Quando me avista, vem sempre ter comigo e cumprimenta: “bom dia senhor doutor, há uma moeda para mim?”. Embora o título me encaixasse como cabresto num burro, como não sou, não posso aceitar e digo: ó Adelino não sou doutor! “Ai não? Olhe que parece mesmo…desculpe, senhor doutor!”.
Trata-se do Adelino Paixão, uma figura típica da cidade. Terá uma deficiência psíquica que o impede de tocar a vida da mesma forma de todos nós. É daquelas pessoas que, atravessando várias gerações, parecem intemporais numa cidade. Antigamente andava sempre acompanhado com outro companheiro. O normal era vê-los sempre a discutir na rua. Era a sua imagem de marca. “Morreu há quatro anos”, diz-me quando o interrogo acerca do finado.
Agora, anda sempre sozinho. Não faz mal a ninguém. Apenas pede uma moedinha para beber um copo.
Despeço-me dele, aperto-lhe a mão, ele, como sempre, talvez agradecido, replica: “obrigado, senhor doutor!”
2 comentários:
Início de 80.
Obrigado. Vou rectificar.
Abraço.
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