quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...



Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "AUTOMÓVEIS NA FEIRA DE VELHARIAS" e "O OUTONO... E AS NOSSAS VIDAS";
 e na rubrica "OLHAR PARA NORTE... "A ÚLTIMA ODISSEIA DE HOMERO"



AUTOMÓVEIS NA FEIRA DE VELHARIAS

A última Feira de Velharias, a primeira de 2015 -que se realiza sempre ao quarto Sábado de cada mês- primou pela inovação: teve dois automóveis usados no seu recinto e no meio dos espaços cedidos aos vendedores de usados e antigos. Há muito tempo que ando a pregar aos peixes que este certame precisa de uma volta. O aborrecido foi que, apesar de alguns curiosos pretenderem saber o preço das viaturas, ninguém sabia responder, o que, só por isto, somente, constituiu uma violação dos princípios da arte de comprar e vender. Sublinhei “somente” porque, provavelmente, não deixa de ser um gozo dos os proprietários das viaturas para as polícias –Municipal e PSP. Se é certo que mesmo levando em conta os papelinhos no para-brisas e teriam sido multadas, há aqui uma dose de ousadia, em provocação, e uma certa ironia: mostra bem o estado a que a Baixa chegou. Qualquer um estaciona onde bem lhe apetece e pronto! Quem vier a seguir que grame o monstro! Sobretudo a Praça do Comércio e a Rua Adelino Veiga são mártires, alegadamente por implicação dos comerciantes instalados. Não deixa de ser curioso que no “ancien regime”, como quem diz no mandato do anterior presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, alguns membros da, na altura, então oposição, do Partido Socialista (PS), eram os primeiros a lançar cobras e lagartos contra a “incúria” da Polícia Municipal. Agora, para além do PS estar à frente do executivo e alguns destes membros até estarem dentro da autarquia a ocupar lugares de relevo, não se vê um movimento de um dedo para resolver esta questão. Este pelouro tem uma vereadora, não tem? Porque será que não faz nada? Não terá, no mínimo, uma palavra a dizer?
Ainda esta semana, no jornal O Despertar, dois comerciantes da Rua Adelino Veiga apontam o dedo ao desleixo rodoviário, no deixa-andar, que se passa naquela artéria de trânsito diurno proibido. Há qualquer coisa que não bate certo! Ou antes pelo contrário. Já se sabia que, pessoas como eu, só refilam contra o poder por não fazerem parte desse mesmo domínio. Portanto, aos senhores da Praça 8 de Maio, façam um favor aos leitores, que fazem o obséquio de seguir os disparates que escrevo, não me ofereçam um lugar.


O OUTONO... E AS NOSSAS VIDAS

Depois de dias longos, plenos de luz e cor, prenhes de temperaturas quentes e vitalidade de mais um verão, que, pelo bem ou pelo mal, por uma recordação qualquer, ficou preso na nossa memória, pé-ante-pé e com sapatinhos de algodão, eis que devagarinho vai conquistando o seu território. Começa por cortar no espaço dos dias, tornando-os mais pequenos e mostrando que tudo o que é longo, inevitavelmente, se tornará pequeno. Depois, vai impondo um progressivo calor tépido e mais frio, como a sensibilizar-nos para a necessidade de tomar atenção de que os calores não são eternos, e a seguir a um período “caliente”, inexoravelmente, virá um frio de rachar.
Aí está o Outono. Depois de um revestimento de verde, como plumas a cobrir uma ave exótica, as árvores do nosso encantamento vão ficar despidas. Iremos, quase sem querer, numa qualquer avenida, chocar com uma folha amarelecida que, antes de outras que se lhes irão seguir, tendo-se desprendido de um qualquer ramo, de um qualquer plátano, esvoaça ao vento, ziguezagueando, por entre transeuntes, uns mais apressados outro nem tanto, que irão pontapeá-la ou pura e simplesmente ignorá-la, e nós, feitos poetas de ocasião, segui-la-emos. E nela, prendendo o nosso olhar entre o subir e o descer, ao sabor do vento e de um tempo imprecisos e ocasionais, gostávamos de nos deixar ir.
As andorinhas, feitas viajantes pela força da natureza, começarão a fazer as “malas” e, deixando desgostos ou frustrados desenganos, abandonarão os seus beirais que, durante escassos meses, foram os seus lares e ali assistiram ao nascimento dos seus filhos. Nestes ninhos deixarão mil recordações mas mesmo assim, aceitando esta partida como natural e símbolo de partilha, irão levar aos povos do norte de África o mesmo chilrear e a mesma alegria, viva e sonora, que nos presentearam os dias. Para a próxima Primavera, sem pungentes lamentos, num eterno retorno, aí estarão elas, novamente, pujantes de força e refarão os berços para os seus novos filhos e comporão as suas existências.
Assim é a nossa vida. Tão cheia de calor, como um verão solarengo, inevitavelmente, teremos períodos frios mas, como na natureza, em vai e vem, as temperaturas quentes retornarão. E, se por motivos imponderáveis, nos tornámos andorinhas de trouxa às costas, aceitemos com a mesma naturalidade com que aqueles passarinhos acolhem o seu destino fatalista. Não tenhamos medo de voar em frente. Quem sabe se no norte não estará um outro futuro sorridente. Porque, avessos ao risco e acomodados, haveremos de ter medo do desconhecido e de abandonar o nosso beiral? Serão apenas as recordações que nos prendem? Valerá a pena continuarmos no aconchego cómodo do ninho, mesmo não nos sentindo amados e pouco reconhecidos, só porque tememos os ventos estranhos do incerto? Porque não voarmos até ao norte? Se não nos dermos bem, com a mesma certeza de que amanhã será outro dia e no próximo ano haverá outra primavera, como as andorinhas a gozar o prazer da mudança, começaremos de novo, de palha-em-palha, a construir um outro lar, uma outra casinha.
A natureza é tão pródiga nos ensinamentos. E nós, como folha solta que somos, a esvoaçar ao vento e sem saber onde vai cair e que quando tombar vai desaparecer em pó, continuamos a teimar que controlamos o destino e somos donos de tudo e de todos. Esquecemos que somos somente a possível soma entre a nossa determinação e outras vontades indeterminadas. Como “invisuais” que vêem mas não querem ver… não vemos! O resultado desta cegueira é uma tragédia para a humanidade.


