LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER", deixo também a crónica "A RUA DO DESRESPEITO TOTAL"; "PEPE RÁPIDO À SOLTA NA BAIXA"; e "O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?".
DEVE & HAVER DE UMA BAIXA QUE TEIMA EM RENASCER
Óbitos: Em final de Dezembro morreu a Casa Sousa, na Rua Adelino Veiga e com frente para o Largo
das Ameias. Silenciosamente como os velhos que estão fartos de viver nesta vida
sem eira nem beira, e querem dar o último suspiro sem darem nas vistas, assim,
igualmente, se apagou este ponto de venda que, durante muitos anos, fez parte
do roteiro comercial da zona histórica. Este reputado estabelecimento de
tecidos a metro e outros têxteis, estaria ali implantado e por lá fez vida
durante cerca de vinte e poucos anos, foi substituir, na altura, uma loja de
ferragens que já vinha de outra, a da “Viúva
Alves Vieira”.
Transferências: A Fotografia Coimbra, um conhecido
estabelecimento de reprodução de imagem, situada há décadas no número 49 da Rua
Adelino Veiga, um pouco recuado e fora de vistas, passou para o 47 e com
visibilidade para todos os passantes. Agora, para além de continuar a oferecer
o seu saber na arte de retratar, vende também adereços para convidados de
casamentos e noivas. Agostinho Monteiro, o gerente, foi-me adiantando: “a fotografia morreu mas eu nego-me a
fazer-lhe o funeral. Foi por ela que eu vivi tantas e tantas décadas e dediquei
o meu amor. Por isso mesmo quero continuar com ela todos os dias mesmo sabendo
que já não respira. Foi por ela que me transferi para aqui, tentando resistir.”
Nascimentos: Na Rua da Sota, número 42, por trás do Hotel Astória, nasceu recentemente o “Sonho de Unhas”. Com as suas cores de
rosa suave no salão onde vai crescer, é um bebé muito talentoso ligado à beleza
e à estética e que a mãe, a Inês Silva, colocou neste mundo, da Baixa, de
braços abertos. Naquele salão prodigioso onde as maravilhas acontecem há vários
serviços disponíveis como, por exemplo, unhas de gel, gelinho, verniz gel e
serviços gerais de manicura. Para além de um trabalho de excelência, os preços
são uma agradável surpresa. Pode fazer marcações e visitar a sua página no
Facebook.
Com todo o contentamento da vizinhança, pela
originalidade, deu à luz recentemente na Rua da Fornalhinha, número 11, o atelier José Art. O pai do menino é o José Rosa, que é licenciado com o
curso superior de artes plásticas, e vem da zona da Mealhada na procura de novos
horizontes. Na sua oficina, para além de vender obras de arte, dá aulas de
pintura, promove whorkshops
temáticos, cede o espaço para exposição a outros artistas, realiza restauros em
pintura sobre tela, arte sacra, em madeira e faiança, e, para além disto,
produz e vende bijuteria artística.
Com um grande abraço de boas vindas, nasceu
recentemente, na Rua do Corvo, número 82, ao lado da Ricarlina, o Leão da Serra. Os progenitores do valente de juba são a Isabel Esteves e o
Pedro Batista, um afetuoso casal que veio da Covilhã em busca de outra
perspectiva e que pela sua natural bonomia captam imediatamente a nossa
simpatia. Na sua loja vendem produtos endógenos da região de qualidade
certificada. São tantos, tantos e tão bons, que até sinto dificuldade em enumerá-los
como, por exemplo, os pastéis de cereja da zona do Fundão. Desde o mel, doces
variados, queijo da serra, enchidos de fazer estalar o palato e até aos vinhos
serranos, à ginjinha em copo de chocolate e, ai senhor!, aquele licor de castanha
que eu lá bebi! Que poção mágica espetacular!!
