Confesso, fico sempre irritado com estudos
como este publicado no jornal Público. No caso, “Um estudo da Universidade de Coimbra conclui que se "apagou a
História" da fachada de cerca de um quarto dos edifícios da Alta de
Coimbra na reabilitação feita nos últimos 15 anos.”
É certo que valem o que valem mas vão sempre
influenciar quem decide. Porque a questão é: num tempo em que não há dinheiro
para restaurar seja o que for poderemos compatibilizar a arquitectura antiga,
muito mais cara, com a identidade histórica? Os teóricos vão dizer que sim! Em
analogia, muitos especialistas de nutrição também afirmam que num lar, com
quatro agregados, onde entram 400 euros também se come mal. Pois come! Mas, não
havendo dinheiro, como se pode fazer uma alimentação equilibrada e racional?
Tenho sempre muita dificuldade em compreender
certos estudos como este, sobretudo quando temos à nossa volta prédios e mais
prédios a cair. Devemos aumentar a dificuldade do restauro? Ou, pelo contrário,
tendo em conta o estado de necessidade,
deveremos aligeirar os procedimentos e ir ao encontro do maior ganho possível?
Porque, mais uma vez, estamos entre o escolher os dois males: o menor e o
maior. Ora, vendo este caso, qual é o mal menor? Continuar a criar dificuldades
a quem ousa restaurar um edifício nestas partes velhas? Exigindo cada vez mais
obrigações sem dar absolutamente nada? A preservação histórica caberá apenas
aos particulares? E o Estado? Cabe-lhe somente legislar e cobrar impostos sobre
o património? Tanto quanto sei, já há proprietários nestas áreas de antanho a
quererem oferecer prédios e, pelo que li, há muitos casos que nem assim, de
borla, são aceites.
Com todo o respeito por este trabalho
académico, tenho horror a puristas. A história ensina-nos que nas virtudes públicas vícios privados. Sem
colocar este estudo de fora, porque tem uma importância relativa, sobretudo na
habitação, em vez de se procurar ser escravo do passado, a meu ver, dever-se-ia
criar mais condições de simplificação na revitalização de edifícios em zonas
históricas. As últimas décadas mostram bem no que isto deu –com várias
entidades a opinar, contrariando-se até, e a dificultar até para mexer numa
simples telha. Os exemplos estão à frente de todos nós. Não é preciso ser
especialista para saber que quanto mais se apertar a rede menos “loucos” se
disporão a atravessá-la e, no final, os estragos para a sociedade são incomensuráveis.
Sem perder um pouco da nossa identidade
histórica, sobretudo num sector que cai aos bocados na monumentalidade
particular, devemos ter o bom-senso de não sermos prisioneiros de um tempo que
o foi simplesmente porque não havia os materiais de substituição que existem
hoje. Normalmente quem mais fala de teses e anti-teses sobre estas zonas de
antanho não mora cá nem sabe nada do que por cá se passa. Se seguíssemos as
suas opiniões estas casas antigas ainda eram obrigadas a manter pias de pedra
em vez de sanitas. É com base neste radicalismo que continuamos a ser obrigados
a ter janelas de madeira, que para além de não permitirem vidros duplos,
deixando passar o frio, e se deterioram em meia dúzia de anos, quando há
materiais iguais na conformidade que duram uma vida.
Temos de escolher entre ter moradores, felizes
com todas as comodidades, harmonizando o custo/proveito no fim que se deseja, ou
continuamos a perseguir o passado, com absurdos, e, neste caso, termos estas
zonas velhas esboroadas e completamente vazias de residentes. É que é preciso
não esquecer que os custeios da revitalização estão na razão directa da sua
desertificação habitacional.
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