A ÚLTIMA AVENTURA DA ODISSEIA DE HOMERO

Na penúltima segunda-feira, repentinamente, Homero Cristina Serra sucumbiu. Num labor simples agrícola, a podar videiras, uma intensa e derradeira dor no peito conseguiu o que nem uma mina pessoal, na guerra colonial e ao fazer amputar-lhe uma perna, almejou: derrubar o homem de vontade férrea, humilde, íntegro e amigo de tanta gente.
O Homero foi presidente da Junta de Freguesia de Luso durante 24 anos, seis mandatos consecutivos a representar o Partido Socialista, e, mais que certo, afastado pela impossibilidade legal de se poder recandidatar.
Conheci o “Mero”, como era reconhecido por todos, desde criança. Ambos nascemos na mesma aldeia, a sua amada terra de Várzeas. O Serra era um varziense de gema. Tema de algumas conversas passadas entre nós, para seu profundo desgosto, nem sempre foi compreendido pelos seus conterrâneos.
Pedi algumas pessoas que de perto privaram e acompanharam o seu percurso pessoal e político que me dessem o seu testemunho acerca do homem que sempre admirei. Um deles é o Luís Fernandes (Peças), natural de Várzeas e a viver no Luso há muitos anos. “O “Mero” era um tipo de pessoa capaz de dar a camisa para o próximo, enfatiza. Qualquer freguês, independentemente da cor política, sendo rico, remediado ou pobre, que lhe pedisse um favor, mesmo quase impossível, ele fazia tudo para acorrer ao solicitado. Era um edil amado por todos. Ele era aquela pessoa que estava a liderar a Junta de Freguesia para ajudar o próximo. Era o modelo do que entendemos como servir a causa pública. Se não estivesse limitado pela lei e se voltasse a candidatar-se ganhava outra vez. Quando havia uma obra na freguesia ele estava lá. Acompanhava e trabalhava ao lado dos operários. Era um homem do povo, simples e sensível aos problemas alheios. Ele não distinguia ninguém. Eu lidei muito com ele. Os varzienses nunca entenderam a razão da nossa aldeia ficar para última na requalificação. Não souberam compreender que ele queria fazer da nossa terra a melhor de todas mas, para isso, era preciso esperar pela aprovação dos projetos candidatos a fundos comunitários. O “Mero” dizia-me muitas vezes: “Várzeas vai ser diferente. Tu vais ver!”. E foi mesmo! Está lá uma obra digna de levar o seu nome.”
Sílvio Gomes Fernandes, outro amigo de Homero Serra e que o conheceu bem, diz o seguinte: “Foi a figura com mais destaque nesta terra, dos burriqueiros –do Luso-, depois do 25 de Abril. Foi o melhor presidente da Junta de Freguesia de sempre. Dificilmente, de quem vier a seguir, alguém ocupará o seu lugar com o mesmo espírito de missão. Era um homem do povo. Muito dado e que vivia para resolver os problemas dos outros. Era muito bem recebido em todos os lugares da freguesia. Que eu conheça, não tinha inimigos pessoais. A haver seria a nível político. Tinha uma frase muito engraçada para os designar: chamava-lhes “caceteiros”.
Outro amigo que o conheceu bem foi o José Duarte Moura. Ao meu pedido, respondeu assim: “Não vai haver outro presidente da Junta como ele. Naturalmente que já foi substituído e outros virão mas têm outros interesses calculistas, pessoais e políticos. O “Mero” era diferente. Era a simplicidade em pessoa. Estava ali para ajudar e nunca para medir as pessoas pelo que representavam na coletividade. Não discriminava quem quer que fosse. Era amigo até do inimigo. Vou sentir muita saudade dele e acredito que muitos mais sentirão o mesmo. Foi num choque muito grande!”
Nesta homenagem singela ao homem simples, em meu nome, em nome de milhares de fregueses, constituídos por lusenses, varzienses e povoações limítrofes, que acredito sentirem o mesmo, para a família enlutada um abraço de solidariedade nesta hora de tão grande sofrimento. Para o “Mero”, em sua memória, nesta despedida sem avisar, uma grande salva de palmas!






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