terça-feira, 22 de setembro de 2009

OS ARTISTAS DE RUA REGRESSARAM


(O WALTER, NO SAXOFONE, ENSAIA COM O TIAGO NO CLARINETE)


Há quase dois meses que quem passava nas ruas da calçada (Ruas Visconde da Luz/Ferreira Borges) não avistava um músico de rua.
Durante estes sessenta dias, praticamente, só era possível ouvir o Mário –um sem-abrigo- a tocar flauta. E pode até nem concordar comigo, mas estas duas artérias, com os sons harmoniosos do saxofone do Walter Kovacs e a concertina da Patrícia, ficam diferentes para melhor. Parecem a zona envolvente da Torre Eiffel, em Paris. Sem os sons melodiosos sobretudo destes dois artistas as ruas pareciam estar de luto. Claro que não posso esquecer outros músicos que também lá tocam, como o Ricardo, por exemplo, e outros que estão a chegar, como o Tiago Ribeiro que só conheci hoje, mas falarei mais em baixo.
A maioria destes músicos, que conheço bem, é de uma generosidade invulgar. Às vezes olhamos para eles e, erradamente, tomamo-los como vulgar pedintes. Mas, se pararmos um pouco, ouvirmos as suas melodias, sentimos que afinal foi bom “abrir o livro, ler um pouco, e constatar que estávamos errados ao avaliá-lo apenas pela capa”. Somos todos um pouco assim. São as nossas referências empíricas que nos transmitem estes sentimentos apriorísticos. Devemos fugir destes pressentimentos enganadores. Por vezes, por sermos lineares, perdemos tanto nas avaliações erradas que fazemos. Apreciamos mal os nossos filhos, a nossa mulher, o nosso vizinho, recém-instalado no andar ao lado. Vivemos a vida a correr. Nem temos tempo para nos debruçarmos no essencial quanto mais no acessório. Pronto. Eu sei. Chega de divagações!
Então, voltando aos artistas de rua, depois deste regresso, ficamos a saber que eles serão o contrário das andorinhas. Enquanto elas estão a arrumar a trouxa para rumar ao norte de África, eles, certamente rejuvenescidos de umas férias noutras paragens, ou, se calhar em trabalho, regressam à velha rotina diária que está a começar com o Outono que se aproxima a passos largos.
Amanhã, quando passar pelo Walter Covacks e pelo Tiago Ribeiro, um executante de clarinete, estreante nas ruas da calçada. Veio há pouco para Coimbra. Está a estudar na Escola Agrária, ali em Bencanta. “Como o dinheiro não abunda, estou a experimentar para ver se faço uns trocos para me ajudar na minha vida diária”, enfatizou, quando o interroguei acerca da sua estada ali na rua. Nunca lá o tinha visto. Seja então bem-vindo Tiago.
E você, que me lê, não esqueça, amanhã quando passar por estas pessoas, lembre-se de pelo menos de duas coisas: primeiro, eles têm nome. Segundo, dê-lhes uma moeda. Acredite, é bem merecida. Pare um pouco…e ouça!


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