Andava o espírito de Natal envolto em nuvens
dezembrista de amor pela Baixa, com o Menino Jesus a espreitar, quando a Vânia
Dias e a Soraia Pimentel mostraram a todas as mulheres de boa vontade, no rés-do-chão
do Centro Comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, o seu Visconde Nails. Neste bonito
estabelecimento, cheio de luz e cor, todos os seus clientes têm um serviço
personalizado de unhas de gel, manicura normal, pédicure, extensão de pestanas,
depilação de buços e sobrancelhas. Com ênfase, como alguém que sente que está a
fazer tudo o que pode, diz-me a Vânia que “felizmente
está tudo a correr muito bem. Estamos a caminhar em direção a um futuro que,
com o nosso esforço e apoio dos nossos amigos, esperamos que seja profícuo.”
A RUA DO DESRESPEITO TOTAL
Os mais velhos certamente se lembrarão que a
Rua Adelino Veiga, até há cerca de uma vintena de anos, foi a mais importante
artéria comercial da Baixa. Progressivamente foi decaindo, decaindo até a um
estertor incomodativo. Os motivos apontados para este definhamento são vários. Uns
apontam que foi o encerramento de grandes casas comerciais como a Fetal, o Saul Morgado e as Modas Veiga
–o Veiga transferiu a sua marca registada para a Rua Eduardo Coelho onde se
encontra de pedra e cal. Outros, com mais consistência, repetem que tudo teria
começado com a abertura da saída lateral da Estação Nova para a Rua António
Granjo e, ao mesmo tempo, a mudança das paragens de autocarro do Largo das
Ameias para a mesma rua do Mini Preço.
Sem colocar de lado todas as premissas, invocam os donos da segunda teoria que
o resultado final nos últimos anos, numa desertificação contínua para o
arruamento do Poeta Popular, foi
catastrófico para todos quantos lá fazem pela vida.
Como um mal nunca vem só, nos últimos tempos
esta via passou a ser uma “autoestrada”,
nas palavras de Agostinho Monteiro, comerciante ali implantado há muitas
décadas e a lutar por uma dignificação necessária e legítima e que deveria ser reconhecida
pelas autoridades competentes. Diz Agostinho, “é uma vergonha o que está acontecer! Apesar de ao fundo da rua haver
sinalética a proibir o trânsito, depois das 10 da manhã, isto é uma Scut, estrada
sem custos para o utilizador. Durante todo o dia passam aqui automóveis a
grande velocidade. Sempre que saio da minha loja, para não ser atropelado, sou
obrigado a colocar a cabeça de fora. Alguns comerciantes da rua são os próprios
a prevaricar e outros da Praça do Comércio fazem o mesmo em completo
desrespeito por quem aqui trabalha. Já falei com agentes da Polícia Municipal
(PM) sobre este abuso e aconselharam-me a fazer um abaixo-assinado. Há uns
meses passou aqui o Presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado. Para além
de lhe mostrar o nosso problema e no momento até passar um automóvel, falei com
ele e até agora nada foi feito. Tudo continua na mesma como a lesma! Para que
servem os pinos que custaram tanto dinheiro ao erário público e até foram
colocados na sua anterior governação –por volta do fim do milénio- e estão inativos? Estamos para aqui
abandonados. Ninguém nos liga! É um desânimo o que estão a fazer connosco!”
António Brito, outro reputado comerciante na
Rua Adelino Veiga e que pela sua antiguidade conhece até as pedras da calçada
pelo nome, afina pelo mesmo diapasão: “o
dinheiro que gastaram –cerca de 16 mil contos, hoje 80 mil euros- não valeu nada! Num desprezo total, são os
próprios comerciantes, desta rua e da Praça do Comércio, que fazem tábua rasa
do sinal de trânsito de proibição colocado lá à frente. Estamos para aqui desprezados.
