Há cerca de oito meses o Daniel
Tibério veio ter comigo e disse: “se algo me acontecer proximamente, ajuda a
orientar a minha família. Não tenho mais ninguém a quem recorrer. Só tu podes
valer à minha Helena e ao meu filho!”. Quase de sorriso nos lábios, o meu
melhor amigo confessava-me que tinha um tumor na cabeça, um cancro, como vulgarmente
se diz. E para piorar, maligno, em estado avançado e sem possibilidade de
intervenção cirúrgica. No último domingo, de manhã, o meu amigo de sempre foi encontrado
sem vida, em frente ao seu estabelecimento: o Café Trianon.
Embora tudo leve a crer que foi
suicídio –tinha um revólver na mão direita-, tenho as minhas reticências. Não
por não crer que foi de facto, sei que foi mesmo, mas porque me nego a
acreditar. Não consigo compreender. Há cerca de 15 dias o Daniel esteve a falar
comigo e nada fazia adivinhar este final trágico. Mais ainda: se o meu melhor
amigo fazia tensões de acabar com a vida, e sabendo que eu seria o amparo da
família depois do seu desaparecimento, sobretudo no seu estabelecimento, não
seria lógico colocar-me ao corrente de assuntos do seu negócio? Estranho, digo
eu que não percebo nada de comportamentos humanos e cada vez me sinto mais perdido
no meio dos homens. O que sei é que vou sentir muito a sua falta. Nunca mais
terei um amigo assim, um chegado que confiava em mim como já não há hoje igual.
A Praça Machado de Assis, onde se situa o Café Trianon, depois da sua partida
repentina, nunca mais voltará a ser a mesma. Quanto a mim, tal como lhe prometi
em vida, tudo farei para que nada falte aos seus mais próximos, ao seu filho, e
sobretudo, ao seu grande amor da sua existência: a sua Helena. “The show must
is go one”, o espectáculo tem de continuar. Nesta roda raiada, que é a
existência, vão caindo raios e sendo substituídos por outros até ao crepúsculo da
vida de cada um de nós. Assim será eternamente. Até sempre, Daniel! Vais
fazer-me falta, carago. Ao menos
podias ter-te despedido de mim. Pronto!, estás perdoado. Descansa em paz, meu
amigo!
5 comentários:
Lembro-me de ter lido o que aqui deixou sobre o desabafo do Daniel e hoje li a notícia no Diário de Coimbra.
Associei e agora confirmei.
A vida por vezes é madrasta e em algumas ocasiões vai-nos levando "partes" de nós.
Aquele abraço!!!
Muita força, para si como apoio amigo, e para a família do seu amigo.
Obrigado, João Paulo.
Um grande abraço.
Obrigada, Sónia. Um grande abraço.
Sentidos pêsames.
O que surge agora dizer-lhe e parafraseando Charles Chaplin: "Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso."
Cumprimentos.
Fátima Ferreira
in:
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