terça-feira, 27 de janeiro de 2015

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER", deixo também a crónica "A RUA DO DESRESPEITO TOTAL"; "PEPE RÁPIDO À SOLTA NA BAIXA"; e "O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?".


DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER

Óbitos: Em final de Dezembro morreu a Casa Sousa, na Rua Adelino Veiga e com frente para o Largo das Ameias. Silenciosamente como os velhos que estão fartos de viver nesta vida sem eira nem beira, e querem dar o último suspiro sem darem nas vistas, assim, igualmente, se apagou este ponto de venda que, durante muitos anos, fez parte do roteiro comercial da zona histórica. Este reputado estabelecimento de tecidos a metro e outros têxteis, estaria ali implantado e por lá fez vida durante cerca de vinte e poucos anos, foi substituir, na altura, uma loja de ferragens que já vinha de outra, a da “Viúva Alves Vieira”.
Transferências: A Fotografia Coimbra, um conhecido estabelecimento de reprodução de imagem, situada há décadas no número 49 da Rua Adelino Veiga, um pouco recuado e fora de vistas, passou para o 47 e com visibilidade para todos os passantes. Agora, para além de continuar a oferecer o seu saber na arte de retratar, vende também adereços para convidados de casamentos e noivas. Agostinho Monteiro, o gerente, foi-me adiantando: “a fotografia morreu mas eu nego-me a fazer-lhe o funeral. Foi por ela que eu vivi tantas e tantas décadas e dediquei o meu amor. Por isso mesmo quero continuar com ela todos os dias mesmo sabendo que já não respira. Foi por ela que me transferi para aqui, tentando resistir.”
Nascimentos: Na Rua da Sota, número 42, por trás do Hotel Astória, nasceu recentemente o “Sonho de Unhas”. Com as suas cores de rosa suave no salão onde vai crescer, é um bebé muito talentoso ligado à beleza e à estética e que a mãe, a Inês Silva, colocou neste mundo, da Baixa, de braços abertos. Naquele salão prodigioso onde as maravilhas acontecem há vários serviços disponíveis como, por exemplo, unhas de gel, gelinho, verniz gel e serviços gerais de manicura. Para além de um trabalho de excelência, os preços são uma agradável surpresa. Pode fazer marcações e visitar a sua página no Facebook.
Com todo o contentamento da vizinhança, pela originalidade, deu à luz recentemente na Rua da Fornalhinha, número 11, o atelier José Art. O pai do menino é o José Rosa, que é licenciado com o curso superior de artes plásticas, e vem da zona da Mealhada na procura de novos horizontes. Na sua oficina, para além de vender obras de arte, dá aulas de pintura, promove whorkshops temáticos, cede o espaço para exposição a outros artistas, realiza restauros em pintura sobre tela, arte sacra, em madeira e faiança, e, para além disto, produz e vende bijuteria artística.
Com um grande abraço de boas vindas, nasceu recentemente, na Rua do Corvo, número 82, ao lado da Ricarlina, o Leão da Serra. Os progenitores do valente de juba são a Isabel Esteves e o Pedro Batista, um afetuoso casal que veio da Covilhã em busca de outra perspectiva e que pela sua natural bonomia captam imediatamente a nossa simpatia. Na sua loja vendem produtos endógenos da região de qualidade certificada. São tantos, tantos e tão bons, que até sinto dificuldade em enumerá-los como, por exemplo, os pastéis de cereja da zona do Fundão. Desde o mel, doces variados, queijo da serra, enchidos de fazer estalar o palato e até aos vinhos serranos, à ginjinha em copo de chocolate e, ai senhor!, aquele licor de castanha que eu lá bebi! Que poção mágica espetacular!!
Andava o espírito de Natal envolto em nuvens dezembrista de amor pela Baixa, com o Menino Jesus a espreitar, quando a Vânia Dias e a Soraia Pimentel mostraram a todas as mulheres de boa vontade, no rés-do-chão do Centro Comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, o seu Visconde Nails. Neste bonito estabelecimento, cheio de luz e cor, todos os seus clientes têm um serviço personalizado de unhas de gel, manicura normal, pédicure, extensão de pestanas, depilação de buços e sobrancelhas. Com ênfase, como alguém que sente que está a fazer tudo o que pode, diz-me a Vânia que “felizmente está tudo a correr muito bem. Estamos a caminhar em direção a um futuro que, com o nosso esforço e apoio dos nossos amigos, esperamos que seja profícuo.”


