sexta-feira, 1 de maio de 2009
HOJE É O 1º DE MAIO
O palco está montado para mais uma efeméride do dia dos trabalhadores. Mais logo, a seguir ao almoço, vozes inflamadas, que paulatinamente se vão tornado roucas pela emoção, vão vociferar contra o governo. Em apêndice, juntarão este sistema neo-capitalista agora em derrocada. Falarão dos ordenados escandalosos dos gestores de empresas semi-públicas. Dispararão os canhões argumentativos contra os políticos e o seu desinteresse em resolver os problemas de cada um.
Os sindicalistas, vestindo a pele de salvadores dos trabalhadores fracos e oprimidos, de cravo vermelho ao peito, de braço no ar, pregarão por mais justiça social e reivindicarão a queda deste executivo governamental de direita, que se diz de esquerda. Clamarão contra os patrões, exploradores de mão-de-obra barata, e, em cantata, apelarão ao coro de “O povo unido jamais será vencido”.
No canto esquerdo da Praça 8 de Maio, o Carlos Alberto, de cinquenta e poucos anos, engraxador de profissão, reformado por invalidez e que recebe pouco mais de 300 euros para alimentar a prole caseira, que mora ali próximo, numa transversal esconsa onde o sol nunca se põe, numa casa de renda degradada, e que já comeu a broa que o diabo amassou sem milho e sem fermento, olhando todo aquele aparato, levará a mão direita ao autocolante que tem pregado no peito. Mentalmente com os seus botões, pensará: “que diabo, há 35 anos que assisto a esta festa e a este discurso sempre igual. Que porra!, nem eu mudo de vida para melhor; nem nunca mais acabam com o velho inimigo, a direita –ou será a esquerda?, de repente até fiquei “valhelhas”!; nunca mais se acerta com um governo de vez; nunca mais se acaba com os capitalistas, ou com os comunistas? Ou serão os socialistas? –fiquei outra vez lerdo; nunca mais se acabam com os ricos…ou são os pobres que deveriam extreminar? –estou xexé de todo, não dou uma p’ra caixa”, pensa o Carlos Alberto.
“Ora, Ora! Eu quero lá saber dos discursos destes tipos. Já que não me trazem nada de novo, eu quero é festa. Mas quando é que vem o Vitorino cantar? Ou é o Janita Salomé? Fosca-se, nem o homem canta, nem eu almoço…”
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