quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FURTO NA PEIXARIA



 Esta semana, mais exactamente na segunda-feira, passariam para aí cerca de dez minutos depois das 19, já a peixaria Pinguim, na Rua das Padeiras, estava de porta encerrada e o marido de Lurdes Alves, a gerente, estava pronto, de malas aviadas, para retornar ao doce lar. Foi então que um negro de bom aspecto lhe bateu ao vidro: “ainda me pode atender? Precisava de comprar peixe”. Da banda de dentro, o bom marido da Dona Lurdes respondeu que desculpasse mas já tinha tudo arrumado e as máquinas desligadas. O homem de sangue vermelho mas tez acobreada voltou à carga: “precisava de comprar duas caixas de camarão”. E o bom marido da dona Lurdes, que por caso não me lembro do nome, deixou entrar aquele que parecia ser bom homem e foi buscar duas caixas à arca congeladora. Na hora de pagar, diz o homem descendente do continente africano: “posso pagar com VISA?”. E o bom peixeiro respondeu que só com Multibanco. Então o homem de alma branca mas pele negra disse: “desculpe, um momento que vou pedir dinheiro à minha mulher, que está lá fora. Passados poucos minutos regressou e disse: “olhe, afinal, levo quatro caixas. E o bom marido da dona Lurdes e bom homem fez novamente o trajecto para arca congeladora que está num canto da loja. O homem, que aparentemente adorava camarão e que aparentemente era africano e que aparentemente tinha mulher e que aparentemente queria adquirir 4 caixas, perguntou: “diga-me lá, o camarão paga IVA?”. E o bom homem, farto de aturar preto, farto de aturar branco, especulo eu que não sou boa peça, terá respondido que tudo pagava IVA neste país excepto as confissões na igreja ao fim-de-semana, mas que, provavelmente será por pouco tempo porque o zelador de todos nós vivos e daqueles que já partiram envergonhados, o ministro Gaspar, já andava de olho nos padres e se estava perante uma descarada concorrência desleal aos psicólogos. E o preto, que há quem diga que não se deve dizer preto mas sim negro, retorquiu que assim não queria. E saiu calmamente porta fora. E o bom homem, que mal não faz mal não pensa, ficou a pensar que mal teria feito ao Criador, que por acaso é branco mas um dia destes vamos ter um Papa negro, para levar com um aborto daqueles ao fim de um dia de trabalho. Os peixinhos, mortos coitadinhos, geladitos e esticadinhos que nem varas, ainda o ouviram exclamar: “filho de um grande peixe! Que uma espinha se te atravesse na garganta quando pensasses em vir incomodar um comerciante!”
Dirigiu-se ao balcão onde anteriormente tinha dois sacos e verificou que agora só havia um. O que tinha o apuro do dia e mais uns cheques de outros dias passados tinha desaparecido tudo. Mais uma vez os camarões, perante a raiva sentida e impotência crescente do comerciante, taparam os ouvidos a tantos impropérios e só guardaram o mais simples: “filho de uma mulher negra!”

Sem comentários: