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“Será possível prender a atenção de alguém, dissertando sobre a vida e a actividade de uma simples casa comercial?
Afinal, lojas abertas ao público, transaccionando produtos, não são vulgares no dia-a-dia dos cidadãos?
É verdade que sim. No entanto, há exemplos de lojinhas, que saem da vulgaridade, que atravessam os tempos, que servem gerações de clientes, e se servem de gerações de profissionais, mantendo uma qualidade de serviço uniforme e acima da média, merecendo, por isso, a preferência duradoira dos consumidores.
A doçaria e confeitaria a que nos referimos, localizada na Praça Velha ou Praça do Comércio, ganhou prestígio e notoriedade no comércio coimbrão, por uma actividade ininterrupta de mais de dois séculos, tornando-se na mais afamada casa do género, produzindo e comercializando grande variedade de doçaria tradicional de Coimbra e do centro de Portugal.
A lista é longa e variada: Pastéis de Bom Bocado, Trouxas de ovos, Biscoitos e Sequilhos de limão, Rebuçados de Avenca e alteia, Castanhas de ovos, Bolos de amor, Pastéis de Santa Clara, Amêndoas e confeitos de açúcar (ou de casamento), Doce de Gila, Amêndoa e Pinhão Mole de Coimbra, Doce de Ginja, Marmelada e Geleia de Marmelo, Lampreias de Ovos, Bolos de Gema, Argolas Folhadas, Doce de Cabaço, etc, etc.
É possível reconstruir a lista de nomes dos proprietários, desde há um século até ao seu encerramento, em 1981.
Em finais do século passado, era a casa dirigida por João Figueiredo Peixoto. Por ciclos mais ou menos uniformes de cerca de três décadas, sucederam-lhe sua afilhada, Maria Luiza dos Santos, e, nos anos vinte, as filhas desta, Maria José e Cândida Nazareth dos Santos, geriram o negócio até à década de cinquenta.
Por morte de Cândida Nazareth dos Santos, em 1951, sucederam-lhe um seu afilhado, Joaquim da Fonseca Oliveira e sua esposa, Dália de Jesus, que prolongaram por mais trinta anos até à morte dele (1981) esta verdadeira referência do comércio da cidade e de inegável valor cultural.
Aparecem, inclusive, referências à casa e à sua actividade nas imponentes festividades que a Universidade de Coimbra levava a efeito, e que, segundo a praxe, obrigavam à distribuição de doces pelo Reitor, Lentes e Padrinhos das Cerimónias, cabendo ao Guarda-Mor uma bandeja de guloseimas.
Curiosamente, não há indicações dos nomes que esta casa comercial terá tido, para além dos nomes dos respectivos proprietários à época.
Porém, os consumidores fiéis encarregaram-se de lhe atribuir um nome: Mijadinhas!!!
Imagine-se uma doçaria chamada desta forma! Parecem ser contrariadas as mais elementares regras publicitárias.
Só se pode entender que tenha assim apelidada por carinho e ternura para quem produzia tais iguarias.
Não foi certamente pelo nome que lhe foi atribuído popularmente que esta Doçaria e Confeitaria deixou de funcionar durante duzentos e seis anos, sendo homenageada por organismos oficiais nacionais e locais, tendo a última homenagem ocorrido em 1995, na pessoa da única doceira viva, Dália de Jesus, por parte do Rotary Clube de Coimbra.”
Jorge Oliveira
Descendente dos últimos proprietários
(TRANSCRIÇÃO DO TEXTO, ESCRITO EM CIMA, DE JORGE OLIVEIRA, DESCENDENTE DOS ÚLTIMOS PROPRIETÁRIOS DO "MIJADINHAS", A QUEM AGRADEÇO A AMABILIDADE)
2 comentários:
Caro Jorge Oliveira,
Quando fizeram uma exposição na Casa da Cultura sobre as "Mijadinhas" eu esqueci-me de anotar a receita dos fabulosos bolos de ovos (seriam os de bom bocado?).
Será possível consegui-la ainda?
Talvez o sr. Jorge Oliveira a possa dar.
Como foi mostrada na exposição, já não deve ser segredo.
Cumprimentos,
António Olaio
Esqueci-me de dar o meu email:
a.olaio@sapo.pt
Obrigado
António Olaio
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