sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "BAIXA: INCÚRIA E DEIXA CORRER", deixo também as crónicas "UM POUCO DE NÓS QUE SE VAI"; "UMA PRAÇA SEM CARROS" e "REFLEXÃO: UM DEBATE PELA BAIXA"



BAIXA: INCÚRIA E DEIXA CORRER

 Há candeeiros de rua que nascem com sorte macaca. Não sei se estarei a ser claro, mas quero dizer que nascem em dia aziago, sem sorte nenhuma. Ora vejam lá se não estamos em presença de uma destas manifestações azarentas?!
No Sábado de há duas semanas, o temporal, que não tem respeito pela velhice e deveria ter –porque o lampião de que irei falar é dos mais antigos da cidade e faz parte de um acervo que foi desaparecendo e sendo substituído por uns harmonizados e muito feiinhos graças a Deus-, dizia eu, para que você não perca o fim à meada, que o tempo, na sua imprevisível má-disposição, deu para marrar no pobre lampadário, que por acaso até é católico e está ao lado de quem vai frequentar a Igreja de São Tiago todos os dias à noite por vontade do senhor Bispo, D. Virgílio Antunes, e que finalmente, depois de tanto o aborrecerem por aquele templo estar encerrado na Baixa, numa atitude louvável, abriu portas a quem lá for por bem. Continuando, depois do aperto pelo vento, a luminária ficou com uma asa caída, como quem diz a porta aberta, e com uns vidros laterais partidos. Era coisa de monta? Não senhor. Se o seu proprietário fosse privado uma hora depois, no mais tardar, o assunto estaria resolvido. Encostava-se lá uma escada, retiravam-se os “fanicos”, media-se, ia-se mandar cortar os vidros necessários e pronto. Estava a coisa feita. Acontece que o gestor da iluminação pública é a Câmara Municipal. Ora, por aqui, já se vê que a coisa chia mais fino. Esta coisa de mudar um vidro não é assim tão simples como parece. Só ignorantes “casca dura e cérebro tipo quartzo”, como eu, não percebem a complexidade de uma obra desta envergadura.
Continuando, como se estava perante uma enormíssima dificuldade, o que fizeram dois funcionários camarários na segunda-feira? Eu explico, porque estou a escrever para isso. Olharam para o exemplar de ferro forjado, lá para o alto, e, especulando, deveriam ter desabafado um para o outro: “é pá, isto está muito alto!”. E, em face do contratempo circunstancial, foram para o desfecho que se escolhe sempre quando em presença de um problema cuja resolução implica esforço mental e físico de alguém que trata da coisa pública: isolar a área envolvente. E assim, por causa de uma portinhola aberta e dois vidritos quebrados, apartou-se uma parte das Escadas de São Tiago. Quer saber quanto tempo? Calma. Eu conto tudo, mas nada de me pressionar. Eu respondo: até sexta-feira seguinte. Quer dizer, foi até esse dia, por circunstancialismo feliz, por que poderia ser durante semanas. Quer que lhe conte? Quer? Então faça favor de não mostrar ansiedade. Seja calmo como os funcionários da autarquia, caso contrário, lá vamos nós aumentar os fármacos antidepressivos –ainda há dias a imprensa falou disso. Continuando, quer você saber porque retiraram as tarjas vermelhas passados quatro dias? Eu conto –embora preferisse não ter de o fazer, mas já que você insiste assim seja. Então é assim, na sexta-feira de manhã, no prédio da Caixa Geral de Depósitos e coladinho ao candeeiro azarado, uma grua, de uma empresa de limpezas privada que, parece-me, trabalha também para a Câmara, servia de sustentáculo elevatório para dois homens limparem os vidros do imóvel confinante. 

Ao manobrador, alguém colocou a possibilidade de o elevador, ao mesmo tempo, poder servir o interesse público. Ou seja, avisava-se os serviços de iluminação pública da autarquia e, como a grua estaria ali toda a manhã, iria lá um funcionário e trocava os vidros e retirava as fitas das escadas. Falou-se com o empregado, que pelos vistos era uma boa alma prática, e ele disse imediatamente que sim. Contactou-se os serviços camarários e, passados cerca de trinta minutos, vieram dois funcionários. Quer saber o que fizeram? Retiraram os vidros partidos, fecharam a portinhola, libertaram as fitas e foram à sua vida. Volto outra a vez a questionar: se o candeeiro fosse de um particular o procedimento seria igual? É evidente que estamos perante uma amostra, mas o problema é que procedimentos como estes são demasiado recorrentes. É necessário sensibilizar estes servidores públicos e também os particulares que aqui vivem e trabalham para uma nova filosofia de utilização de recursos.
Creio não ser preciso escrever mais nada para mostrar a razão de a Baixa, que é candidata a Património da Humanidade a ser reconhecida pela Unesco, se encontrar no estado em que está, pois não?


UM POUCO DE NÓS QUE SE VAI

 Esta semana encerrou a livraria do grupo Leya, na Rua Ferreira Borges. Depois de, em novembro de 2011, ter ocupado as antigas instalações da Coimbra Editora, junto ao Arco da Traição, eis que num prenúncio anunciado encerrou de vez. Já nesta altura, aquando desta mudança de gerência, um meu amigo enfatizava assim: “olhe, é um golpe duro que recebo no peito. Este prédio da Coimbra Editora não é apenas uma marca, é muito mais, é património da cidade. Mas, pode crer, esta loja nas mãos deste grande grupo económico, vai durar pouco”. Esta semana, como a dar razão ao presságio, claudicou. Esperamos, todos, que reabra por conta da antiga editora.
Embora há duas semanas tivesse anunciado aqui que havia 115 lojas fechadas na Baixa, infelizmente, sou obrigado a retificar este número para 127. Nessa edição d’O Despertar escrevia que este ano já encerraram 4. Novamente, pedindo desculpa pela correção, declaro que o número de encerramentos já vai em 13. Este aumento deveria dar que pensar. Não deveria?



