quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto ""DIÁLOGO COM OS CIDADÃOS"?", deixo também as crónicas "PERDIDOS"; "ESTA CIDADE..."; "O MEU MELHOR AMIGO MORREU"; e "REFLEXÃO: LIVRAI-NOS SENHOR DO VINHO"



“DIÁLOGO COM OS CIDADÃOS”?

 Passava cerca de um quarto de hora depois das nove, da última sexta-feira, quando transpus a porta do hall de entrada que dá acesso à Sala dos Capelos, da Universidade de Coimbra. A azáfama era enorme com muitas pessoas, pela fisionomia presumo que estrangeiras, a acotovelar-se para aceder ao grande salão de cerimónias. Pelo ambiente formal, presumia-se a receção a uma grande celebridade. Talvez um alto dignitário da Igreja, quiçá um grande chefe de estado. Pelo anunciado na imprensa e pelos convites formulados, sabia-se quem era a visita célebre: Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia, Comissária Europeia da Justiça, Direitos Fundamentais e de Cidadania.
Atrás de uma enorme secretária, duas moças bonitas, bem maquilhadas e vestidas de fato a rigor, faziam a triagem de quem entrava para o recinto que foi palco das Cortes de Coimbra em 1385 e aclamou D. João I de Portugal. Enquanto aguardava a vez, de soslaio, mirava os fatos de bom corte, quem sabe Armani, e comparava com a minha indumentária simples. Chegou a minha vez. “O seu nome, por favor? Inscreveu-se pela Internet?” –interrogou-me a bela mulher sem me olhar nos olhos e puxando de uma listagem de nomes. Riscou o meu apelido no papel e entregou-me um saco de asas, resinado de cor branca, com uma tarja cor de laranja de um lado e, junto ao logótipo europeu de fundo azul e doze estrelas, onde se poderia ler “Tem a ver com a Europa; Tem a ver CONSIGO. Participe no debate. Ano Europeu dos Cidadãos 2013 www.europa.eu/citizens-2013”. No reverso do saco, em letras gordinhas, “Diálogo com os Cidadãos – Coimbra, 22 de fevereiro de 2013”. Dentro da sacola, um caderno de apontamentos de argolas, com as mesmas inscrições repetidas, uma esferográfica, uma pen de computador, e um livro emitido pela Comissão Europeia, com o título “Mais Cidadão” onde ao longo de 27 páginas se explicava como “ser cidadão” deste velho continente e novo agrupamento de estados geminados.
Na entrada da Sala dos Capelos mais uma bela mulher me interpelou sem olhar duas vezes para mim e informando-me que, como estava inscrito, o meu lugar era à frente, na plateia. Transpus a porta do opulento e magnífico compartimento, ainda meio vazio mas pleno de câmaras de filmar, em direção a uma das filas primeiras e acomodei-me junto a um amigo que encontrei por acaso. À minha frente, num pequeno anfiteatro estavam duas cadeiras, uma vazia, certamente à espera da convidada, e outra ocupada com uma “boneca”, que me pareceu humana e reconhecer da televisão. Alta, corpo escultural, rosto de cera, e com olhar fixo e frio no grande portal que, dentro de alguns minutos, seria atravessado por Viviane Reding -rainha de Bruxelas, considerando Durão Barroso, o presidente, o rei.
Todos os bancos da plateia e alguns cadeirões do balcão foram sendo ocupados e bateram as 10 badaladas na velha cabra. Naquele cenário de filme holliwoodesco, a me fazer lembrar o filme Cleópatra, a todo o momento, saídas do nada, eu esperava ver aparecer longas trombetas douradas a debitarem som para anunciar a iminente entrada de Elizabeth Taylor, com toda a sua imponente beleza e majestática pose em princípios da década de 1970. A boneca de porcelana, como vigia de torre de menagem, continuava de perna cruzada, de atalaia, e só tinha olhos para a porta grande. Bateram as dez badaladas na velha torre e finalmente mostrou ter vida, levantando-se.



