sexta-feira, 29 de julho de 2011

O TEMPO DA FUTILIDADE

(IMAGEM DA WEB)




 Futilidade, “qualidade do que tem pouco ou nenhum valor; carácter de quem dá muita importância ao que é insignificante ou inútil; frivolidade, superficialidade”, assim explica o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.
Antes de prosseguir, como ressalva de interesses, tenho de me confessar fútil. Ao fotografar isto e aquilo, que não interessam ao menino Jesus, ao escrever sobre assuntos que não têm qualquer utilidade o que estou eu senão a mostrar completamente o meu lado frívolo? O que quis dizer com esta salvaguarda, e antes de alguém me atirar às trombas, é que, inevitavelmente, todos somos um pouco superficiais. É evidente que uns mais do que outros.
No entanto, apesar do que escrevi atrás –se calhar a tentar mostrar que sou melhor do que pareço-, creio que estamos todos a entrar num ponto sem retorno. Ou seja, em vez de apenas lavar a cara de manhã na bacia da ninharia, sem nos apercebermos, estamos todos a tomar banho no oceano da insignificância.
Os exemplos são demais. Começo por este, que foi o que me chamou a atenção: “Dispensa de gravata no Ministério da Agricultura entra hoje em vigor”. Continuando a ler o artigo no Económico ficamos a saber que por esta tão importante alteração de usos e costumes até foi promulgado no Diário da República um despacho e assinado pela ministra da tutela Assunção Cristas –que, para que não se tome uma coisa por outra, declaro já que gosto mais da cara desta ministra do que da de Ferreira Leite. Valha-nos isto.
Vou então continuar a procurar mais futilidades que é para ver se me saio bem neste exercício que ninguém me encomendou. Assim, à pressão, lembro-me logo da legislação sobre o tabaco, e nesta nova forma de, utilizando a lei como instrumento e prenha de argumentos salvíficos, padronizar a sociedade.
Não é a primeira que escrevo sobre este mesmo assunto, e, por isso mesmo, estou a repetir-me, “uma sociedade que legisla sobre a relação entre pais e filhos, dando a estes a possibilidade de se queixarem dos seus progenitores; uma lei que consigna o crime público como a violência doméstica nas relações familiares; uma presumível lei de proibição de piercings”, escrevi isto em 2008, é a continuada construção de uma colectividade vazia e que aceita de ânimo leve ser manipulada na sua vontade, sobretudo no que lhe é intrínseco e deveria ser do seu foro privado e exclusivo.
Este deixar ao legislador o controlar de assuntos que são da nossa estrita decisão individual é muito mais do que ridículo. É o continuar a construir com o nosso beneplácito uma sociedade irresponsável e amorfa que, individualmente, não se conduz sem que outros, no poder, imponham a sua vontade. É como se à nossa volta cada um de nós, sem cérebro e amoral, perdesse a capacidade de reivindicar e separar o bem do mal. É o de, passo a passo, passarmos de seres pensantes a autómatos.
Sabemos todos que vivemos num sistema padronizado, e estas manifestações risíveis, em princípio, mais não buscam do que, para além de outros instrumentos como os “mass media”, tornar-nos ainda mais iguais e mais insignificantes.
Hoje vivemos na era “light”. Tudo é leve, inodoro, incolor e de usar e deitar fora. Se atentarmos bem começa logo por cima. Repare-se nos actuais dois secretários-gerais dos dois maiores partidos políticos. Quem são eles? Líderes que fizeram o seu percurso político na juventude dos seus partidos, nas Jotas.
Ainda agora, há pouco, aquando de eleições internas nos partidos PSD e PS, quer Passos, quer Seguro, em pleito com outros dirigentes mais pragmáticos e com mais experiência de vida, bateram facilmente os seus opositores. É lógico que “ligth” mais ligth” dará uma solução ainda mais leve e o resultado a médio prazo, inevitavelmente é a substituição… por outro mais “light”, claro!
Porque agora no tocante aos partidos de governo e oposição, como alguém já disse, a intenção não é refundar o país, mas antes mostrar que se faz, numa espécie de baralhar, substituir os jogadores que dão cartas, e ficar tudo na mesma.
Bem se sabe que não é fácil de mexer com interesses. A pressão é colossal –utilizando este adjectivo agora tão em voga. Mas alguma coisa terá de se fazer. Em vez de se mostrarem medidas de encher o olho, que na prática não têm qualquer resultado a não ser entreter as hostes, o que era preciso era atacar os problemas de fundo. E há tantos, mas tantos. Agora, ao correr da pena, lembrei-me, por exemplo, fará sentido ser a Polícia Judiciária a investigar os incêndios? Há dias ouvi na rádio, havia no país, nesse momento 53. Ora, sabendo nós que a maioria é de índole criminosa, haverá meios que aguentem esta proliferação? É certo que o que será preciso é acabar com a sua deflagração, mas, ao que tudo indica, vamos continuar assim até não haver mais nada para arder e, pelos vistos, antes disso ainda se acaba é com a Polícia Judiciária –como se sabe, sempre que haja suspeita de fogo-posto, quer seja em 10 metros quadrados, quer seja em 50 hectares, esta polícia é sempre chamada a investigar. Não era mais fácil dar formação à Autoridade Nacional da Protecção Civil ou à Guarda Nacional Republicana, polícia esta que está muito mais perto das populações?
Acabei por me dispersar no contexto do título que me deu azo a escrever, mas penso que está tudo ligado a esta forma de aceitarmos tudo sem nos interrogarmos e sem perdermos um minuto a pensar seja lá no que for. Mas afinal é esta a intenção de quem sempre nos governou e governa. Não será?

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