(Imagem, com a devida vénia, retirada do Jornal da Mealhada"
Na última segunda-feira, repentinamente,
Homero Cristina Serra sucumbiu. Num labor simples agrícola, a podar videiras, uma intensa
e derradeira dor no peito conseguiu o que nem uma mina pessoal, na guerra
colonial e ao fazer amputar-lhe uma perna, almejou: derrubar o homem de vontade
férrea, humilde, íntegro e amigo de tanta gente.
O Homero foi presidente da Junta
de Freguesia de Luso durante 24 anos, seis mandatos consecutivos a representar
o Partido Socialista, e, mais que certo, afastado pela impossibilidade legal de
se poder recandidatar.
Conheci o “Mero”, como era reconhecido por todos, desde criança. Ambos nascemos
na mesma aldeia, a sua amada terra de Várzeas. O Serra era um varziense de gema. Tema de algumas
conversas passadas entre nós, para seu profundo desgosto, nem sempre foi compreendido
pelos seus conterrâneos.
Pedi algumas pessoas que de perto privaram e
acompanharam o seu percurso pessoal e político que me dessem o seu testemunho
acerca do homem que sempre admirei. Um deles é o Luís Fernandes (Peças),
natural de Várzeas e a viver no Luso há muitos anos. “O “Mero” era um tipo de pessoa capaz de dar a camisa para o próximo,
enfatiza. Qualquer freguês, independentemente
da cor política, sendo rico, remediado ou pobre, que lhe pedisse um favor,
mesmo quase impossível, ele fazia tudo para acorrer ao solicitado. Era um edil
amado por todos. Ele era aquela pessoa que estava a liderar a Junta de Freguesia
para ajudar o próximo. Era o modelo do que entendemos como servir a causa
pública. Se não estivesse limitado pela lei e se voltasse a candidatar-se ganhava
outra vez. Quando havia uma obra na freguesia ele estava lá. Acompanhava e
trabalhava ao lado dos operários. Era um homem do povo, simples e sensível aos
problemas alheios. Ele não distinguia ninguém. Eu lidei muito com ele. Os
varzienses nunca entenderam a razão da nossa aldeia ficar para última na
requalificação. Não souberam compreender que ele queria fazer da nossa terra a
melhor de todas mas, para isso, era preciso esperar pela aprovação dos
projectos candidatos a fundos comunitários. O “Mero” dizia-me muitas vezes: “Várzeas
vai ser diferente. Tu vais ver!”. E foi mesmo! Está lá uma obra digna de levar
o seu nome.”
Sílvio Gomes Fernandes, outro amigo de Homero
Serra e que o conheceu bem, diz o seguinte: “Foi
a figura com mais destaque nesta terra, dos burriqueiros –do Luso-, depois do
25 de Abril. Foi o melhor presidente da Junta de Freguesia de sempre.
Dificilmente, de quem vier a seguir, alguém ocupará o seu lugar com o mesmo
espírito de missão. Era um homem do povo. Muito dado e que vivia para resolver
os problemas dos outros. Era muito bem recebido em todos os lugares da
freguesia. Que eu conheça, não tinha inimigos pessoais. A haver seria a nível
político. Tinha uma frase muito engraçada para os designar: chamava-lhes “caceteiros”.
Outro amigo que o conheceu bem foi o José Duarte
Moura. Ao meu pedido, respondeu assim: “Não
vai haver outro presidente da Junta como ele. Naturalmente que já foi substituído
e outros virão mas têm outros interesses calculistas, pessoais e políticos. O “Mero”
era diferente. Era a simplicidade em pessoa. Estava ali para ajudar e nunca
para medir as pessoas pelo que representavam na colectividade. Não discriminava
quem quer que fosse. Era amigo até do inimigo. Vou sentir muita saudade dele e
acredito que muitos mais sentirão o mesmo. Foi num choque muito grande!”
Nesta homenagem singela ao homem simples, em
meu nome, em nome de milhares de fregueses, constituídos por lusenses, varzienses
e povoações limítrofes, que acredito sentirem o mesmo, para a família enlutada
um abraço de solidariedade nesta hora de tão grande sofrimento. Para o “Mero”, em sua memória, nesta despedida sem avisar, uma
grande salva de palmas!
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