terça-feira, 13 de janeiro de 2015

UMA EXPOSIÇÃO RECOMENDADA NA LIGA DOS COMBATENTES



Desde 12 de Dezembro e até 30 de Janeiro, com ingresso gratuito nos dias úteis das 14 às 17h00, está a decorrer uma fantástica exposição sobre o centenário da Primeira Grande Guerra Mundial, “Olhares e Retrospectivas”, e a participação portuguesa na Liga dos Combatentes, no Colégio de Nossa Senhora da Graça, na Rua da Sofia, que aconselho uma visita demorada.
O Tenente Coronel João Paulino, vice-presidente do Núcleo de Coimbra e organizador da exposição, foi o meu cicerone. Começando logo na entrada, com a recriação de uma trincheira com a representação de um soldado fardado e equipado com máscara de gás e um morteiro, ao mesmo tempo que me mostrava imagens, foi-me explicando que, embora as nossas tropas já combatessem nas fronteiras das ex-colónias desde finais de 1914, a entrada de Portugal no grande conflito mundial, com a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, aconteceu em 1916. No ano seguinte, em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português, seguiam em direcção à Flandres. Apesar de Portugal participar no grande conflito bélico com envio de homens três anos mais tarde do seu início, em 1914, tal não evitou que a perda de vidas humanas, portugueses, se cifrasse em cerca de 10 mil e milhares de feridos, muitos destes estropiados e patentes em imagens frias e duras visíveis nas muitas fotografias presentes.
Pode ver-se também nesta exposição uma grande variedade de equipamentos, bonés, fardamentos e outros artefactos militares de Célio Dias, um dos maiores coleccionadores europeus do género. Assim como uma colecção particular de miniaturas pertença de João Peixoto.´

CURIOSIDADES

A Censura: Continuamos a ver os vários documentos do tempo de guerra e somos surpreendidos por postais com um carimbo de “Censurado”. Como? Censura na 1ª República? E aqui estacamos para reflectir. Então os republicanos não se distinguiram pela Liberdade de Imprensa? E somos obrigados a investigar e constatamos que pela Lei nº 459, de 28 de Março de 1916, logo no primeiro artigo se transcrevia que “Enquanto durar o estado de guerra ficam sujeitos à censura preventiva os periódicos e outros impressos e os escritos ou desenhos de qualquer modo publicados”. E a pergunta surge naturalmente: porquê? Em especulação, devida à instabilidade política no país pela envolvência de Portugal no conflito. Por cá, pelo esforço da guerra, as condições sociais alteravam-se, com o aumento do custo de vida, os géneros escasseavam e o desemprego aumentava. A agitação social e política geravam greves, tumultos e assaltos. Por lá, por terras de França, o corpo militar expedicionário, mal apetrechado, com armas antigas e ineficazes a lutar contra a metralhadora alemã, vivia o horror e o inferno. As tropas amotinavam-se. Por tudo isto talvez já se entenda o recurso à censura e a restrição na Liberdade de Imprensa –o que, em reflexão profunda, nos pode remeter para os dias de hoje com a proliferação avulsa de desenhos satíricos em França contra os muçulmanos e que pode alastrar a toda a Europa. Estamos ou não em presença de uma nova Guerra Santa, em que os povos auto-denominados de desenvolvidos, em provocação contínua de desrespeito, em escárnio e maldizer, impõem pela sátira os seus pontos de vista dessacralizados e de secularização? Pela defesa dos seus cidadãos, devem os Estados europeus intervir, sensibilizando ou mesmo proibindo, ou, como se está a fazer no espírito de irresponsabilidade, desregrado e de carneirada, devem apoiar uma classe mesmo sabendo que estão a colocar em perigo a segurança de milhares de pessoas? –Sublinho que é uma especulação minha.

A Fé na Guerra: Somos agora surpreendidos com a imagem de um enorme Cristo crucificado e decepado. Diz-me o meu anfitrião que é o “Cristo das Trincheiras”, trazido na altura de terras de Asterix e levado para o Mosteiro da Batalha.
Salienta-se também a participação de 12 mulheres, enfermeiras, voluntárias na Cruz Vermelha Portuguesa e que foram condecoradas com a Cruz de Guerra.

A maior condecoração: De Coimbra para França saiu o Batalhão 23, do Regimento de Infantaria 23, à Penitenciária. Da cidade era também o general Zamith, que foi comando de divisão na Batalha do Lys. Entre várias comendas que foram atribuídas aos portugueses, foi outorgada a legião de honra, a maior condecoração do Estado Francês.

A venda do capacete: Para ajudar as famílias carecentes pela participação na guerra, pela Liga dos Combatentes e, presumivelmente, de uma ideia original da Condessa do Ameal, em 1934, foi instituído o dia 9 de Abril como o “Dia do Capacete”, para, em jeito de cravanço e reconhecimento, ceder uma miniatura de protecção a todos os benfeitores. O Despertar noticiava assim em 28 de Abril de 1939: “A comissão de senhoras que, amanhã, se espalhará pela cidade no desejo de adquirir pequenos recursos para os Combatentes da Grande Guerra, para as viúvas e para os órfãos, é presidida pela benemérita senhora Condessa do Ameal”.
Despeço-me do meu anfitrião, Tenente Coronel João Paulino, com um abraço. Aprendi imenso enquanto visitei esta exposição. Aproveita para me dizer que, juntamente com a direcção a que pertence, está a fazer tudo para quebrar a barreira existente entre o cidadão e a instituição. O Núcleo da Liga dos Combatentes de Coimbra é uma instituição aberta a todos. Embora com associados com uma quota simbólica, com vários projectos de dinamização em mente, quer franquear as suas portas à cidade.




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