sábado, 19 de setembro de 2009

BAIXA: UM ATELIER QUE PODE SER MELHORADO

A LEONOR BRITES A POSAR PARA O FOTÓGRAFO

O JOÃO VIOLA A ENSAIAR O SEU MELHOR SORRISO


O ÓSCAR ALMEIDA, UM BOCADO MAIS CÁUSTICO, NÃO SORRI


A DINA DUARTE, A PEDIDO, EXPERIMENTA UM TREJEITO DE SORRISO


Estamos na Rua Visconde da Luz. O relógio da torre da Igreja de Santa Cruz acabou de bater as 14 badaladas. Está a decorrer a III Edição de “O Atelier Vai Para a Rua”, organizado pelo Pelouro da Câmara Municipal de Coimbra.
Por ser sábado, apesar da maioria das lojas já ter encerrado para fim-de-semana, certamente a marimbarem-se para estes eventos que procuram trazer pessoas e revitalizar a Baixa, ainda se avistam muitos transeuntes a passear. Esta grande rua larga, em toda a sua extensão, está atapetada de “papelinhos” a cobrir o chão de calçada portuguesa. Provavelmente provocado pelas caravanas eleitorais do PSD E PS que, durante a manhã, andaram pela Baixa. Nota-se que muitos stands de artes estão vazios. Ou os pintores já debandaram ou não teriam vindo.
Entre os vários artistas plásticos há boas criações, dentro da subjectividade que o gosto pela arte comporta.
Vamos então conhecer alguns pintores presentes. Comecemos pela Dina Duarte. É funcionária pública e vem de Figueiró dos Vinhos. É o primeiro ano que participa neste atelier de Coimbra.
Ao lado está o Óscar Almeida. É engenheiro civil aposentado e vive em Coimbra.
Um pouco à esquerda está o João Viola que também vem de Figueiró dos Vinhos e é a terceira vez que participa neste encontro de artes plásticas.
À sua direita está a Leonor Brites. É de Coimbra. Ou seja, é como se fosse nascida aqui na cidade dos estudantes. Embora tivesse visto a luz pela primeira vez num país lusófono, pelas décadas na cidade, já tornou Coimbra como o berço do seu nascimento. É o segundo ano que participa.
Ora nada melhor do que perguntar-lhes como vêem este encontro realizado hoje na Baixa.
Quase em coro, todos dizem que poderia ser muito melhor. Há muito para melhorar. A começar na sua vinda e receberem apenas uma senha de 5 euros para almoçarem na cantina da Associação Académica. “É quase um desrespeito pelo nosso trabalho”, reitera o Óscar Almeida. “Deveriam estabelecer pequenos prémios pecuniários –que é o que se faz noutras cidades de menor dimensão da de Coimbra. Deveria ser criado um para iniciados. Outro para amadores. E outro para consagrados. É assim que se motivam as pessoas a participar. Querem fazer festa sem gastar dinheiro, depois, como hoje, muitos não vêm”, desabafa o Óscar de Almeida. E continua: “talvez seja por eu viver na cidade –pode ser por isso- mas parece que esta cidade se vê desaparecer. Parece que há intenção. Repare, por exemplo, se verificar no programa do Boletim Meteorológico da manhã, na RTP1, já nem falam de Coimbra. Falam da zona Norte, e a zona centro é representada por Aveiro. Isto é propositado. Coimbra foi apagada do mapa. Acredite!” Verbera, com ênfase, o Óscar de Almeida.
O João Viola também concorda. “Isto, aqui em Coimbra, é muito pobrezinho. Para além de não ter prémios pecuniários, uma vez por ano é muito pouco. No mínimo deveria ser realizada duas vezes por ano. E mais: em vez de estar tudo aqui ao “molho e fé em Deus, tudo na mesma rua, deveriam espalhar os artistas por estas belíssimas ruelas estreitas. Até aproveitavam para levar lá as pessoas. Assim, como está feito, anda toda a gente aqui. Deveriam aproveitar para revitalizar com pessoas toda esta área envolvente. Está errado”, sublinha o João Viola.
Já a Leonor Brites, que concorda com tudo o que foi dito, mas acrescentaria um ponto: “a partir de hoje, os nossos quadros, pintados aqui, vão ser expostos na Casa Municipal de Cultura. Então, diga-me lá, isto faz algum sentido? Você acha que as pessoas vão lá vê-los? Até podem ir, mas serão poucos. Estes nossos quadros deveriam ser expostos no Museu do Chiado (ali ao lado). Alguém compreende que só lá consigam expor os consagrados? E depois têm lá as exposições imenso tempo. Será assim que se apoiam os artistas? Ou o Chiado é apenas para uma elite? As artes em Coimbra estão dominadas pelo elitismo. Eu sou do tempo em que se expunha na galeria do Primeiro de Janeiro. Olhe que passaram por lá a fina-flor dos nossos melhores pintores. O Chiado deveria ser aberto também aos amadores. E hoje, aqui, fomos muito mal tratados. Não nos disseram para trazermos cavaletes. Estou derreada das costas. Isto, se querem que melhore, mesmo sabendo nós que estão a fazer festa sem pagar condignamente, primeiro têm de apoiar os artistas, enfatiza a Leonor Brites.


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