sábado, 23 de fevereiro de 2013

A ÁGUA, O VINHO E OS DIREITOS HUMANOS

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


 POR JOSÉ XAVIER NUNES

 Gosto muito de reticenciar os meus textos para deixar sempre uma margem de manobra para algum recalcitrante que me queira vir chatear o juízo. É normal! Ou não devia ser? É suposto as pessoas que vivem em regimes ditos democráticos e livres habituarem-se a ouvir o que gostam e o que não gostam. Parece que não é o caso cá na aldeia (global)... Dizem alguns para irem fazendo dos outros simples aldeões.
Isto vem a propósito da água e do vinho. Ou não vem?! Seja como for cá vai. O acesso água é um Direito Humano! Por muito que custe a quem explora um bem que é de todos, a água que eu bebo, nunca deveria ter o dever de a pagar. Por outro lado se me quiser emborrachar acho bem que tenha de pagar, mas neste caso muito bem... Mas mesmo muito bem! O ridículo é que por vezes o vinho é mais barato que a água.
O que se diz na Carta dos Direitos Humanos pouco mais é do que se escreve nos Dez Mandamentos. Custa ouvir isto? Pois também me custa pagar a água de que necessito para beber e cozinhar... sabendo que é um Direito que me assiste enquanto habitante deste planeta. Se quisesse depois encher a piscina para ensopar os tomates, então que pagasse... mas pagasse bem mesmo! Pelos vistos não é bem assim. Enquanto uma parte maior da Humanidade sofre os horrores da sede, aquelas sempiternas minorias alcandoradas a deuses enchem piscinas e regam jardins. Muitas das vezes com as mais destacadas plantas de sítios longínquos que nem chegam a perceber na sua curta vida o que por ali fazem. Talvez seja o nosso defeito de não percebermos patavina de plantas, animais e outras coisas da natureza... Até da nossa!
Que tal a constituição de uma carta dos Direitos das Plantas? É uma ideia maluca? Ainda bem! Sempre foram os loucos que fizeram avançar o mundo. O primeiro maluco que pôs a mão no fogo queimou-se... Ainda alguém se lembra disto? Pois é, já foi há muito tempo e a nossa memória é curta... até para os Direitos Humanos, quanto mais para os Dez Mandamentos!!
Esses artistas da globalização que revejam lá muito bem os Direitos Humanos, com os arautos do costume à cabeça, porque a água é de todos e ninguém pode andar a lucrar com a minha sede e a minha necessidade de cozinhar. Acho muito bem que o taberneiro enriqueça com as bebedeiras dos outros, o Estado gaste milhões em medicamentos para curar cirroses, que a ciência progrida no fabrico de fígados artificiais, ou que os mais mal afamados os fritem como iscas. Mas, amigos da onça (gobalizadores) a água é minha.
Claro que não perceberam nada do que eu disse... É normal, porque saber viver em liberdade não é ir bombardear países de outras latitudes para salvar a nossa; é ouvir, quer se goste ou não, o que têm para dizer os que vivem nas nossas latitudes.
E pensar é uma latitude...

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