Olhe que até com a falta de luz levamos. Ainda ontem mostrei à minha mulher a
escuridão reinante. Sinto-me a lutar contra o vento. O meu sentimento,
confesso, é de desalento. O que tenho de fazer para ser ouvido? Até já liguei
para a PM por causa de uma viatura que esteve aqui estacionada todo o dia, ninguém
apareceu. Com franqueza, estou tão cansado de tudo isto que até me faltam as
palavras!”
“PEPE RÁPIDO” À SOLTA NA BAIXA
Na segunda-feira, dia 5, pelas 16h30, Adélia
Cardoso, de cerca de setenta anos de idade, descia calmamente as escadas do
Gato, junto ao Largo da Portagem, foi quando um indivíduo, esguio e de pé
ligeiro, por trás lhe arrancou a carteira e se colocou em fuga pela Travessa do
Gato, lateral à Rua Sargento Mor. Segundo testemunhas que presenciaram o roubo,
era um tipo novo –uma senhora espectadora teria mesmo visto as suas feições
porquanto o sujeito esteve parado anteriormente junto a uma montra-, de cerca
de vinte e poucos anos, magro, vestido com calça larga e blusão azul-forte.
Segundo uma testemunha com quem falei, “foi tudo muito rápido. Eu vi-o subtrair a
carteira à senhora e enquanto andei cerca de cinco metros, o ladrão, perseguido
por um rapaz que não conseguiu acompanhar o seu passo, percorreu cerca de
cinquenta e em direção ao Largo do Romal.”
Posteriormente, a carteira com os
documentos seria encontrada na garagem do Hotel Oslo. Foi a gerência deste
estabelecimento hoteleiro que fez a comunicação.
João José Cardoso, filho da
vítima, passado cerca de uma hora, juntamente com a mãe apresentaram queixa na
2ª Esquadra da PSP. São dele estas declarações: “foi um auto perfeito. O agente perguntou se a minha mãe precisava de ir
ao hospital. Ela respondeu que não. Ele tomou nota da ocorrência, na
participação, e mais nada! Foi como se tivéssemos ido a uma repartição pública.
Em juízo de valor, senti que o polícia recebeu a participação como se fosse uma
banalidade. Como se, anteriormente recebesse muitas mais e este caso fosse o
seu diário.”
Este seu desabafo de João Cardoso pode parecer
algo contraproducente mas não é. O indivíduo, que apelido de “Pepe Rápido”, alegadamente tem andado
por aqui, a dar várias palmadas a
particulares e a comerciantes. O método é sempre o mesmo: pega em correria o
que pode e desaparece. Está de ver, portanto, que é um passarão conhecido e que se move muito bem por estas ruelas
estreitas. Embora os prejudicados não apresentem queixa, pelos valores
despicientes em causa, já vários sentiram a sua mão ligeira.
Já há uns anos para cá, tirando o pequeno
tráfico, felizmente a Baixa, de dia e de noite, é segura. Por conseguinte este ladrãozeco esguio e bem-sucedido, para
além de borrar a pintura, parece que
anda a fazer pouco das brigadas à civil da PSP. O que é que se passa?
O QUE SE PODE FAZER COM ISTO? QUE JUSTIÇA É ESTA?
“Maria”, filha única, é uma moçoila linda que ainda não soprou as
quarenta velas. Os seus olhos eloquentes, para onde quer que se fixem,
expressam luz e espiritualidade. Mora numa terra próxima do mar há cerca de uma
dúzia de anos e, depois de um casamento falhado, desde quando se prendeu de
amores pelo seu atual companheiro. Desta paixão nasceram dois rebentos que são
o âmago da sua existência, a projeção de si mesma, um agora com 12 anos e outro
com metade.