E ENTRA A GRANDE DIVA

 Sem música, mas em passo solene, à frente de um pequeno séquito, entrou a nossa futura presidente da Comissão Europeia –se Deus Nosso Senhor lhe fizer a vontade, porque penso que este é o desejo maior que a senhora mais aspira. Como a generosidade do Pai Nosso é grande, nunca se sabe. O cortejo precedente da eleita de todos os olhares era constituído pelo Magnífico Reitor, João Gabriel Silva, Vital Moreira, constitucionalista, Mário Ruivo, deputado no Parlamento, Manuel Porto, presidente da Assembleia Municipal, um deputado luso-luxemburguês e outro acompanhante que não reconheci.
A boneca de cera deu as boas vindas a Viviane Reding, que por escassos momentos se sentou, e os restantes seguidores tomaram os seus lugares à sua volta. Como num fórum romano, o reitor ocupou o cadeirão principal do imperador. Coube-lhe o primeiro discurso, curto e com alguns atropelos à língua portuguesa, mas que ninguém notou, porque, incluindo os jornalistas, só estavam presos na representante europeia e não viam mais nada a não ser o supérfluo, os dislates, os disparates e o que menos importância tem para aos cidadãos. Como já vem sendo hábito, na tradição ritual destas festas na Universidade, no país, o que importa mesmo é a forma, cerimoniosa de receber, o fazer de conta, a postura, a prestação de vassalagem a quem nos atropela e ajuda a mandar para as catacumbas da perdição – a fazer lembrar a ocupação espanhola de 1580 a 1640- e pouco a substância.



A GRANDE BARRACA

 Com uma organização medíocre, este encontro começou logo mal. Através de convocação, através da Internet, a representação da Comunidade Europeia em Lisboa convidava a que se formulassem perguntas por e-mail. Seria de supor que quem as manifestou teria preferência no debate. Numa explicação muito tosca, em que não se percebeu o que iria acontecer, os presentes começaram a surfar a onda. Depois a boneca de porcelana informou que quem quisesse participar que colocasse o braço no ar… mas não disse quem iria tomar conta destas inscrições. E os candidatos a intervir no plenário, olhando uns para os outros, ficaram de braço no ar em castigo e à espera que alguém, não se sabendo quem, tomasse nota da inscrição. Sem ser declarativo, ficou a saber-se que era a jornalista que embirrei em chamar boneca de porcelana. Sem ordem na intervenção, só pela persistência de alguns, em que me incluo, foi conseguido ter voz num debate cujo tema era, lembro, “Diálogos com o Cidadão”.
Mas a barraca ainda só agora estava a começar. A musa encantada luxemburguesa, de casaco azul e calça ligeira de executiva, não parava um segundo no mesmo lugar e sempre a distribuir charme na assistência. Como debutante a dançar a valsa de Strauss, Viviane Reding era o centro de atenções gerais. Havia um pequeno problema: falava em inglês e não havia tradução à vista. Passaram 15, 30 minutos, e eu, mentalmente dividia-me entre amaldiçoar o meu francês que sempre gostei ou, como deputado no ex-parlamento soviético, levantar o braço à espera de atenção. Acabei por me inclinar por esta opção. Durante um quarto de hora, tal como outros, mantive o braço no ar. Foi dada a palavra a um cidadão no fundo da sala e ele interrogou da razão de não haver tradução. Com algum desplante, pergunta a boneca de porcelana: “não tem tradutor automático? Mas olhe que há tradução!”. E viram-se umas bonecas de corda a correr para a entrada, a toda a pressa, para irem recolher os aparelhos e distribui-los aos espectadores dentro da sala. Tal como outros em meu redor, na linha da frente, eu continuava de braço no ar, à espera. Finalmente, passados 40 minutos, tive direito a um objeto reprodutivo, entregue em mão sem ser ligado. Claro que para as bonecas mirabolantes, certamente, no seu pensar, este público presente eram cidadãos europeus, com toda a sua carga de enorme sabedoria e responsabilidade. Para além de deverem falar três línguas -como deu a perceber a comissária- deveriam tratar por tu aqueles pequenos aparelhómetros. Se assim não era, só podiam ser habitantes de outro qualquer continente, talvez sul-americano, sem ofensa para os ditos. Azar danado para mim: para além de não falar bem uma única língua, o meu retransmissor não ligava.
Mas uma infelicidade nunca vem só, que o diga o professor Norberto Canha que legitimamente quis intervir lendo uma carta à flor do Luxemburgo. Não se sabe bem porquê, especulo que a boneca de porcelana, ali transformada em polícia de trânsito, às tantas teria pensado que o antigo diretor dos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, queria fazer uma declaração de amor a Viviane e não foi de modas: cortou a conversa. Ali não se poderiam ler mensagens escritas. E o meu amigo Canha, que, apesar de ser doutor, normalmente é muito refilão, amuou, aceitou e não contestou. O problema é que, neste ano da inclusão e em que o cidadão europeu parece merecer respeito, logo a seguir, salvo erro do Luxemburgo, por videoconferência, uma deputada local, sentada ao lado do homem mais rico da siderurgia, leu uma carta, à vontade, e ocupou o tempo que bem quis.
Isto tudo para dizer que estivemos perante uma grande encenação. A senhora Viviane Reding, por mérito próprio, tem lugar na galeria dos maiores políticos mitómanos que não deixam história neste Parlamento e Comissão Europeia. Às perguntas formuladas, em que me incluo, nunca respondeu objetivamente nem coisa que se entendesse como segundo rosto da Comissão. Ao perguntar-lhe, enquanto Comissária Europeia da Justiça, dos Direitos Fundamentais e da Cidadania, como entendia que um empresário que trabalhou toda a sua vida, criando riqueza, sacrificando a família, nesta altura em vias de cair na indigência, não tenha direito a subsídio de desemprego? Respondeu zero. Ao meu convite para, na minha companhia, visitar alguns comerciantes que estão com um pé na pobreza na Baixa de Coimbra esqueceu. À questão de uma jovem estudante, sobre o corte das bolsas, e que deveria ter sido articulada por Ricardo Salgado, o presidente da Associação Académica de Coimbra, a vice-presidente preferiu embarcar na demagogia dizendo que “os jovens têm uma herança pesada!”
E chegou-se ao final de duas horas para esquecer, onde, em paradigma, ficou bem patente o servilismo dos portugueses perante o governo europeu. Na parte final, calhou a partitura musical a Manuel Rocha, presidente do Conservatório de Coimbra e candidato a líder da Assembleia Municipal pela CDU, à frente dos seus alunos a tocar e a cantar o Hino da Alegria. Aposto que alguns presentes, quando o viram, ficaram lívidos e a interrogar-se: “será que ele vai executar a Grândola Vila Morena?”


