LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "BAIXA: INCÚRIA E DEIXA CORRER", deixo também as crónicas "UM POUCO DE NÓS QUE SE VAI"; "UMA PRAÇA SEM CARROS" e "REFLEXÃO: UM DEBATE PELA BAIXA"
BAIXA: INCÚRIA E DEIXA CORRER
Há candeeiros de rua que nascem
com sorte macaca. Não sei se estarei a ser claro, mas quero dizer que nascem em
dia aziago, sem sorte nenhuma. Ora vejam lá se não estamos em presença de uma
destas manifestações azarentas?!
No Sábado de há duas semanas, o
temporal, que não tem respeito pela velhice e deveria ter –porque o lampião de
que irei falar é dos mais antigos da cidade e faz parte de um acervo que foi
desaparecendo e sendo substituído por uns harmonizados e muito feiinhos graças
a Deus-, dizia eu, para que você não perca o fim à meada, que o tempo, na sua
imprevisível má-disposição, deu para marrar no pobre lampadário, que por acaso até
é católico e está ao lado de quem vai frequentar a Igreja de São Tiago todos os
dias à noite por vontade do senhor Bispo, D. Virgílio Antunes, e que
finalmente, depois de tanto o aborrecerem por aquele templo estar encerrado na
Baixa, numa atitude louvável, abriu portas a quem lá for por bem. Continuando,
depois do aperto pelo vento, a luminária ficou com uma asa caída, como quem diz
a porta aberta, e com uns vidros laterais partidos. Era coisa de monta? Não
senhor. Se o seu proprietário fosse privado uma hora depois, no mais tardar, o
assunto estaria resolvido. Encostava-se lá uma escada, retiravam-se os
“fanicos”, media-se, ia-se mandar cortar os vidros necessários e pronto. Estava
a coisa feita. Acontece que o gestor da iluminação pública é a Câmara
Municipal. Ora, por aqui, já se vê que a coisa chia mais fino. Esta coisa de
mudar um vidro não é assim tão simples como parece. Só ignorantes “casca dura e
cérebro tipo quartzo”, como eu, não percebem a complexidade de uma obra desta
envergadura.
Continuando, como se estava
perante uma enormíssima dificuldade, o que fizeram dois funcionários camarários
na segunda-feira? Eu explico, porque estou a escrever para isso. Olharam para o
exemplar de ferro forjado, lá para o alto, e, especulando, deveriam ter
desabafado um para o outro: “é pá, isto está muito alto!”. E, em face do
contratempo circunstancial, foram para o desfecho que se escolhe sempre quando em
presença de um problema cuja resolução implica esforço mental e físico de
alguém que trata da coisa pública: isolar a área envolvente. E assim, por causa
de uma portinhola aberta e dois vidritos quebrados, apartou-se uma parte das
Escadas de São Tiago. Quer saber quanto tempo? Calma. Eu conto tudo, mas nada
de me pressionar. Eu respondo: até sexta-feira seguinte. Quer dizer, foi até
esse dia, por circunstancialismo feliz, por que poderia ser durante semanas.
Quer que lhe conte? Quer? Então faça favor de não mostrar ansiedade. Seja calmo
como os funcionários da autarquia, caso contrário, lá vamos nós aumentar os
fármacos antidepressivos –ainda há dias a imprensa falou disso. Continuando,
quer você saber porque retiraram as tarjas vermelhas passados quatro dias? Eu
conto –embora preferisse não ter de o fazer, mas já que você insiste assim
seja. Então é assim, na sexta-feira de manhã, no prédio da Caixa Geral de
Depósitos e coladinho ao candeeiro azarado, uma grua, de uma empresa de
limpezas privada que, parece-me, trabalha também para a Câmara, servia de
sustentáculo elevatório para dois homens limparem os vidros do imóvel
confinante.
Ao manobrador, alguém colocou a possibilidade de o elevador, ao
mesmo tempo, poder servir o interesse público. Ou seja, avisava-se os serviços
de iluminação pública da autarquia e, como a grua estaria ali toda a manhã,
iria lá um funcionário e trocava os vidros e retirava as fitas das escadas.
Falou-se com o empregado, que pelos vistos era uma boa alma prática, e ele disse
imediatamente que sim. Contactou-se os serviços camarários e, passados cerca de
trinta minutos, vieram dois funcionários. Quer saber o que fizeram? Retiraram
os vidros partidos, fecharam a portinhola, libertaram as fitas e foram à sua
vida. Volto outra a vez a questionar: se o candeeiro fosse de um particular o
procedimento seria igual? É evidente que estamos perante uma amostra, mas o
problema é que procedimentos como estes são demasiado recorrentes. É necessário
sensibilizar estes servidores públicos e também os particulares que aqui vivem
e trabalham para uma nova filosofia de utilização de recursos.
Creio não ser preciso escrever
mais nada para mostrar a razão de a Baixa, que é candidata a Património da Humanidade
a ser reconhecida pela Unesco, se encontrar no estado em que está, pois não?
UM POUCO DE NÓS QUE SE VAI
Esta semana encerrou a livraria
do grupo Leya, na Rua Ferreira Borges. Depois de, em novembro de 2011, ter
ocupado as antigas instalações da Coimbra Editora, junto ao Arco da Traição,
eis que num prenúncio anunciado encerrou de vez. Já nesta altura, aquando desta
mudança de gerência, um meu amigo enfatizava assim: “olhe, é um golpe duro que
recebo no peito. Este prédio da Coimbra Editora não é apenas uma marca, é muito
mais, é património da cidade. Mas, pode crer, esta loja nas mãos deste grande
grupo económico, vai durar pouco”. Esta semana, como a dar razão ao presságio,
claudicou. Esperamos, todos, que reabra por conta da antiga editora.
