terça-feira, 11 de janeiro de 2011

UM ANO VELHO QUE PARTIU

(IMAGEM DA WEB)



Estou sentado, a pensar, em frente ao computador,
enterrei o ano velho, sem tristeza, sem saudade,
lembro, não me fez rico nem me deu mais amor,
em troca, malvado, deu-me mais um ano de idade,
se o peso da velhice me fizesse mais conquistador,
mais corajoso, talvez nem me importasse de verdade,
mas nada, continuo na mesma lengalenga, sem ardor,
sem vontade de ir à guerra, sem chama da mocidade,
estou cada vez mais deslavado, caquéctico, sem alvor,
a olhar o infinito através da vidraça de clandestinidade,
falta-me a garra de outros tempos, a fúria de agitador,
a força do centurião que abre os portões da cidade,
político convergente, harmonioso, raio de luz, redentor,
sou simplesmente uma sombra próxima da eternidade,
recordo tempos que lavrei na Lua, como agricultor,
semeando nas margens das nuvens grãos de felicidade,
agora olho à volta, vejo terras em pousio, sem cuidador,
quem vai alimentar o passarinho, sentir humanidade,
olhar o céu, e seguir com os olhos o voo do Condor,
o que me interessa o rendimento e a produtividade,
os milhões, os biliões, a dívida, o mercado agitador,
a eleição presidencial, as indirectas sem amabilidade,
que um é mais sério, diz, se todos mentem sem censor,
querem poleiro, vendem a alma em troca de amizade,
falam de Pátria como eu escrevo sobre frio sem calor,
tirem-me daqui, enviem-me para longe, tenho ansiedade,
qualquer lado serve, Marte, Vénus, ou até o Equador,
quero ir para longe, onde o euro não seja a única divindade,
ter paz, olhar o Olimpo azul sem o fantasma do Adamastor,
sentir-me leve, uma pena a esvoaçar sem artificialidade,
cheirar a terra negra, levá-la ao nariz, como faz o cavador,
quero lá saber se o Mourinho é no mundo uma genialidade,
o que me importa é o resultado do todo e não de um clamor,
não embarco em viagens de ilusão, em pingos de banalidade,
não me tentem vender sonhos para servirem de amortecedor,
prefiro um coração sofrido manchado do que rosas de falsidade.

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