PERDIDOS

 Passavam poucos minutos das nove horas de um destes dias da semana. Entrei na Loja do Cidadão, no Largo das Olarias, subi ao primeiro-andar e caminhei em direção ao departamento da Câmara Municipal de Coimbra. Levo na mão várias faturas de água para pagamento. Uma delas está com aviso de corte. Em redor deste posto de liquidação havia dezenas de pessoas que se acotovelam quase umas em cima das outras. Dirigi-me à máquina de senhas e constatei que já não era igual à mesma da última vez que nos tocámos. Perante o cardápio apresentado de serviços, por momentos fiquei baralhado. Em escassos segundos recobrei o sangue-frio e pensei para mim, que embora diferente, esta nova máquina não seria tão desigual da anterior e lá por ser detentora de muitas siglas não me venceria ao primeiro round. E extraí a senha correspondente ao serviço que me interessava. Entre o meu número em sorte e o que estava a ser atendido havia cerca de meia dúzia de entremeios. Encostei-me numa coluna, já que todos os bancos estavam ocupados, e dei em analisar as reações de quem tentava relacionar-se com a máquina sem coração.
Já era senhora de idade, a primeira em que poisei o meu olhar examinador. Aproximou-se e olhou para o visor, em metáfora, da mesma forma que uma girafa olha para um palácio. Primeiro em apatia, a seguir, sem saber o que fazer, varreu com os olhos todos os lados em busca de uma ajuda amiga que a retirasse daquela aflição. Como estava atento fui em seu socorro e libertei a senha de acesso ao serviço correspondente. Chamava-se Maria –Maria, simplesmente, porque não queria publicidade-, tinha 80 anos. Quando lhe perguntei como se sentia diante de uma máquina que vai comandar as suas ações futuras, desabafou em palavras soltas e envolvidas de emoção: “sinto-me perdida, senhor! A anterior era mais simples. Esta é mais complicada. Quando me dirijo a serviços públicos tenho sempre de pedir auxílio. Deveria ser tudo simplificado tendo em conta as dificuldades das pessoas. Por que razões estão a tornar a vida tão complicada para nós mais velhos, senhor?”
Continuei atento a quem procurava tocar a máquina. Agora era uma mulher ainda nova. Vestia informalmente, com roupas baratas, e tinha um aspeto simples. Perante a maquineta, notei a mesma atrapalhação da velhinha. Como se estivesse paralisada, ficou parada diante do visor e sem saber o que fazer. Como bombeiro voluntário de ocasião, mais uma vez, saltei para o abismo da disfunção e amparei a senhora. Chama-se Susana –“não mais do que isso, por favor”, rogou-me-, tem 37 anos e está desempregada. “Perante estas novas formas de ordenar o atendimento público, sinto-me bloqueada, perdida num labirinto, entende? Estas coisas deveriam ser mais evidentes. Sinto-me mal. Experimento uma sensação de alguém que é diferente, como se fosse anormal. Diariamente, perante esta nova vaga dos computadores, sinto que, apesar de ainda ser nova, estou arredada destes tempos que teimam em nos atropelar. Sofro imenso, um incómodo crescente, como se fosse analfabeta e não soubesse ler. É triste, sabe? Sempre trabalhei em limpezas…”
