(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Quanto mais pobreza houver menos
se desfruta a riqueza. Ser-se rico e estar rodeado de pobres é um martírio só
suportável por mentes obscuras e sadomasoquistas, sem outro alcance além da
ponta do seu nariz. A pobreza não exalta a riqueza, enxovalha-a. Fá-la parecer
aos outros uma doença furunculosa. Os seus sinais de ostentação são como
verrugas no espírito dos pobres que ensombram até o sol mais radioso. Gozar a
riqueza em locais altos e inacessíveis aos demais mortais é um assombro à alma
de um rico. Terá sempre por perto os fantasmas da fome, material ou espiritual,
deambulando pelos seus jardins. Dormirá com soporíferos de variada ordem porque
o seu espírito não tem descanso atormentado que está pelos gritos silenciosos
de quem mais não tem com que viver senão a esperança do dia de amanhã. Chafurdar
na riqueza afastado da pobreza é um acto desumano sem esperança. Tanto se morre
por ser rico como por ser pobre, mas o rico requer mais pompa na hora da
circunstância... como se tal coisa lhe valesse além das fronteiras da morte e
do esquecimento. Nenhum rico ficou para a História pela sua riqueza, alguns
ficaram pelos seus actos. É tão inútil manter um povo de pobres, como
gozar uma riqueza afrontada por uma maldição. Ninguém lucra com um estado
destas coisas, sendo até a riqueza sombria e sem glória. O pobre resigna-se e
ora, o rico exalta-se e ninguém o ouve. Surgem então vindos de antanho os espectros de má memória e as maldições cíclicas que se abatem sobre o ser
humano como uma fatalidade. Que utilidade terá um exército de pobres?
Descalços e vazios, nem vislumbram o inimigo. Vai o rico obrigá-los a combater?
Quem se sente humilhado rumina vinganças e não tem tempo para obras poéticas. Num
vão esforço poderá sair à rua a reclamar a sua voz, mas depressa regressa
à sua pobreza, como o lobo ao seu covil. É de uma inutilidade atroz
perpetuar a pobreza. Daqui ninguém sai vivo... e muito menos a lucrar!
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