(ESCREVI ESTE TEXTO EM 2008. PODE VER AQUI. SEI QUE ME FICA MAL ESTAR A AUTO-CITAR-ME, MAS, TENHO CERTEZA, VALE PENA RECORDAR O QUE ESCREVI NESSA ALTURA)
De vez em quando o Rádio Clube Português (de Coimbra), tal como a outros ouvintes, pede-me para comentar temas diversos sobre a cidade. Hoje a pergunta era sobre o Metro Ligeiro de Superfície (MLS) e se concordava com o seu traçado.
Tal como afirmei no programa em directo, volto a reiterar, para além do que leio nos jornais, pouco sei. Uma coisa é a informação, outra é o conhecimento, o “mergulhar” no processo. Por outras palavras, digo aqui com humildade, sou um comentador de “trazer por casa”. Daqueles que embora tendo uma opinião é pouco credível pela sua ligeireza.
E o que disse eu sobre o Metro, interroga você, com alguma curiosidade, sobre o que pensa o comentador “expert” generalista?
Como já o pensava antes, não me foi difícil dizer que este plano de ramificação do MSL é pouquíssimo ambicioso. E esta falta de ambição, em minha opinião, vai ser-lhe fatal.
Coimbra é uma cidade demasiadamente instável em fluxos de pessoas. Os seus habitantes, na maioria residentes estudantes (cerca de 40.000), são ambivalentes: de Segunda a Sexta-feira vêm de fora para dentro, como se o centro da cidade fosse o seu núcleo central de atracção, e de Sexta a Domingo à noite a cidade fica deserta e reduzida à sua ínfima condição de urbana dependente do sub-urbano. Então e isto quer dizer o quê? Quer dizer que para um investimento de milhões ser viável terá de funcionar todos os dias. Pois!, pensa você, mas se a cidade é assim como é possível inverter a convergência de pessoas?
Seria possível se este MSL não fosse um projecto de “dentro para dentro”. Contrariamente, deveria ser um plano abrangente, em que abarcasse os concelhos limítrofes, de fora para dentro da cidade. Deveria ter sido criada uma zona metropolitana (o nome é irrelevante) que, numa espécie de círculo em torno do concelho de Coimbra, assimilasse as localidades da Mealhada, Cantanhede, Montemor-o-Velho, Granja do Ulmeiro, Soure, Condeixa, Lousã e Mortágua. De modo a trazer pessoas destas áreas circundantes para Coimbra.
Como é um projecto megalómano criado para uma grande cidade e não propriamente para uma média cidade com um concelho de cerca de 140.000 habitantes, ainda para mais de afluxo migratório inconstante, o seu tempo vindouro –sem querer ser ave de mau agoiro- terá o mesmo futuro que o MSL de Mirandela. Ou seja, uns milhões de défice mensal para acabar inactivo.
Porque é que será megalómano?, e não sou original a escrevê-lo, é que estas cidades médias em vez de apostarem numa boa rede de transportes públicos, se possível, não poluentes, conservando a sua originalidade, na simplicidade, querem o impossível, e depois quem vai pagar a factura é o “povo”, ou seja, toda a imensa massa abstracta de contribuintes futuros.
E, no tocante a transportes urbanos, o que é que se tem feito em Coimbra? Acabou-se com os eléctricos, quase se extinguiram os velhos tróleis, e o que resta são os autocarros…que servem mal as localidades limítrofes.
Nos últimos anos, em políticas de transportes, a cidade tem andado ao “deus dará”. Por um lado tem-se apelado a que não se traga carro para o centro, mas, antagonicamente, os transportes colectivos servem mal, e, por outro lado, incompreensivelmente, assistiu-se, nos últimos anos a uma desenfreada construção de parques de estacionamento na Baixa. E continuam mais
Como se sabe, proximamente estão previstos mais dois, um na Praça da República e outro na Praça D. Dinis, junto à Universidade. Faz sentido isto? Se calhar faz, eu é que sou mesmo do contra…nada me contenta.
Ainda referente à construção do traçado do MSL pela Baixa, o corte, com a demolição de casario medieval, entre o Largo das Olarias e a Praça 8 de Maio, num centro histórico como Coimbra, foi simplesmente criminoso.
Quanto ao traçado em si, e de acordo com o meu vizinho, o blogue “Piolho da Solum”, penso também que se a sua passagem nas Ruas General Humberto Delgado e D. João III contribuírem para retirar tráfego automóvel é óptimo, se for aumentar a confusão o futuro, naquela zona, será andar ao centímetro.
Eu sei que estou a ser longo, como sempre, mas ainda digo mais, com a futura construção da Estação B a norte, tudo indica que a Estação-Nova irá ser desmantelada ao tráfego ferroviário. Se disser que este acto vai ser catastrófico para a Baixa, tenho a certeza que não exagero.
Há cerca de um ano, um amigo meu, “um granda maluco”, deu-se ao trabalho de um dia da semana, das 06 às 10.00 horas, contar as pessoas que “aportam” nesta Estação A de Coimbra. Sabem qual foi o número impressionante a que chegou? Segundo as suas contas, cerca de 3.000 utentes dos comboios afluem ao centro da cidade. Alguém já pensou nas consequências para a Baixa da supressão deste histórico “cais” de embarque e desembarque?
2 comentários:
-"Coimbra é uma cidade demasiadamente instável em fluxos de pessoas. Os seus habitantes, na maioria residentes estudantes (cerca de 40.000)"
Atenção que os estudantes, vindos de outras cidades e que residem temporariamente em Coimbra, apesar que passarem cá a maior parte do ano, não contam como habitantes de Coimbra. Por isso, Coimbra tem cerca de 140 mil habitantes aos quais se devem adicionar, aproximadamente, 30 mil estudantes que não são habitantes efectivos de Coimbra, mas que na prática é como se fossem pois usam os mesmo serviços e infraestruturas que os habitantes.
Em relação aos fluxos de pessoas para Coimbra, veja esta imagem com dados do INE: http://img262.imageshack.us/img262/1629/movimentos.jpg
-"Como já o pensava antes, não me foi difícil dizer que este plano de ramificação do MSL é pouquíssimo ambicioso. E esta falta de ambição, em minha opinião, vai ser-lhe fatal."
Para dizer isto, sem conhecer o projecto, as linhas que estavam previstas e as linhas que estavam a ser estudadas, mas vale estar calado.
Só para concluir, resta-me dizer que é essencial melhorar a mobilidade de Coimbra, e o metro é uma mais valia nessa aspecto.
Já chega de visões retrogradas e de velhos do Restelo com frases do tipo: "é um projecto megalómano" e "Coimbra não precisa o metro".
Concordo com o comentário anterior. O metro é essencial para Coimbra e para os concelhos vizinhos que assim beneficiariam de uma ligação rápida e confortável até Coimbra.
Vejam o exemplo do metro do Porto (sistema igual ao que ia ser feito em Coimbra) e a grande melhoria de mobilidade que este trouxe.
São as mentalidades tacanhas, que acham que não faz falta o metro em Coimbra, que não permitem que a cidade evolua a um ritmo superior ao desejável.
Cumps.
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