Ao lado estava uma mulher de pernas cruzadas, bem torneadas e forradas com meias de rede, como se fossem armadilha para olhares masculinos, saia subida até meio da coxa, deixando adivinhar um paraíso inimaginável desconhecido, e botas de meio cano. Num rosto bem tratado onde se afugentam as rugas, uma pele sedosa que apetecia acariciar, os cabelos alourados, apanhados na nuca, emolduravam um raro quadro de beleza feminina. Não seria por mal, acreditei, mas tinha um ar superior que causava desprimor. Era como se fosse uma produção artística, sem idade previsível, de autor desconhecido, mas que teimava em impor-se aos demais. Enquanto falava com Susana, mesmo sem ser interpelada, abruptamente, metia-se na conversa. Prometi dialogar com ela a seguir. Chama-se Rosa. Tem 56 anos de idade –quem diria, pensei para mim, em solilóquio, com os meus botões e lancei um assobio silencioso. Trabalha com computadores. Para ela, estas máquinas são muito simples, mas, admite que para quem não está habituado pode ser um inferno. Concordou que tudo deveria ser naturalmente simples. Os humanos gostam de complicar tudo. Rematou em conclusão: “escreva lá que todos os serviços na Loja do Cidadão são péssimos!”. E eu, que normalmente até sou bem-mandado por qualquer um, não haveria de ser por uma beldade? Claro que escreverei, prometi. E cumpri. Cá fica.


O MEU MELHOR AMIGO MORREU

 Há cerca de oito meses o Daniel Tibério veio ter comigo e disse: “se algo me acontecer proximamente, ajuda a orientar a minha família. Não tenho mais ninguém a quem recorrer. Só tu podes valer à minha Helena e ao meu filho!”. Quase de sorriso nos lábios, o meu melhor amigo confessava-me que tinha um tumor na cabeça, um cancro, como vulgarmente se diz. E para piorar, maligno, em estado avançado e sem possibilidade de intervenção cirúrgica. No último domingo, de manhã, o meu amigo de sempre foi encontrado sem vida, em frente ao seu estabelecimento: o Café Trianon.
Embora tudo leve a crer que foi suicídio –tinha um revólver na mão direita-, tenho as minhas reticências. Não por não crer que foi de facto, sei que foi mesmo, mas porque me nego a acreditar. Não consigo compreender. Há cerca de 15 dias o Daniel esteve a falar comigo e nada fazia adivinhar este final trágico. Mais ainda: se o meu melhor amigo fazia tensões de acabar com a vida, e sabendo que eu seria o amparo da família depois do seu desaparecimento, sobretudo no seu estabelecimento, não seria lógico colocar-me ao corrente de assuntos do seu negócio? Estranho, digo eu que não percebo nada de comportamentos humanos e cada vez me sinto mais perdido no meio dos homens. O que sei é que vou sentir muito a sua falta. Nunca mais terei um amigo assim, um chegado que confiava em mim como já não há hoje igual. A Praça Machado de Assis, onde se situa o Café Trianon, depois da sua partida repentina, nunca mais voltará a ser a mesma. Quanto a mim, tal como lhe prometi em vida, tudo farei para que nada falte aos seus mais próximos, ao seu filho, e sobretudo, ao seu grande amor da sua existência: a sua Helena. “The show must is go one”, o espetáculo tem de continuar. Nesta roda raiada, que é a existência, vão caindo raios e sendo substituídos por outros até ao crepúsculo da vida de cada um de nós. Assim será eternamente. Até sempre, Daniel! Vais fazer-me falta, carago. Ao menos podias ter-te despedido de mim. Pronto!, estás perdoado. Descansa em paz, meu amigo!


