Há dias, na tasca onde almoço diariamente,
apreciei o desenrascanço, o desembaraço,
de um sujeito que conheço aqui das ruas, por me cruzar várias vezes por ele.
O homem entrou com cara granítica,
de mau humor, e chamou pela dona do estabelecimento. “Estou muito aborrecido, sabe?” –interrogou. Vieram-me dizer que a senhora contou que eu estou aqui a dever uma conta
grande. É verdade? Quanto muito, creio, serão uns dois euros! Aliás, ainda não
paguei porque estive internado no hospital. A senhora soube? Dê-me um copo, se
faz favor!” –ordenou. E a mulher deu. “Com
franqueza, não está certo! Quem ouvir até há-de pensar que não pago as minhas
contas! A senhora sabe que eu sou certinho, não sabe?” –a patroa, meia
encavacada pela audácia do homem, lá ia dizendo que sim, que ele era sério, e
que não mandou recados e que quando falava era de olhos-nos-olhos.
O homem acabou de beber o vinho do copo e
perguntou: então, diga-me quanto lhe devo agora? “Dois euros e cinquenta”,
respondeu a visada. “Está bem, então
aponte aí que amanhã ou depois pago. E faça o favor de não mandar mensagens a
ninguém! Eu sou muito sério! Que diabo!?!”
Sem comentários:
Enviar um comentário