quarta-feira, 6 de julho de 2011

UM POEMA EM MEMÓRIA DO "ASPIRANTE"




Tantos anos deambulei pelas ruas da cidade,
sobretudo, desde que deixei de ser elegante,
perdi a minha decisão naquela bestialidade,
estúpido acidente na estrada, tão arrepiante,
um amigo morreu naquela anormalidade,
outro, eu, em estado crítico, ficou agonizante,
nunca mais fui o mesmo, perdi a agilidade,
tornei-me um fantasma meio cambaleante,
dividido entre humanos, uma ambiguidade,
símbolo em gestos repetidos de autocolante,
brisa ondulante, vento suave de genialidade,
fui reconhecido entre todos por “aspirante”,
a maioria tratava-me bem, com amizade,
outros, preocupados com a sua vida delirante,
olhavam e viam um louco por fatalidade,
coisa sem nome, um monstro apavorante,
mas eu tinha sentimentos, coração, bondade,
quando avistava uma criança era apaixonante,
algo naquele ser me lembrava infantilidade,
agora que parti e deixei essa vida alucinante,
agradeço a todos, a muitos, a disponibilidade,
tantas mensagens de dor, de pesar, é fascinante,
é bom saber que, sendo diferente, deixei saudade,
a minha passagem, embora curta, foi marcante,
não fui apenas mais um demente na clandestinidade,
a divagar por entre ruelas, becos, de modo errante,
fui alguém que não teve sorte nesta desigualdade,
estava à hora errada, no local certo, foi determinante,
para escrever o meu futuro nas linhas da infelicidade.

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