ESTA CIDADE…

 Coimbra é uma cidade estranha. Estranha, não no sentido de ser diferente para melhor, mas para o pior. É uma urbe de pequenas ilhotas onde pululam os amigalhaços, nas confrarias, nos clubes, nos partidos, onde o que conta verdadeiramente para a maioria é a importância do “Dr” a anteceder o nome, ou a posição que ele ocupa na administração da cidade, ou, se escreve, e desde que seja jornalista, mande uns bitaites mesmo que sejam uns disparates ofensivos à honra e dignidade, todos batem palmas. Basta abrir qualquer um dos dois jornais diários locais e analisar os articulistas do costume. Coimbra é uma cidade cínica, calculista, subserviente e hipócrita. Onde a sua alma errante, o seu espírito negro como negro é o seu fado, vagueia entre a Câmara Municipal e a Universidade. Vale mais uma bufa mal cheirosa de um doutor ou de um político partidário que um frasco de perfume com cheiro a rosmaninho se vier de um qualquer trabalhador. O sumo da razão, enquanto ideia equilibrada e ajustável, nunca interessou nada. É uma cidade vazia, desprovida de ideias novas. Tal como o país, vive do passado –atente-se nos candidatos autárquicos apresentados até agora- e à espera de um D. Sebastião que, embrulhado em capa de super-homem, a venha retirar deste estado amorfo de letargia. Porém, vá-se lá entender, se ele aparecer não será levado em boa conta, será expulso e corrido a pontapé.
E servi-me desta longa introdução para manifestar a minha indignação. O que vou escrever a seguir é um exemplo, entre outros, que mostra bem a apatia que reina em alguns sectores da vida profissional da cidade e que explica a causa deste grande lugarejo com várias capelas nunca passar da cepa torta. O Arménio Pratas é um reputado comerciante estabelecido na Rua da Sofia. Para além disso –que não é pouco, já diz muito da sua loucura, se tivesse juízo há muito tempo que tinha ido fazer outra coisa qualquer e largado o negócio- é um cidadão preocupado com a situação premente que o comércio tradicional atravessa.  Vai daí, há uns tempos, contactou a CPPME, Confederação Portuguesa das Micro Pequenas Empresas, para vir à cidade debater esta grave crise que se abateu na compra e venda de rua, incluindo a fiscalidade, o investimento e o crédito, a justiça e o apoio social, entre outros temas. A CPPME aceitou, com a promessa de vir o seu presidente João Pedro Santos, mas ainda fez mais, prometeu trazer consigo um experimentado fiscalista e reputado economista, Eugénio Rosa, ligado ao PCP. Ficou assente que seria feito um jantar-debate na sexta-feira passada, dia 22. O Pratas andou a semana toda a contactar Seca e Meca para que cada comerciante pudesse colocar a sua questão, reportando dúvidas, e, neste jantar com um custo de 10 euros por pessoa, ficasse minimamente esclarecido quanto ao presente nebuloso e futuro mais que certo na pobreza.
Segundo o Arménio, “cancelei o encontro por falta de interessados. Consegui 8 inscrições e 6 prováveis sujeitos a confirmação. Nunca mais me meto noutra! Já devia ter juízo, não achas?”


REFLEXÃO: LIVRAI-NOS SENHOR DO VINHO

 Vá-se lá entender por que caminhos tortuosos do destino se passeiam a ACIC, Associação, Comercial e Industrial de Coimbra. Todos os dias se ouve e lê sobre o estado calamitoso económico e financeiro a que chegou a maioria dos comerciantes. Há vários anos que da Avenida Sá da Bandeira nem uma simples lamentação deste facto se ouve pelas trovas do vento que passa. A semana passada, pelo Diário de Coimbra, ficou a saber-se que a ACIC, tal como em anos precedentes, realizou mais um concurso de vinhos. Será que estamos todos a ficar bêbados?












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