(CLEMENTE PARA EMÍLIA SOLER: "VAMOS MAS É EXPERIMENTAR A CARRINHA. É QUE SE NÃO FUNCIONAR, DIZEM LOGO QUE DEI UMA COISA QUE NÃO PRESTA PARA NADA)
(CLEMENTE TEVE DIREITO A POEMA COMPOSTO PARA O EFEITO)
(A CARRINHA DOADA PELA JUNTA À COZINHA ECONÓMICA)
(CLEMENTE ESTÁ FELIZ, JUNTO DO PADRE JESUS RAMOS)
(O SENHOR GASPAR A MOSTRAR QUE, EMBORA ESTEJA DE COSTAS, ESTÁ ATENTO. POETA PENSA. AO MESMO TEMPO QUE JORNALISTA -JOÃO CAMPOS, DO JN- OBSERVA)
(DONA EMÍLIA SOLER ESTÁ FELIZ)
Maria Emília Soler, presidente da Associação das Cozinhas Económicas da Rainha Santa Isabel, mostra num sorriso aberto, de orelha-a-orelha, o quanto está feliz. E talvez não seja para menos: acabou de receber as chaves de uma carrinha nova, marca Berlingo, das mãos do presidente da junta de freguesia de São Bartolomeu, Carlos Clemente, e oferecida pelo seu executivo.
Clemente está nervoso. É perceptível nos seus gestos alguma ansiedade. De óculos escuros, vai procurando responder a todas as perguntas de vários jornalistas. Entretanto o padre Jesus Ramos dá início à celebração de benzer a carrinha. Em homilia vai enfatizando “que Deus abençoa com toda a gratidão tudo o que se traduza em ajuda aos pobres”.
Embora não sendo jornalista, Clemente anui em responder-me a uma questão pertinente. Quando lhe pergunto o porquê de só agora, em plena campanha eleitoral, esta oferta ser feita, responde: “foi por acaso. Há pouco tempo estive a falar com uma assistente social da casa e ela transmitiu-me a dificuldade que era andar com os contentores de alimentos a serem transportados à mão, porque não tinham meio de transporte. Fiquei a matutar no assunto, como tínhamos uma verba disponível, levei a proposta ao executivo e aprovámos. Mais nada”. Responde-me o presidente da Junta de São Bartolomeu. Continua Clemente, “ainda lhe digo mais: no pretérito ano, oferecemos à Cozinha económica uma máquina de lavar louça a estrear e 25 contentores para transporte de alimentos. Acha que no ano passado também estava em campanha eleitoral? A cozinha económica é uma obra social que, pelo trabalho desenvolvido, o executivo a que pertenço muito se orgulha. A Baixa, graças ao esforço abnegado de muitas pessoas que aqui labutam, pode sentir-se envaidecida por ter uma instituição tão reconhecidamente interessada em servir uma refeição quente a quem nada tem. É minha obrigação, enquanto presidente desta junta, contribuir para esse esforço”, retorque Clemente, em desafio à minha interrogação.
Emília Soler está junto de Maria Teresa Vale e Maria da Conceição Cunha Vaz, respectivamente, presidente, vice-presidente e tesoureira da Instituição. Quando formulo a pergunta: diga-me, Dona Emília, cá para nós que ninguém nos ouve, não acha estranho esta carrinha ser oferecida, agora, a uma semana das eleições? “Não, não acho, nem devo achar. A Associação a que presido é uma obra de grande vulto que, embora viva de subsídios, vive muito da caridade, da boa vontade, do altruísmo de muitas pessoas, umas anónimas e outras não. Portanto, eticamente, é de muito mau gosto, questionarmo-nos ou questionarmos quem nos ajuda e porque o faz. As razões extrapolam o objecto social da Cozinha Económica. Estamos muito agradecidas ao senhor Clemente e a todo o executivo de São Bartolomeu. É uma grande gentileza esta sua benfeitoria que muito vem contribuir para prestar melhores serviços aos acamados. Que Deus os abençoe a todos”, enfatiza Emília Soler, presidente da Cozinha Económica.
No banco verde de madeira, no largo sobranceiro ao edifício, está sentado um velho conhecido meu, o senhor Gaspar, um homem sensível, um poeta –que um dia destes falarei dele aqui e da sua história de vida- utente diário da Cozinha económica. Então, também para ele vai a mesma pergunta: que tem a dizer desta oferta ser feita agora, em tempo de eleições?
“É um gesto muito bonito. É uma forma de ajudar uma instituição que muito tem feito por nós. São todos muito bons. A boa vontade, a solidariedade, está impregnada nestas paredes centenárias. Que seria de tantas dezenas e dezenas de pessoas, utentes como eu, sem esta casa de portas abertas aos mais carenciados? Responde o senhor Gaspar em interrogação. E continua, “não tenho dúvida de que é um gesto também de cariz político, por causa das eleições. Mas, e depois? O que interessa é o fim público a que se destina não os meios que proporcionam a oferta. Ainda bem que assim é”, enfatiza o meu amigo Gaspar.
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A Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel, mais conhecida por Cozinha Económica, foi criada em 1933 e possui três valências: refeitório social, onde servem perto de 500 refeições diárias; o Centro de Dia para utentes da Baixa e o Apoio Domiciliário.
(Fonte: Diário as Beiras, de 22 de Setembro)
3 comentários:
Muito bem. é deste tipo de iniciativas que o povo e Portugal agradeçem , mas é preciso ter atenção, não ao seu conteudo mas sim no tempo que se fazem tais ofertas, é que cheira a eleitoralismo, o que é em termos eticos e morais muito questionavel.
Criativo
Começo por lhe agradecer o seu comentário. Em seguida, gostaria de lhe dizer que sou amigo de Carlos Clemente. No entanto, apesar deste facto, tento escrever de uma forma independente. E, de tal modo, repare como desenvolvo o texto, sempre na perspectiva do leitor: "será que foi por ser tempo de eleições?". Tudo o que escrevo aqui no texto, em perguntas e respostas foram formuladas às pessoas.
Agora, e mais engraçado, hoje, através de Carlos Clemente, vim a saber como é que "aquela verba disponível" foi parar à junta.
Penso que amanhã já a terei escrito. Posso garantir-lhe que é uma "história" muito interessante.
Fique atento.
Espero não o desapontar.
Um abraço.
Luis Fernandes.
srº Luis já publicou o texto como é que a verba disponivel foi parar a junta? Gostava de o saber para não fazer falsos juizos de valor.Mas tambem ja sei que foi aprovado por todo orgão executivo da Junta.
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