Com o passar dos anos Maria depressa se
apercebeu que o reservatório do seu amor tinha um fundo duvidoso. Ora a trocava
por outra, ora o afeto, tão presente nos primeiros anos, desaparecia como nuvem
em quente verão. Para além disso, trabalhar para custear as despesas da casa
era um esforço impossível para a sua débil vontade. Sendo as relações um
universo entrelaçado que só subsiste pelo apoio contínuo, naturalmente que
aquela ligação passou a ser tudo menos de firmamento. E as primeiras cominações
do homem para a mulher, como ervas daninhas a emergirem de um pântano de águas
turvas, começaram a surgir a todo o momento. Da verbalização à prática foi um
pulo e Maria começou a sentir na pele as pancadas que lhe esmagavam o corpo e
dilaceravam a alma. A ameaça de abandonar aquela vida de martírio começou a germinar
na sua cabeça e a tomar forma na sua boca. A resposta do opressor foi afogar-se
em álcool e recorrer a chantagem, na advertência de lhe retirar os filhos. E
Maria foi aguentando aquela tortura física e mental. Mas toda a atrocidade para
quem a recebe tem um limite. Com o tempo, mesmo bebendo diariamente o veneno
que a torna quebradiça, sem nada fazer por isso, a vítima vai fortalecendo,
deixa de sentir a dor, e vai criando uma revolta que a há-de fazer sair do
círculo que a mantém prisioneira.
Sendo a casa de sua propriedade e fruto do
anterior enlace, há cerca de dois meses mudou para outro quarto e passou a
dormir com o filho mais novo. Foi o desencadear de novas ações violentas. Há três
semanas, pouco depois do Natal, a meio da noite e toldado pelo etílico, o
companheiro irrompeu pelo quarto e, à frente do filho mais novo, violou e pela
força obrigou a mulher a manter relações sexuais. Foi o clique que faltava para
acender um rastilho de uma bomba que se adiava em explodir. E Maria foi
apresentar queixa na PSP. O dominador foi contactado e sinalizado pela polícia
e em resposta aumentou a pressão sobre a companheira, retirando-lhe os cartões
de crédito e o telemóvel. Entretanto submeteu a mulher e os filhos a entrar no
automóvel e, sobre ameaça de morte, obrigou-os a acompanharem-no a uma vidente
numa localidade com praia e ali próximo. Em desespero de causa, a “raptada” conseguiu contactar a mãe e
contar-lhe o perigo e a aflição que juntamente com os seus filhos estavam a
correr. A progenitora contactou a PSP e foi montado um cerco na sua vinda. Para
além do inquérito aberto, foi imediatamente aconselhada a sair com os filhos da
casa familiar –lembra-se que a habitação está em seu nome. Enquanto o tirano se
mantém em casa, foram morar para junto de uma família amiga. Durante duas
semanas esta prole desfeita viveu um calvário sem precedentes, sobretudo pela
liberdade de movimentos do déspota que, para além de tentar resgatar os filhos
na escola, continuou a intervalar com a mulher juras de amor e ameaças de
morte. Pergunta-se, como estará a mãe, avó dos miúdos, a viver toda esta
situação? Como estarão as duas crianças a passar por tudo isto?
Esta semana, sobre o âmbito da APAV,
Associação de Apoio à Vítima, secretamente, abandonou a cidade onde viveu os
últimos anos e partiu para local desconhecido para todos e mesmo para a sua
própria mãe. Interroga-se outra vez: perante esta partida como fica a mulher
que pariu esta mártir? Que sentimento de revolta será tomada esta mãe para com este
sistema que pouco faz para neutralizar o dominador e impõe demasiados
sacrifícios a quem apanha por tabela este padecimento? Que justiça é esta? Que
deixa o opressor em liberdade, na casa que não é sua, e penaliza a vítima a transferir-se
de mochila às costas e a desmanchar tudo desde laços familiares até largar o
seu emprego de funcionária pública?
Só para lembrar e segundo o último relatório
do Observatório de Mulheres Assassinadas da União Mulheres Alternativa e
Resposta (UMAR), na última década morreram 398 mulheres vítimas de violência
doméstica. Dizem os relatórios que é causado pelo ciúme e dificuldade em
aceitar a separação, mas também por falta de intervenção imediata por parte das
autoridades.
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