É um Mercedes preto, último modelo, que está estacionado mesmo em frente à Igreja do Reino de Deus, ali na Rua da Sota, nas traseiras do Hotel Astória. Entram dois homens na casa dos trinta e uma rapariga aproximadamente da mesma idade.
A dois passos está um homem apoiado numa canadiana, com um boné na cabeça a dar cor a uns cabelos prateados, a servirem de moldura a um rosto alongado. Vou a passar e ouço este homem, dirigindo-se aos do Mercedes, em tom de redobrado apelo: “ó amigo, então não dá uma moedinha?”. Um dos homens responde: “isso é com ela –referindo-se à mulher. Ela é que é a caixa!”. Antes de se ouvir o bater da porta do automóvel, o homem que rogava uma moeda, vendo que dali nem um níquel sairia, ainda atira: “e um cigarrito, pode arranjar-me?”. Recebeu como resposta o bater seco da porta do automóvel de luxo.
O homem que está quase diariamente a arrumar carros junto ao Hotel Astória, chama-se João Fabião e tem 56 anos. Segundo as declarações de uma comerciante próximo, “é um homem muito bom. Aqui na rua todos gostamos muito dele. Como estamos sozinhos nas lojas, o senhor Fabião, para nós, é como se fosse o nosso anjinho da guarda. Avisa-nos disto, daquilo, tudo o que nos possa interessar”, diz-me a comerciante da Rua da Sota.
Então conte-me, senhor Fabião, como é que vai o “negócio”? Interrogo. "Mal, muito mal. O senhor não viu? Os mais ricos são os piores…nem um cigarro me dão”. Mas sempre vem qualquer coisa? Provoco, em interrogação. “Pouco mesmo. Quem me vale são os comerciantes da rua. Ainda ontem ali o da esquina me deu 5 euros. Ainda hoje não ganhei nada. E se preciso –acompanha a frase com um profundo suspiro. Sou incontinente. Sofro da próstata. Tenho de usar fraldas. Cada pacote custa 20 euros. É quanto gasto por semana no “Pingo Doce”. Mas são comparticipadas? Interrogo. “Não senhor! Só se eu estivesse acamado. Como não estou não recebo nada. Já viu a injustiça?”
O senhor João está aposentado da construção civil. Recebe 239 euros de reforma. “Já viu como é que posso viver assim?”, interroga-me.
“Almoço todos os dias na Cozinha económica. Para além disso, o que me vale é que pago só 5 euros de renda à autarquia por um T3 no Bairro da Rosa. É uma cave. Tenho de descer escadas e não posso –mostra-me os pés inchados e apertados com uma ligadura. Estou farto de lá viver. Os ciganos fazem muito barulho. Saio muito cedo e chego sempre tarde. Quero lá passar o menos tempo possível. Para além disso, vivo sozinho. O que estou ali a fazer num T3? Há cinco anos que meti um requerimento na Câmara para ir para a Arregaça, o Bairro do Castanheiro, para uma casa pequena, mas nunca me deram resposta”, enfatiza o senhor Fabião.
Despeço-me, depois de lhe pagar um copinho, enquanto lhe aperto a mão, vai dizendo: “olhe lá, o seu blogue é lido por alguém da Câmara? Preciso tanto de sair do Bairro da Rosa. Se me arranjassem uma casinha sem degraus lá na Fonte do Castanheiro…”
A dois passos está um homem apoiado numa canadiana, com um boné na cabeça a dar cor a uns cabelos prateados, a servirem de moldura a um rosto alongado. Vou a passar e ouço este homem, dirigindo-se aos do Mercedes, em tom de redobrado apelo: “ó amigo, então não dá uma moedinha?”. Um dos homens responde: “isso é com ela –referindo-se à mulher. Ela é que é a caixa!”. Antes de se ouvir o bater da porta do automóvel, o homem que rogava uma moeda, vendo que dali nem um níquel sairia, ainda atira: “e um cigarrito, pode arranjar-me?”. Recebeu como resposta o bater seco da porta do automóvel de luxo.
O homem que está quase diariamente a arrumar carros junto ao Hotel Astória, chama-se João Fabião e tem 56 anos. Segundo as declarações de uma comerciante próximo, “é um homem muito bom. Aqui na rua todos gostamos muito dele. Como estamos sozinhos nas lojas, o senhor Fabião, para nós, é como se fosse o nosso anjinho da guarda. Avisa-nos disto, daquilo, tudo o que nos possa interessar”, diz-me a comerciante da Rua da Sota.
Então conte-me, senhor Fabião, como é que vai o “negócio”? Interrogo. "Mal, muito mal. O senhor não viu? Os mais ricos são os piores…nem um cigarro me dão”. Mas sempre vem qualquer coisa? Provoco, em interrogação. “Pouco mesmo. Quem me vale são os comerciantes da rua. Ainda ontem ali o da esquina me deu 5 euros. Ainda hoje não ganhei nada. E se preciso –acompanha a frase com um profundo suspiro. Sou incontinente. Sofro da próstata. Tenho de usar fraldas. Cada pacote custa 20 euros. É quanto gasto por semana no “Pingo Doce”. Mas são comparticipadas? Interrogo. “Não senhor! Só se eu estivesse acamado. Como não estou não recebo nada. Já viu a injustiça?”
O senhor João está aposentado da construção civil. Recebe 239 euros de reforma. “Já viu como é que posso viver assim?”, interroga-me.
“Almoço todos os dias na Cozinha económica. Para além disso, o que me vale é que pago só 5 euros de renda à autarquia por um T3 no Bairro da Rosa. É uma cave. Tenho de descer escadas e não posso –mostra-me os pés inchados e apertados com uma ligadura. Estou farto de lá viver. Os ciganos fazem muito barulho. Saio muito cedo e chego sempre tarde. Quero lá passar o menos tempo possível. Para além disso, vivo sozinho. O que estou ali a fazer num T3? Há cinco anos que meti um requerimento na Câmara para ir para a Arregaça, o Bairro do Castanheiro, para uma casa pequena, mas nunca me deram resposta”, enfatiza o senhor Fabião.
Despeço-me, depois de lhe pagar um copinho, enquanto lhe aperto a mão, vai dizendo: “olhe lá, o seu blogue é lido por alguém da Câmara? Preciso tanto de sair do Bairro da Rosa. Se me arranjassem uma casinha sem degraus lá na Fonte do Castanheiro…”
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