quarta-feira, 27 de julho de 2011

UM COMENTÁRIO RECEBIDO QUE VEIO MESMO A CALHAR....

 

Liliana deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA COMUNICAÇÃO INTERESSANTE DA CMC": 


 Relativamente a esta questão, considero que falta dar o devido valor a quem a idealizou e continua a contribuir para que todos os anos esta feira se realize. Há 19 anos nascia a 1º representação de uma feira medieval em Portugal, idealizada e organizada pela ADDAC – Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra. Desde então, esta associação, em parceria com a Fundação INATEL e a Empresa de Turismo de Coimbra organiza todos os anos a Feira Medieval que tem lugar no Largo da Sé Velha.
Sobre a questão da feira medieval se realizar, ou alagar-se à Baixa, foi uma questão em tempos colocada, quando a Igreja da Sé Velha esteve em obras e a feira foi realizada na Baixa. Nessa altura, se bem me lembro, os comerciantes da Baixa, que quer queiramos quer não, parece que ainda têm muito peso nestas questões, fizeram tudo por tudo para que a feira medieval, idealizada pela ADDAC, passasse a ser feita na Baixa. Lembro-me que eu, também na altura, escrevi para o Diário de Coimbra, em defesa da Feira Medieval no seu sítio original e que não fazia, nem faz sentido que ela seja alargada à Baixa. 
A feira medieval, como o seu próprio nome indicada, só faz sentido exactamente no que era o antigo burgo. E por outro lado, considero que a beleza da feira é exactamente a forma como está criada e o lugar onde ela se realiza actualmente. Alargar a feira até a Baixa tirar-lhe-ia todo o interessa que ela tem. 
Não sou comerciante, nem da Alta nem da Baixa, sou apenas uma “salatina” –nascido na Alta, em redor da Universidade, compreendendo a zona do Largo da Sé Velha para cima- e “chibata” –nascido do Largo da Sé Velha para baixo, compreendendo as zonas de Almedina e Sousa Bastos-, que ama a Alta de Coimbra com uma enorme paixão, mas que também não fico indiferente aos problemas que afligem o comércio na Baixa, e continuo a comprar na Baixa, a frequentar os restaurantes da Baixa, enfim. 
No entanto, acho que a Baixa deveria pensar em outras formas de levar mais pessoas à Baixa em vez de “roubar” as ideias dos outros. A APBC tem levado a cabo iniciativas de louvar, como o “baile da rosa”, as “noites brancas”, iniciativas essas que tenho ido sempre. Nessas noites, faço questão de jantar num restaurante da Baixa e ficar por lá, num espaço que conheço desde que me lembro. Mas o que me entristece é que nem todos os comerciantes participem nestas iniciativas e nessas alturas encontro muitas lojas fechadas. Mas depois queixam-se!
Mas lá está, eu não sou comerciante, e a minha visão é apenas de alguém que gosta de fazer compras na Baixa, no mercado, de ir a restaurantes da Baixa, de alguém que já fez inúmeras entrevistas a comerciantes da baixa.
Talvez seja demasiado bairrista e paire em mim um sentimento de egoísmo perante a possibilidade de a feira medieval passar a ser feita, ou alargar-se à Baixa.
Peço desculpa por este meu desabafo e obrigado pelo seu blogue do qual sou fã. 
Queira aceitar os meus cumprimentos
Liliana 

***********************************************

NOTA DO EDITOR:

