessoal saber que eles até contribuem para a redução do buraco do ozono. Aproveitam a talho de foice, para fazerem umas comemoraçõeszitas, gastar uns trocos e assim passam o dia. Agora, quem está sempre entalado com estas ideias geniais, ideias estas que só provêm de "Supergénios de Secretária" com o tacho assegurado, pago aqui pelos Zés e pelos bananas que têm de perder mais tempo e dinheiro em filas intermináveis e os massacrados comerciantes que ficam a penar, a pregar e a rezar aos santinhos para que aparecam uns clientes ecologistas. Em suma : mais um dia horrivel para o comércio, que se repercute no resto da economia, mas ..... é porreiro pá