A RUA DO DESRESPEITO TOTAL

Os mais velhos certamente se lembrarão que a Rua Adelino Veiga, até há cerca de uma vintena de anos, foi a mais importante artéria comercial da Baixa. Progressivamente foi decaindo, decaindo até a um estertor incomodativo. Os motivos apontados para este definhamento são vários. Uns apontam que foi o encerramento de grandes casas comerciais como a Fetal, o Saul Morgado e as Modas Veiga –o Veiga transferiu a sua marca registada para a Rua Eduardo Coelho onde se encontra de pedra e cal. Outros, com mais consistência, repetem que tudo teria começado com a abertura da saída lateral da Estação Nova para a Rua António Granjo e, ao mesmo tempo, a mudança das paragens de autocarro do Largo das Ameias para a mesma rua do Mini Preço. Sem colocar de lado todas as premissas, invocam os donos da segunda teoria que o resultado final nos últimos anos, numa desertificação contínua para o arruamento do Poeta Popular, foi catastrófico para todos quantos lá fazem pela vida.
Como um mal nunca vem só, nos últimos tempos esta via passou a ser uma “autoestrada”, nas palavras de Agostinho Monteiro, comerciante ali implantado há muitas décadas e a lutar por uma dignificação necessária e legítima e que deveria ser reconhecida pelas autoridades competentes. Diz Agostinho, “é uma vergonha o que está acontecer! Apesar de ao fundo da rua haver sinalética a proibir o trânsito, depois das 10 da manhã, isto é uma Scut, estrada sem custos para o utilizador. Durante todo o dia passam aqui automóveis a grande velocidade. Sempre que saio da minha loja, para não ser atropelado, sou obrigado a colocar a cabeça de fora. Alguns comerciantes da rua são os próprios a prevaricar e outros da Praça do Comércio fazem o mesmo em completo desrespeito por quem aqui trabalha. Já falei com agentes da Polícia Municipal (PM) sobre este abuso e aconselharam-me a fazer um abaixo-assinado. Há uns meses passou aqui o Presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado. Para além de lhe mostrar o nosso problema e no momento até passar um automóvel, falei com ele e até agora nada foi feito. Tudo continua na mesma como a lesma! Para que servem os pinos que custaram tanto dinheiro ao erário público e até foram colocados na sua anterior governação –por volta do fim do milénio- e estão inativos? Estamos para aqui abandonados. Ninguém nos liga! É um desânimo o que estão a fazer connosco!”
António Brito, outro reputado comerciante na Rua Adelino Veiga e que pela sua antiguidade conhece até as pedras da calçada pelo nome, afina pelo mesmo diapasão: “o dinheiro que gastaram –cerca de 16 mil contos, hoje 80 mil euros- não valeu nada! Num desprezo total, são os próprios comerciantes, desta rua e da Praça do Comércio, que fazem tábua rasa do sinal de trânsito de proibição colocado lá à frente. Estamos para aqui desprezados. Olhe que até com a falta de luz levamos. Ainda ontem mostrei à minha mulher a escuridão reinante. Sinto-me a lutar contra o vento. O meu sentimento, confesso, é de desalento. O que tenho de fazer para ser ouvido? Até já liguei para a PM por causa de uma viatura que esteve aqui estacionada todo o dia, ninguém apareceu. Com franqueza, estou tão cansado de tudo isto que até me faltam as palavras!”



“PEPE RÁPIDO” À SOLTA NA BAIXA

Na segunda-feira, dia 5, pelas 16h30, Adélia Cardoso, de cerca de setenta anos de idade, descia calmamente as escadas do Gato, junto ao Largo da Portagem, foi quando um indivíduo, esguio e de pé ligeiro, por trás lhe arrancou a carteira e se colocou em fuga pela Travessa do Gato, lateral à Rua Sargento Mor. Segundo testemunhas que presenciaram o roubo, era um tipo novo –uma senhora espectadora teria mesmo visto as suas feições porquanto o sujeito esteve parado anteriormente junto a uma montra-, de cerca de vinte e poucos anos, magro, vestido com calça larga e blusão azul-forte.
Segundo uma testemunha com quem falei, “foi tudo muito rápido. Eu vi-o subtrair a carteira à senhora e enquanto andei cerca de cinco metros, o ladrão, perseguido por um rapaz que não conseguiu acompanhar o seu passo, percorreu cerca de cinquenta e em direção ao Largo do Romal.”
Posteriormente, a carteira com os documentos seria encontrada na garagem do Hotel Oslo. Foi a gerência deste estabelecimento hoteleiro que fez a comunicação.
João José Cardoso, filho da vítima, passado cerca de uma hora, juntamente com a mãe apresentaram queixa na 2ª Esquadra da PSP. São dele estas declarações: “foi um auto perfeito. O agente perguntou se a minha mãe precisava de ir ao hospital. Ela respondeu que não. Ele tomou nota da ocorrência, na participação, e mais nada! Foi como se tivéssemos ido a uma repartição pública. Em juízo de valor, senti que o polícia recebeu a participação como se fosse uma banalidade. Como se, anteriormente recebesse muitas mais e este caso fosse o seu diário.”
Este seu desabafo de João Cardoso pode parecer algo contraproducente mas não é. O indivíduo, que apelido de “Pepe Rápido”, alegadamente tem andado por aqui, a dar várias palmadas a particulares e a comerciantes. O método é sempre o mesmo: pega em correria o que pode e desaparece. Está de ver, portanto, que é um passarão conhecido e que se move muito bem por estas ruelas estreitas. Embora os prejudicados não apresentem queixa, pelos valores despicientes em causa, já vários sentiram a sua mão ligeira.
Já há uns anos para cá, tirando o pequeno tráfico, felizmente a Baixa, de dia e de noite, é segura. Por conseguinte este ladrãozeco esguio e bem-sucedido, para além de borrar a pintura, parece que anda a fazer pouco das brigadas à civil da PSP. O que é que se passa?




