segunda-feira, 7 de setembro de 2009
E COMO É QUE EU VI O DEBATE FERREIRA LEITE/LOUÇÃ?-(3)
Começando pela apresentadora Constança Cunha e Sá, jornalista da TVI, desta vez, e contrariamente ao primeiro debate entre Portas /Sócrates, esteve razoavelmente bem.
Quanto aos candidatos e à sua imagem “televisual”, Manuela Ferreira Leite (MFL), de um modo geral esteve bem. De “tailleur” saia e casaco cinzento, debruado a preto, sóbrio, emoldurado por um colar de pérolas e um top negro, a candidata a primeiro-ministro pelo PSD conseguiu transmitir uma representação de estadista. Nas réplicas ao líder do Bloco de Esquerda, de vez em quando, a custo, lá saia um meio-sorriso. Nota-se que MFL não gosta de debates. Participa por que a eles não pode fugir. Tal como Cavaco Silva não está à vontade. Aliás, várias vezes, na pose expressiva, vi na outrora apelidada “dama de ferro” a projecção do actual chefe de Estado, quando era primeiro-ministro e também em debates televisivos, sobretudo na contenção do sorriso e gestos curtos sem grande alarde. Vi uma grande preocupação em não provocar Francisco Louçã, sobretudo aquando das nacionalizações do PREC –nesta altura era o líder do Bloco um adolescente. Estando à vontade para argumentar, uma vez que é mais velha, preferiu acompanhar a retórica de Louçã com um sorriso e um “dixit”: “não vá por aí”.
Quanto à imagem de Francisco Louçã, continuo a achar que não convence. É pouco cuidada. Parece um vendedor de província. Tenho para mim que o líder do Bloco é um dos melhores tribunos da actualidade. O problema é que, porque é uma pessoa tímida, nestes debates, não está à vontade. Dá para ver no constante esbracejar. O seu sorriso é uma desgraça. É apenas um arremedo de riso, um pequeno esgar. Depois, na oratória, recorre muito a frases feitas que não consegue explicar, como foi o caso de reivindicar as nacionalizações nos combustíveis e na electricidade. Ainda que o seu princípio estivesse correcto –porque foi um erro crasso liberalizar os combustíveis, quando há apenas 4 operadores e estes actuam em oligopólio e, presumidamente, combinam os preços em cartel-, acabou por empastelar o discurso e não conseguiu demonstrar a conclusão.
Francisco Louçã é um orador de grandes plateias. É um “snipper”, um atirador furtivo, habituado a atirar de longe. Nestes debates, “face-to-face”, é notória a sua incomodidade. E é uma pena, porque, sem favor, a sua dialéctica é, como todos sabemos, brilhante. Mas, como estudante inteligente que considera despiciendo estudar a lição, em auto-convencimento, acaba por descurar a imagem em retórica e recorrendo a chavões tão próprios da esquerda marxista-leninista.
Quanto ao conteúdo da mensagem política, MFL esteve razoável –não no seu melhor. Patinou na família tradicional. É evidente que não consegue “engolir” os casamentos homossexuais. Lá foi dizendo que entende que a família, como tudo na vida, está sujeita a uma natural dinâmica, mas foi pouco clara no convencimento aos eleitores.
Quanto a Francisco Louçã teve um discurso monocórdico, empanturrado e chato.
Como ambos estavam à defesa, e o modelo de debate não ajuda, quem assistiu, no fim, ficou tão esclarecido como no princípio. Ou seja: estes confrontos, em elucidação, não têm qualquer utilidade.
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