sábado, 12 de setembro de 2009
UM SONHO MAL VIVIDO
Abro o velho álbum de fotografias,
o tempo, em anéis, parece recuar,
as imagens ganham vida em supetão,
atrapalho-me, não as consigo parar,
são milhentas cenas íntimas em turbilhão;
São farrapos de um passado esquecido,
esvoaçando em brisas suaves de ocasião,
é um quarto de motel meio enegrecido,
um leito sem brilho, desfeito de emoção,
histórias de cabaret, iniciadas no Lido;
A luz, pendurada no tecto, está a tremer,
na parede desbotada, o menino a chorar,
o quadro que à época era a preencher,
um espaço na alma destituida, a simbolizar,
a rotina, o vazio, a tristeza, sem entender;
A cama, vergastada, reclamava a gemer,
na sala ao lado, uma mulher a exclamar:
“Ai…não! Ai…sim! Ai…é de… morrer!”,
nós os dois, embrulhados em corpos a suar,
em cenário de êxtase existencial a desaparecer;
Levantaste-te, acendeste um cigarro e fumaste,
correste a persiana, os raios de luz envolveram
o teu corpo nu, de Vénus, Afrodite a passear,
tudo parou no cubículo, os ruídos suspenderam,
o menino na parede, riu-se, e começou a cantar;
Encostaste-te a mim, como Eva, maçã, em tentação,
senti no meu peito os teus túrgidos seios espetados,
mentalmente, contei as batidas do meu coração,
uma dezena, duas centenas, estávamos amarrados,
virei o quadro do menino ao contrário, por afeição;
mordias-me o lóbulo, imaginei Vicent sem orelha,
um Van Gog incompreendido, artista em sofrimento,
fugindo ao fantasma suicidário, transpirava numa quelha,
sussurravas: “abraça e beija-me amor, vivamos o momento”,
acordei sobressaltado, foi sonho, doía-me a sobrancelha.
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