 Começo por lhe agradecer o seu feliz comentário, Liliana. Achei muito interessante, sobretudo, porque às vezes a memória prega-nos uma partida. Eu estava na Sé Velha aquando da realização da primeira feira medieval há 19 anos e pelo envolvimento do Dr. Alfaiate através da ADDAC. A verdade é que só agora, depois do seu texto, recordei o momento, que foi extraordinário, diga-se a propósito.
Como a minha memória já não é o que era, esqueci também esse ano em que a feira foi realizada na Baixa e alguns comerciantes se manifestaram no sentido dela passar a ser realizada aqui –sei lá!, se calhar eu fui dos que manifestei essa vontade. Às tantas até teria escrito qualquer coisa no Diário de Coimbra. Sinceramente, não me lembro, mas sou muito menino para ter mandado o meu “bitaite”.
A seguir vamos à minha proposta. Começo por lhe dizer que concordo consigo. A feira medieval não deve sair do seu lugar original. Aqui, chegados a este ponto, peço-lhe, leia esta minha crónica… (clique aqui em cima).
Já leu? Agora vamos discutir a minha ideia. O que lá defendo não é um alargamento da feira medieval mas antes uma ligação a esta. Ou seja, no texto que escrevi, constatei que nesse dia de feira na Alta a Baixa estava com pouca gente. Hipoteticamente quem viesse de fora nesse dia, se não soubesse do evento na Alta, poderia não subir as escadas do Quebra-Costas. Então o que defendo nesse escrito de opinião? Uma ideia muito simples: fazer aqui na Baixa, ao mesmo tempo da feira medieval na Sé Velha, um certame de artes e ofícios tradicionais… mas contemporâneos. Composto este evento por profissões em vias de desaparecimento e outras já desaparecidas, como por exemplo o vendedor de “banha da cobra”, o latoeiro, o cesteiro, a bordadeira de Almalaguês, o sapateiro, o artesanato em geral, e teatro de rua alegórico às profissões -como, por exemplo, em paradigma de espectáculo, a prostituta a ser assediada por um velho, e que pode dar um momento único em teatro de rua. É óbvio, que esta "profissão" é entre aspas, apenas falei desta prática como modelo de peça de teatro. Está de ver que não está em desaparecimento, antes pelo contrário. Estou a ser claro?  O que quero deixar explicado é que será possível juntar ainda nesta feira de artes e ofícios, para além do cénico, velharias em venda de rua, uma tenda com exposição de profissões em desaparecimento do meu amigo Teresinho e outra de artigos eróticos –ambas com acesso restrito- esta do meu amigo Paulo Moura (se ambos estivessem de acordo, embora, pelo que conheço deles, tal seria possível).
Ainda no tocante à feira de artes e ofícios tradicionais, olhe vi este magnífico espectáculo em Oliveira de Azeméis e fiquei preso pelo beicinho. Claro que não defendo uma colagem à ideia destes nossos amigos. Em tudo, devemos ser diferentes e originais. Deles devemos partir para uma feira só nossa e feita á nossa medida e criação.
Não sei se consegui ser muito claro, mas o que defendo são dois espectáculos distintos, mas presos em cordão umbilical de ligação entre a Alta e a Baixa. O que quero dizer, é o envolvimento de todo o Centro Histórico –Alta e Baixa- em duas acções diferenciadas, mas presas no mesmo objecto: fazer de Coimbra, em três dias, o centro do Centro de artes. Daí eu ter enviado o meu texto para a vereadora da Cultura, Maria José Azevedo, da Câmara Municipal de Coimbra –e agora através do seu texto, cheguei à conclusão que, ao enviar-me para o Inatel e para a Empresa Municipal de Turismo, também a senhora vereadora não teria percebido a minha ideia na totalidade. Por isso, e complementando com tudo o que escreveu, estou-lhe duplamente agradecido.
Muito obrigada, mais uma vez, Liliana.
Abraço.
Luís Fernandes


1 comentário:

Liliana disse...

Sr. Luís Fernandes.
Antes de mais, peço imensa desculpa, mas de facto não foi essa a ideia com que fiquei. E provavelmente, tal como diz, também a Sr.ª Vereadora terá tido uma interpretação diferente da sua ideia. Não obstante, e desde já lhe tiro o chapéu, que se assim for é uma iniciativa de louvar. É de facto uma ideia fantástica promover dois eventos distintos, mas com elos que a ligam, um na Alta e outro na Baixa.
Tal como lhe disse sou chibata com muito orgulho, e apesar de conhecer as diferenças entre os salatinas e os chibatas, a linha que os separa é tão tenua, que me considero ser ambas as coisas. Isto porque, apesar de a minha casa se localizar no bairro chibata, parte da minha vida foi passada na parte de cima do Largo da Sé velha, e por isso o ser salatina também me está no sangue. Mas acima de tudo, apoio qualquer iniciativa que se faça no centro histórico (Baixa e Alta), porque é o meu desejo, e sei que o seu também, de ver todo este espaço, renascido, vivificado, renovado… é para isso que ambos trabalhamos todos os dias, ainda que em áreas distintas.
Quanto a lá estar à 19 anos?! Ainda me lembro de ir comprar gelados ao café Sé Velha e depois ir ter com o meu pai (Fernando Pêra) ao Ateneu ou ao café Oásis, ou de ficar no largo da Sé a brincar com imensos miúdos que na altura habitam por lá… Saudades de ver a Alta com vida! Saudável!
Bem haja!
Liliana