O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?

“Maria”, filha única, é uma moçoila linda que ainda não soprou as quarenta velas. Os seus olhos eloquentes, para onde quer que se fixem, expressam luz e espiritualidade. Mora numa terra próxima do mar há cerca de uma dúzia de anos e, depois de um casamento falhado, desde quando se prendeu de amores pelo seu atual companheiro. Desta paixão nasceram dois rebentos que são o âmago da sua existência, a projeção de si mesma, um agora com 12 anos e outro com metade.
Com o passar dos anos Maria depressa se apercebeu que o reservatório do seu amor tinha um fundo duvidoso. Ora a trocava por outra, ora o afeto, tão presente nos primeiros anos, desaparecia como nuvem em quente verão. Para além disso, trabalhar para custear as despesas da casa era um esforço impossível para a sua débil vontade. Sendo as relações um universo entrelaçado que só subsiste pelo apoio contínuo, naturalmente que aquela ligação passou a ser tudo menos de firmamento. E as primeiras cominações do homem para a mulher, como ervas daninhas a emergirem de um pântano de águas turvas, começaram a surgir a todo o momento. Da verbalização à prática foi um pulo e Maria começou a sentir na pele as pancadas que lhe esmagavam o corpo e dilaceravam a alma. A ameaça de abandonar aquela vida de martírio começou a germinar na sua cabeça e a tomar forma na sua boca. A resposta do opressor foi afogar-se em álcool e recorrer a chantagem, na advertência de lhe retirar os filhos. E Maria foi aguentando aquela tortura física e mental. Mas toda a atrocidade para quem a recebe tem um limite. Com o tempo, mesmo bebendo diariamente o veneno que a torna quebradiça, sem nada fazer por isso, a vítima vai fortalecendo, deixa de sentir a dor, e vai criando uma revolta que a há-de fazer sair do círculo que a mantém prisioneira.
Sendo a casa de sua propriedade e fruto do anterior enlace, há cerca de dois meses mudou para outro quarto e passou a dormir com o filho mais novo. Foi o desencadear de novas ações violentas. Há três semanas, pouco depois do Natal, a meio da noite e toldado pelo etílico, o companheiro irrompeu pelo quarto e, à frente do filho mais novo, violou e pela força obrigou a mulher a manter relações sexuais. Foi o clique que faltava para acender um rastilho de uma bomba que se adiava em explodir. E Maria foi apresentar queixa na PSP. O dominador foi contactado e sinalizado pela polícia e em resposta aumentou a pressão sobre a companheira, retirando-lhe os cartões de crédito e o telemóvel. Entretanto submeteu a mulher e os filhos a entrar no automóvel e, sobre ameaça de morte, obrigou-os a acompanharem-no a uma vidente numa localidade com praia e ali próximo. Em desespero de causa, a “raptada” conseguiu contactar a mãe e contar-lhe o perigo e a aflição que juntamente com os seus filhos estavam a correr. A progenitora contactou a PSP e foi montado um cerco na sua vinda. Para além do inquérito aberto, foi imediatamente aconselhada a sair com os filhos da casa familiar –lembra-se que a habitação está em seu nome. Enquanto o tirano se mantém em casa, foram morar para junto de uma família amiga. Durante duas semanas esta prole desfeita viveu um calvário sem precedentes, sobretudo pela liberdade de movimentos do déspota que, para além de tentar resgatar os filhos na escola, continuou a intervalar com a mulher juras de amor e ameaças de morte. Pergunta-se, como estará a mãe, avó dos miúdos, a viver toda esta situação? Como estarão as duas crianças a passar por tudo isto?
Esta semana, sobre o âmbito da APAV, Associação de Apoio à Vítima, secretamente, abandonou a cidade onde viveu os últimos anos e partiu para local desconhecido para todos e mesmo para a sua própria mãe. Interroga-se outra vez: perante esta partida como fica a mulher que pariu esta mártir? Que sentimento de revolta será tomada esta mãe para com este sistema que pouco faz para neutralizar o dominador e impõe demasiados sacrifícios a quem apanha por tabela este padecimento? Que justiça é esta? Que deixa o opressor em liberdade, na casa que não é sua, e penaliza a vítima a transferir-se de mochila às costas e a desmanchar tudo desde laços familiares até largar o seu emprego de funcionária pública?
Só para lembrar e segundo o último relatório do Observatório de Mulheres Assassinadas da União Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), na última década morreram 398 mulheres vítimas de violência doméstica. Dizem os relatórios que é causado pelo ciúme e dificuldade em aceitar a separação, mas também por falta de intervenção imediata por parte das autoridades.



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