segunda-feira, 18 de julho de 2011

DESABAFO DE ARRUMADOR

(IMAGEM DA WEB)




-Bom dia, como está? Cumprimento.
-Bom dia! Nada bom…
-Ai não? Então porquê? Interrogo.
-A minha companheira foi embora. Dava-lhe tudo. Era tão atencioso para ela. Entregava-lhe o dinheiro todo do dia. Quem é que entende as mulheres?! Deve ser mau-olhado. Sei lá! Alguma bruxa que me viu. Ou então, se calhar, foi a outra… nunca mais tive sorte desde que ela me deixou há um ano atrás. Fui sempre tão bom para ela! Estivemos casados 19 anos. Casados pela igreja… está a ver? Olhe que quando a aceitei tinha dois filhos pequenos –e faz o gesto, descendo com a mão direita até meio-metro do chão.
Não valeu de nada -prossegue. Os agradecimentos, que recebi, foram deixar-me a falar sozinho. Um homem sofre, sabe? A gente afeiçoa-se e faz daquela pessoa um lago nosso, muito nosso, de águas calmas… o nosso mar, onde pescamos à linha, com rede e à mão. É o nosso mundo. Entende?
De repente… zás! Acontece uma coisa destas.
Foi a Internet. Eu bem não a queria lá em casa. Foi essa maldita que ma levou. Passava a vida no “mensenger”, no “Facebook”, e sei lá que mais! Deixou-me agarrado. Foi o que foi! Deu no que deu! Isso eu sei!
Depois arranjei esta, e, sabe?, uma pessoa, aos poucos, vai esquecendo a outra. É como se começasse de novo. É como se adquirisse uma terra inculta, cheia de silvas e tojeiros que está para ali abandonada. Ninguém lhe liga. Ninguém a quer. Uma pessoa entrega-se de corpo e alma no seu rejuvenescimento. Aos poucos começa a pensar para si mesmo: está a valer o esforço. Agora acertei! É então que, depois de todo investimento feito, começa a ser cobiçada por outros. É injusto, sabe? Isto dói muito…
Mas olhe, também lhe digo: ainda bem! Sabe que ela era muito ciumenta e neurótica? Sim, depressiva. Muito depressiva! Era bipolar. Já ouviu falar nessa doença? Um dia, há talvez seis ou sete meses, sei lá! Estava eu a falar com uma vizinha. Então não é que ela sai de lá de dentro com uma vassoura… só tive tempo de pôr a mão à frente. Levei com o cabo aqui no pulso que até parece que ainda sinto a pancada –e roda o antebraço como se fosse uma escova de limpa-vidros.
Outra vez pegou numa faca da cozinha e ameaçou-me com ela. Sabe que cheguei a ganhar medo que ela me mandasse para os anjinhos durante o sono?
Algumas vezes até cheguei a sonhar que ela me estava a espetar a lâmina. Tantas vezes acordei sobressaltado!
Olhe, se calhar foi a minha sorte. O que é que você acha?...

2 comentários:

Palavras Soltas disse...

O corolário de amores e desamores.
Nada é eterno, e o amor não está fora disso, quanto muito a amizade ainda resiste.
Ter uma vida em comum, sólida e feliz, vai sendo cada vez mais uma utopia, o cansaço,a rotina, são os verdadeiros inimigos, não falando já de outros motivos graves,como a violência,o desinteresse e a traição,problemas económicos, etc., são tantos os obstáculos a ultrapassar, que é uma odisseia manter um casamento saudável e feliz, nos dias de hoje, sim porque nos de ontem, havia mais ponderação, mais tolerância e mais compreensão,para além dos tabus referentes à separação e ao divórcio.
Entre o antes e o agora...,onde estará o meio termo????
Mia

LUIS FERNANDES disse...

Olá, Maria. Muito obrigada por teres comentado.
Em relação ao teor do teu comentário, é assim, de facto. Vivemos tempos do "usar e deitar fora"... até nas relações. Onde estará o meio-termo? Perguntas e com muita razão...
Um grande abraço, Maria.