Embora há duas semanas tivesse
anunciado aqui que havia 115 lojas fechadas na Baixa, infelizmente, sou
obrigado a retificar este número para 127. Nessa edição d’O Despertar escrevia
que este ano já encerraram 4. Novamente, pedindo desculpa pela correção,
declaro que o número de encerramentos já vai em 13. Este aumento deveria dar que
pensar. Não deveria?
UMA PRAÇA SEM CARROS
A Praça do Comércio, pela sua
beleza monumental e posição geográfica mesmo no coração da Baixa, é, sem dúvida
nenhuma, uma espécie de oásis no meio do deserto. Levando à letra esta
metáfora, seria de supor que a sua estima coletiva deveria estar acima dos
interesses egoístas de cada um. Acontece que não é assim e volta e meia vamos
encontrar esta joia arquitetónica pejada de automóveis estacionados no seu
ventre. O que pensarão alguns intervenientes deste encantador largo histórico?
Victor Silva, empregado no restaurante
Praça Velha, disse o seguinte: “é uma pena, um dó! Faz-me doer o coração. Há
dias em que fazem deste terreiro um parque de estacionamento. Se acaso houver
necessidade de passar uma ambulância ou bombeiros está de tal forma preenchido
que torna impossível a sua circulação. A Polícia Municipal, perante estes
reiterados abusos, é ineficaz. Quando são chamados não são coerentes na sua
atuação. Multam uns e outros não. Tenho verificado várias vezes que, após a sua
passagem, não deixam notificações em todas as viaturas. Não consigo entender
este injusto procedimento. Os comerciantes desta praça também deveriam dar o
exemplo e não dão. Um largo destes é uma beleza, deveria estar sempre sem
carros. Não pode continuar a ser um parque de estacionamento. É visitado por
todo o turista que chega a Coimbra e não deve haver nenhum que não o fotografe.
É uma vergonha! Um desrespeito por esta pública monumentalidade. Na última
“Noite Branca”, em dezembro, os grupos contratados para atuarem aqui não o
puderam fazer por não haver espaço disponível. Uma lástima! Digo-lhe,
sinceramente.”
Armando Campos, gerente do
Restaurante A Taberninha, enfatizou: “embora considere que, diretamente, não
afeta o meu negócio, no entanto, enquanto cidadão, não tenho dúvida de que esta
praça deveria estar vazia de automóveis. Preferia vê-la ampla e sem carros.
Esta zona é pedonal e com horários para carga e descarga, simplesmente ninguém
cumpre. Para que servem os pinos junto ao Banco de Portugal? Deveriam levantar
às 10h00 e baixar às 20h00. Se assim fosse, tudo estaria bem.”
E o que acha o presidente da
Junta de Freguesia de São Bartolomeu? Carlos Clemente explanou assim: “já é
tempo mais que suficiente do município de Coimbra, através da Polícia Municipal
(PM), resolver o estacionamento ilegal da Praça do Comércio. Tenho verificado
amiúde vezes que alguns agentes da PM e da PSP não atuam em conformidade com a
lei. Portanto, não posso estar mais de acordo com o facto de alguns
comerciantes e moradores estarem contra esta situação. O mais grave é quando o
presidente da junta pede a intervenção da PM. Violando o dever de sigilo a que
estão obrigados, alguns agentes, ao multarem os automobilistas, informam que
estão a proceder assim porque foram chamados pelo edil de São Bartolomeu. É
certo que, embora não o devessem fazer, também não me preocupa muito porque é
para o bem da freguesia. Já agora, aproveitando esta oportunidade, escreva lá
também que a “venda ambulante”, contrariamente ao prometido, ainda não está resolvida
pela Câmara Municipal. É uma vergonha para a Baixa e para a cidade.”
REFLEXÃO: UM DEBATE PELA BAIXA
Como se sabe, estamos a escassos
meses das eleições autárquicas, o que, em consequência, quer dizer que os
partidos e mais propriamente os candidatos já estão todos a afiar o gume das
espadas para o pleito eleitoral. Antes de prosseguir, como ressalva, ficarão os
leitores a saber que nesta página não se aconselhará o voto em quem quer que
seja dos candidatos já anunciados ou que venham a ser. No entanto, não quer
dizer que, do ponto de vista da objetividade, não se critique as suas medidas prenunciadas
e que venham a fazer parte das suas promessas sobre a revitalização da Baixa.
Estamos ainda numa fase embrionária e sabemos pouco sobre o que tencionam fazer
para retirar esta parte histórica da sua decrepitude e letargia. Um dado se
conhece: os três candidatos anunciados pelo CDS-PP, pelo PSD e pelo PS, respetivamente
Luís Providência, Barbosa de Melo e Manuel Machado, estão fortemente imbricados
e com responsabilidade no passado de decadência desta zona de antanho. Num
momento em que o desânimo grassa pelas ruas da amargura, de comerciantes e
residentes, tendo em conta o recessivo momento histórico que atravessamos, é
preciso colocar estes representantes partidários entre a espada e a parede.
Recuar mais não é possível. Então, nesta fase, queremos ver homens de barba
rija a comprometer-se sobre a sua honra e dignidade sobre o que vão fazer e,
sobretudo, de que vão empenhar-se na reconstrução deste perímetro tão carregado
de memória. Vamos debater a Baixa?
1 comentário:
Permita que diga que a Rua das Azeiteiras é das ruas mais bonitas e emblemáticas da baixinha, reconhecida pelos enúmeros restaurantes de qualidade.
Que lhe parecem o Ford Fiesta Vermelho e VW passat preto estacionados 365 dias à entrada da referida artéria junto à "PRAÇA VELHA"?
um apaixonado por coimbra e alta e baixinha
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