Os mais velhos certamente se lembrarão que a
Rua Adelino Veiga, até há cerca de uma vintena de anos, foi a mais importante
artéria comercial da Baixa. Progressivamente foi decaindo, decaindo até a um
estertor incomodativo. Os motivos apontados para este definhamento são vários. Uns
apontam que foi o encerramento de grandes casas comerciais como a Fetal, o Saul
Morgado e as Modas Veiga –este que se transferiu para a Rua Eduardo Coelho. Outros,
com mais consistência, repetem que tudo teria começado com a abertura da saída
lateral da Estação Nova para a Rua António Granjo e, ao mesmo tempo, a mudança
das paragens de autocarro do Largo das Ameias para a mesma rua do Mini Preço. Sem colocar de lado todas as
premissas, invocam os donos da segunda teoria que o resultado final nos últimos
anos, numa desertificação contínua para o arruamento do Poeta Popular, foi
catastrófico para todos quantos lá fazem pela vida.
Como um mal nunca vem só, nos últimos tempos
esta via passou a ser uma “auto-estrada”,
nas palavras de Agostinho Monteiro, comerciante ali implantado há muitas
décadas e a lutar por uma dignificação necessária e legítima e que deveria ser reconhecida
pelas autoridades competentes. Diz Agostinho, “é uma vergonha o que está acontecer! Apesar de ao fundo da rua haver
sinalética a proibir o trânsito depois das 10 da manhã, isto é uma Scut, estrada
sem custos para o utilizador. Durante
todo o dia passam aqui automóveis a grande velocidade. Sempre que saio da minha
loja, para não ser atropelado, sou obrigado a colocar a cabeça de fora. Alguns
comerciantes da rua são os próprios a prevaricar e outros da Praça do Comércio
fazem o mesmo em completo desrespeito por quem aqui trabalha. Já falei com
agentes da Polícia Municipal (PM) sobre este abuso e aconselharam-me a fazer um
abaixo-assinado. Há uns meses passou aqui o Presidente da Câmara Municipal,
Manuel Machado. Para além de lhe mostrar o nosso problema e no momento até
passar um automóvel, falei com ele e até agora nada foi feito. Tudo continua na
mesma como a lesma! Para que servem os pinos que custaram tanto dinheiro ao
erário público e até foram colocados na sua anterior governação –por volta
do fim do milénio- e estão inactivos?
Estamos para aqui abandonados. Ninguém nos liga! É um desânimo o que estão a fazer
connosco!”
António Brito, outro reputado comerciante na
Rua Adelino Veiga e que pela sua antiguidade conhece até as pedras da calçada
pelo nome, afina pelo mesmo diapasão: “o
dinheiro que gastaram –cerca de 16 mil contos, hoje 80 mil euros- não valeu nada! Num desprezo total, são os
próprios comerciantes, desta rua e da Praça do Comércio, que fazem tábua rasa
do sinal de trânsito de proibição colocado lá à frente. Estamos para aqui
abandonados. Olhe que até com a falta de luz levamos. Ainda ontem mostrei à
minha mulher a escuridão reinante. Sinto-me a lutar contra o vento. O meu
sentimento, confesso, é de desalento. O que tenho de fazer para ser ouvido? Até
já liguei para a PM por causa de uma viatura que esteve aqui estacionada todo o
dia, ninguém apareceu. Com franqueza, estou tão cansado de tudo isto que até me
faltam as palavras!”
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