terça-feira, 12 de julho de 2011

AS SÍNDROMES QUE SE ESCONDEM NESTE TEMPO

(IMAGEM DA WEB)



 O meu amigo está recostado num pilar de pedra da Praça do Comércio, aqui na Baixa da cidade. Ele é comerciante e tem 50 anos de idade. Há poucos meses teve um AVC, Acidente Vascular Cerebral, e agora está em franca convalescença. 
A esposa, um pouco mais velha, tem 60 anos. Quem olha para a sua aparência ágil não lhe dará mais do que a mesma idade do marido. Trabalhava numa loja comercial do Centro Histórico que encerrou há cerca de dois anos. Desde essa altura que está desempregada.
Ela está a poucos metros do meu amigo e colega. Como se os seus olhos fossem um detector de metais, com grande afinco, percorrem os intervalos das pedras de calcário em forma de seixo. Sempre que se apercebe de um pequeno objecto, curva-se, apanha-o e guarda-o no interior de uma das mãos como se de um pequeno tesouro se tratasse. E anda assim em círculo, ao longo da velha praça.
Quando passei por ele, atira-me: “ó pá, já viste a minha mulher? Então não é que deu em apanhar tudo o que é clip, pionés, ou outro qualquer arame sem valor e leva tudo para casa? Isto é que é uma mania?! Estou farto de ralhar com ela, mas não me ouve! Para que raio quer ela essa porcaria?!”
Lá lhe fui dizendo que, provavelmente, a sua esposa estará doente. Deveria, com urgência, levá-la a um médico especialista em psiquiatria, antes que piore e desenvolva outras associações como o desleixo com a higiene. Lá lhe fui adiantando que a minha avó paterna sofria da mesma doença há cerca de meio século. Nunca se entendeu a razão da anciã e minha familiar levar tudo o que era lixo em formas mínimas para o seu quarto e deixar de se lavar. Só há poucos anos, em pesquisa aqui na Internet, descobri que estes casos são uma patologia designada pelo nome de “Síndrome de Diógenes”.
Fiquei a pensar neste assunto. Quantas patologias, quantas síndromes, andarão por aí à vista de todos nós e embrulhadas neste tempo de preocupação? Talvez valha a pena pensar nisto.

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