UMA PRAÇA SEM CARROS

 A Praça do Comércio, pela sua beleza monumental e posição geográfica mesmo no coração da Baixa, é, sem dúvida nenhuma, uma espécie de oásis no meio do deserto. Levando à letra esta metáfora, seria de supor que a sua estima coletiva deveria estar acima dos interesses egoístas de cada um. Acontece que não é assim e volta e meia vamos encontrar esta joia arquitetónica pejada de automóveis estacionados no seu ventre. O que pensarão alguns intervenientes deste encantador largo histórico?
Victor Silva, empregado no restaurante Praça Velha, disse o seguinte: “é uma pena, um dó! Faz-me doer o coração. Há dias em que fazem deste terreiro um parque de estacionamento. Se acaso houver necessidade de passar uma ambulância ou bombeiros está de tal forma preenchido que torna impossível a sua circulação. A Polícia Municipal, perante estes reiterados abusos, é ineficaz. Quando são chamados não são coerentes na sua atuação. Multam uns e outros não. Tenho verificado várias vezes que, após a sua passagem, não deixam notificações em todas as viaturas. Não consigo entender este injusto procedimento. Os comerciantes desta praça também deveriam dar o exemplo e não dão. Um largo destes é uma beleza, deveria estar sempre sem carros. Não pode continuar a ser um parque de estacionamento. É visitado por todo o turista que chega a Coimbra e não deve haver nenhum que não o fotografe. É uma vergonha! Um desrespeito por esta pública monumentalidade. Na última “Noite Branca”, em dezembro, os grupos contratados para atuarem aqui não o puderam fazer por não haver espaço disponível. Uma lástima! Digo-lhe, sinceramente.”

Armando Campos, gerente do Restaurante A Taberninha, enfatizou: “embora considere que, diretamente, não afeta o meu negócio, no entanto, enquanto cidadão, não tenho dúvida de que esta praça deveria estar vazia de automóveis. Preferia vê-la ampla e sem carros. Esta zona é pedonal e com horários para carga e descarga, simplesmente ninguém cumpre. Para que servem os pinos junto ao Banco de Portugal? Deveriam levantar às 10h00 e baixar às 20h00. Se assim fosse, tudo estaria bem.”
E o que acha o presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu? Carlos Clemente explanou assim: “já é tempo mais que suficiente do município de Coimbra, através da Polícia Municipal (PM), resolver o estacionamento ilegal da Praça do Comércio. Tenho verificado amiúde vezes que alguns agentes da PM e da PSP não atuam em conformidade com a lei. Portanto, não posso estar mais de acordo com o facto de alguns comerciantes e moradores estarem contra esta situação. O mais grave é quando o presidente da junta pede a intervenção da PM. Violando o dever de sigilo a que estão obrigados, alguns agentes, ao multarem os automobilistas, informam que estão a proceder assim porque foram chamados pelo edil de São Bartolomeu. É certo que, embora não o devessem fazer, também não me preocupa muito porque é para o bem da freguesia. Já agora, aproveitando esta oportunidade, escreva lá também que a “venda ambulante”, contrariamente ao prometido, ainda não está resolvida pela Câmara Municipal. É uma vergonha para a Baixa e para a cidade.”


REFLEXÃO: UM DEBATE PELA BAIXA

 Como se sabe, estamos a escassos meses das eleições autárquicas, o que, em consequência, quer dizer que os partidos e mais propriamente os candidatos já estão todos a afiar o gume das espadas para o pleito eleitoral. Antes de prosseguir, como ressalva, ficarão os leitores a saber que nesta página não se aconselhará o voto em quem quer que seja dos candidatos já anunciados ou que venham a ser. No entanto, não quer dizer que, do ponto de vista da objetividade, não se critique as suas medidas prenunciadas e que venham a fazer parte das suas promessas sobre a revitalização da Baixa. Estamos ainda numa fase embrionária e sabemos pouco sobre o que tencionam fazer para retirar esta parte histórica da sua decrepitude e letargia. Um dado se conhece: os três candidatos anunciados pelo CDS-PP, pelo PSD e pelo PS, respetivamente Luís Providência, Barbosa de Melo e Manuel Machado, estão fortemente imbricados e com responsabilidade no passado de decadência desta zona de antanho. Num momento em que o desânimo grassa pelas ruas da amargura, de comerciantes e residentes, tendo em conta o recessivo momento histórico que atravessamos, é preciso colocar estes representantes partidários entre a espada e a parede. Recuar mais não é possível. Então, nesta fase, queremos ver homens de barba rija a comprometer-se sobre a sua honra e dignidade sobre o que vão fazer e, sobretudo, de que vão empenhar-se na reconstrução deste perímetro tão carregado de memória. Vamos debater a Baixa?




1 comentário:

Anónimo disse...

Permita que diga que a Rua das Azeiteiras é das ruas mais bonitas e emblemáticas da baixinha, reconhecida pelos enúmeros restaurantes de qualidade.
Que lhe parecem o Ford Fiesta Vermelho e VW passat preto estacionados 365 dias à entrada da referida artéria junto à "PRAÇA VELHA"?
um apaixonado por coimbra e alta e baixinha