VAI COMEÇAR O ESPETÁCULO!
O apresentador dá as boas vindas a
cerca de uma centena de pessoas, divididas por casais novos acompanhados com
filhos e, provavelmente, avós e netos que ocupam parte da plateia. Reparo que,
em nome do Circo, agradece à autarquia “pelas facilidades concedidas neste
local.” E abre a exibição Joaquim Cardinali, o proprietário, logo seguido de
dois enormes tigres da Sibéria, segundo o apresentante. Com uma candura em
mistura de muito treino os possantes animais faziam tudo o que lhes era
solicitado, sempre acompanhado com uma pequena guloseima como prémio. Dois
momentos altos, um, quando o domador simula um tiro e o tigre jaz por terra
inanimado, outro, quando o domesticador tenta pela “força” mandar retirar a
fêmea mas esta recusa. Então o dominador, acompanhado de uma vénia, pede por
favor para a “menina” sair, e ela tranquilamente vai. Muito bonito!
Depois de retiradas as grades de
proteção a toda a pressa e por todos, seguiu-se os “Piratas das Caraíbas”, os
palhaços, elementos sempre tão marcantes nestes cenários de sonho, magia e
ilusão. Com muita dificuldade em salientar prestações individuais já que todos
são muito bons, outro grande instante foi o desempenho de Íris Cardinali no
trapézio que, sem rede, implica algum risco, e, por isso mesmo, sempre seguida
pelos olhos do pai Joaquim. E veio o “homem aranha” e tantas, tantas, boas
ocasiões de outros artistas que me senti grato por estar ali e por poder
testemunhar tão bom trabalho de entrega e dedicação. Houve momentos que me
senti invadido pela nostalgia do passado, lembrei-me dos meus filhos pequenos
e, por vezes, não pude evitar que as lágrimas invadissem os meus olhos. Por que
razão não voltei mais ao circo nesta última vintena de anos? Continuei a
interrogar-me. Porquê? Se quase todas as semanas vou ao cinema e, numa
interpretação repetidamente morta, pago parcialmente o mesmo que nesta fabulosa
execução viva? Não pude evitar algum incómodo complexo de culpa.
(CONTINUA AMANHÃ)
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