quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...



Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "CONVERSAS À MESA: ALEXANDRE, O GRANDE DA IMAGEM"; e na rubrica "OLHAR PARA SUL..." leia a crónica "O ATENTADO"


CONVERSAS À MESA: ALEXANDRE, O GRANDE DA IMAGEM

Depois de muita insistência -que diga-se, a propósito, foi bastante difícil-, consegui convencer o meu amigo Alexandre Ramires para nos encontrarmos e trocarmos umas impressões para escrever um pouco da sua vida. Conheço este professor, escritor, investigador, intelectual, há cerca de uma vintena de anos. No entanto, curiosamente, não me é fácil falar dele. É o arquétipo da discrição. No seu falar suave e doce parece estar constantemente a pedir licença para intervir e quando expõe a sua teoria pausadamente ficamos deliciados a ouvir e presos na sua dissertação e elevado saber.
Fomos então almoçar ao Restaurante “Giro”, na Rua das Azeiteiras. É uma casa acolhedora que, pela elevada qualidade da sua cozinha tradicional e prática, aconselho vivamente. Recomendado por mim, porque gosto imenso, aceitou comer o prego no prato. Escrito assim, até parece que é uma refeição ligeira. Nada disso! É o melhor prego no prato que conheço na cidade, a fazer lembrar o célebre combinado número 5 do desaparecido Café Mandarim, por volta dos anos de 1970.
Vou começar por apresentar o meu convidado. O Alexandre Manuel Severino Afonso Ramires nasceu em Olhão em 1955. Desde muito cedo começou a manifestar interesse pela imagem, começou na escola primária, através da banda desenhada, e pela educação. Seguiu-se o contacto com o cinema, por volta dos anos setenta e o conhecimento com o mestre das recolhas etnográficas, sobre a música tradicional portuguesa, Michel Giacometti. Ganhou gosto a filmar com película super-8 e antes desta invenção da Kodak desaparecer e dar lugar ao vídeo. É atualmente professor de física na Escola Secundária da Infanta D. Maria, em Coimbra. Foi fundador e coordenador da Imagoteca, da Câmara Municipal de Coimbra, entre 1996 e 2000. Já escreveu tantos livros que nem lembra ao certo quantos –ainda neste Sábado, 10, lançou na Livraria Miguel Carvalho, na Rua Adro de Baixo, o último do prelo, desta vez em inglês: “The voyage of the Daguerreotype”. Para além de ministrar aulas,  debruça-se em áreas de investigação como a História, Técnica, Autoria e Linguagem da Imagem Fotográfica e a História da Fotografia, sobretudo, nos seus primeiros cem anos, e a partir de 1842, logo que teria aparecido em Coimbra. “A Lusa Atenas sempre teve uma ligação muito forte com a fotografia”, enfatiza. Logo em 1864 instalou-se na cidade um grande precursor da imagem a preto e branco: Arséne Hayes. Durante a sua última década de vida –morreu em 1874- assumiu-se como republicano e morreu aqui como republicano e socialista. Então aconteceu um facto muito curioso: as autoridades eclesiásticas locais não permitiram que o féretro entrasse no cemitério e, por isso mesmo, foi enterrado fora do denominado campo-santo. A consequência disto foi a alteração da lei e o funeral de Arséne Hayes acabou por constituir o primeiro enterro civil em Portugal”.
Embora a fotografia que conhecemos seja um resultado contínuo, cuja produção de imagens através de processos químicos teria começado com Aristóteles, na Grécia Antiga, a primeira que se conhece no mundo teria sido conseguida em 1826, por Joseph Niépce. Conjuntamente com Louis-Jacques Daguerre, em 1829, iniciaram os seus estudos e cerca de uma década depois foi lançado o processo daguerreótipo.
Inevitavelmente a conversa teria de incidir na paixão da sua vida: a investigação a partir das primeiras imagens fotográficas. E naturalmente que se aflorou algumas exposições que tiveram a sua orientação: “Passado ao Espelho”, que decorreu em 2006 no Museu da Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, e “Ver A República”, no Centenário, em 2010, e que foi “uma exposição sobre o papel da imagem na construção do ideário republicano e na luta política nos anos que antecederam e se seguiram à implantação”.
O tempo voa e chegámos à sobremesa, no Restaurante “Giro”. Optámos pelo doce da casa –um espetáculo! E a seguir o café. A conta, que desta vez ficou por minha conta, ficou em 25 euros. Como diria o Ramires acerca da fotografia: “O mundo da imagem é uma porta para todas as narrativas!”


O ATENTADO

Depois do atentado terrorista em Paris, que anda nas bocas do mundo, no que toca aos muçulmanos, devemos pensar que cada vez mais se tentará confundir um por todos e todos por um. Porém, em jeito de salvaguarda, poderia ser escrito assim numa qualquer grande instituição: Não estão cá todos os que o são, como nem todos os que cá estão o são.
A Europa está de luto! Morreram pelo menos 12 pessoas e mais de 20 ficaram feridas. Infelizmente, não é a primeira vez! Em 11 de Março de 2004, na Estação ferroviária da Atocha, em Madrid, num atentado bombista, morreram 191 pessoas e mais de 1700 ficaram feridas. Também em Londres, no ano seguinte, no que ficou conhecido por “Atentado ao Metro”, em 7 de Julho de 2005, ocorreram mais de meia centena de mortes e cerca de 700 feridos.
Sem de modo algum querer legitimar esta terrível mortandade, no meu entender, sobretudo agora, sobre estas mortes em Paris, temos de ver este eclodir de violência a dois níveis. Num primeiro, poderemos interrogar: é legítimo um órgão de comunicação social ridicularizar a fé e provocar a ira de um grupo religioso em nome da liberdade de expressão? Se sim, esta liberdade, que passa a ser absolutista e não relativa, é responsável pelas mortes e, com o Estado a assumir as suas consequências, estas estão plenamente justificadas. Se não, o jornal ou outros órgãos de imprensa no futuro terão de responder pelo mal causado a inocentes e terão de sentar-se ao lado dos terroristas na justiça. Porque há uma questão óbvia: há antecedentes e já todos vimos que estamos a lidar com fanáticos religiosos. Ou seja, quem publica algo que sabe que vai desencadear uma provável acção directa, em nome do bom senso, deve medir a sua conduta. Por outras palavras, se eu tiver um vizinho marado e que explode de irritação quando lhe atiro umas frases manda a prudência que tenha cuidado com ele. Se tenho conhecimento do que pode estalar a violência em caso de incitação é evidente que, mesmo sabendo que a lei me possa proteger a posteriori, para além de ficar por minha conta e risco sou também corresponsável pela loucura intempestiva do meu confinante. Quero dizer, portanto, que em nome da minha determinação estou a absolutizar, a radicalizar, a liberdade, menorizando a do outro. Porque, notoriamente havendo dois direitos em conflito, ele, em nome da sua autonomia, tem o seu (direito) de não ser ofendido –sobretudo quando o ultraje é do conhecimento público. E neste caso do jornal francês, para acentuar, já em 2011 teve uma bomba a rebentar na sua redação depois da publicação de um cartoon de Maomé.
Argumentar para quem desconhece outros argumentos e está fechado à compreensão humanista é tempo perdido. Quero dizer que arguir na condenação de que é extremista quem em nome de Deus mata é perder tempo. O problema tem de ser encarado não no efeito mas na génese, na história milenar. Ora quem deve fazer isto mesmo é a sociedade que se arvora em esclarecida e desenvolvida.
Depois há outras questões que se levantam: tal como fizeram os Estados Unidos, já há vários anos que é preciso rever as políticas de imigração na Europa. Porém, sem o radicalismo que se adivinha. Como é de supor, agora, em todos os países do velho Continente, a direita vai tentar capitalizar este ato tresloucado e, justificando-se neste atentado, vai intensificar a vigilância e coartar cada vez mais os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos autóctones e estrangeiros. Por sua vez a esquerda, sempre tão dogmática, defensora dos oprimidos e cega à realidade, vai acerrimamente pedir defesa contra o extremismo e a favor dos que vêm de fora. A questão é saber se, do que vai restar desta dialética de interesses ideológicos, sairá algo de fraterno e proveitoso para as nações europeias e muçulmanas.
Mais ainda, se por um lado nunca se evitará totalmente a guerrilha terrorista urbana, enquanto meio de revolta –já que cada um de nós pode ser um perigo em potência. Por outro, creio, no caso da Europa, mesmo depois do golpe mortal em Espanha, a Comunidade Europeia enquanto responsável por 500 milhões de almas, como se nada acontecesse, continuou sem prevenção nas políticas migratórias.
Uma coisa é certa: cada vez mais vamos continuar a assistir ao sacrifício do que resta da liberdade, que tanto custou a conquistar, e escolher a segurança –que aliás são medidas que já conhecemos bem. Os atentados das Torres Gémeas, em 11 de Setembro de 2001, vieram validar todo o securatismo no mundo.
Como se adivinha, como sempre e mais uma vez a quente, vai haver exageros. Era bom que, acima de tudo, imperasse o bom senso. Sem deixarmos pisar a nossa cultura, num equilíbrio necessário e sem exageros, deveremos respeitar os costumes de outros povos e, intrinsecamente, estar abertos a quem vier por bem. Nada pode justificar a morte de cidadãos inocentes. Para quem mata com ferros, com ferros deve morrer.

 


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