(Imagem apanhada no Google)
“mostra
a nu que a entidade pública Universidade de Coimbra,
à
custa do erário público, é capaz de tudo para, de forma
interesseira,
impor a sua verdade construída e assente num
umbiguismo
exacerbado”
Na
edição de ontem o jornal PÚBLICO, num suplemento patrocinado de
sete páginas e mais duas de publicidade, sobre os cinco anos da
inscrição da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, na Lista de
Património Mundial da UNESCO, Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura, mostrou como, a troco de
contra-pagamento, se pode dar um exemplo de jornalismo no seu pior.
Enquanto
leitor diário de jornais locais e nacionais eu já sabia que o mundo
da imprensa escrita em papel caminhava num terreno sem chão, lodoso
e peçonhento, e cada vez mais inclinado para o desaparecimento de
grandes títulos que fizeram história -como é o caso do Diário de
Notícias que, no próximo mês, vai apenas ser publicado uma vez por semana e na
Internet. Mas, no fundo, bem no fundo, sempre tive esperança de um
retorno, e um deles, a meu ver e até agora, por perseguir uma linha
editorial de independência, quer de partidos políticos, quer do
grande capital manipulador, seria o PÚBLICO.
Com
o trabalho encomendado ao diário fundado por Belmiro de Azevedo,
ontem publicado, fiquei com a certeza de que estamos cada vez mais a
caminhar para o charco.
Na
minha modesta opinião de leitor, o jornal portuense, em paradigma,
mostrou o pior que se pode “vender” a um universo de
adquirentes de informação: uma reportagem enviesada,
onde o elogio barato ao pagador sobressai, manipulada, atentatório
aos bons usos e costumes e a uma independência jornalística que se
exige. Uma espécie de corrompimento legal, declarado e aceite
tacitamente na frase “Suplemento Patrocinado”. Quanto
teria custado a encomenda realizada pela Universidade de Coimbra, é
a questão acessória. Já quanto à inquirição principal nem
precisa de grande exercício de análise: mostra a nu que a entidade
pública Universidade de Coimbra, à custa do erário público, é
capaz de tudo para, de forma interesseira, impor a sua verdade
construída e assente num umbiguismo exacerbado. Mais: que,
sem oposição do poder local que convive de braço dado, é uma
cidade maior dentro de uma cidade menor. É a prova provada que,
sendo um Estado dentro de outro Estado, é uma espécie de Vaticano
encravado.
Quem
leu a peça do PÚBLICO, ontem, certamente como eu, ficou com a
certeza de que Coimbra, em relevância, é somente composta pelo
património classificado pertencente à Universidade e… ao Café
Santa Cruz, que era referido na peça duas vezes pelos seus pastéis
Crúzios. Para além do considerado pelo articulista só o deserto. A
restante cidade, fora da área onde as faculdades estão implantadas, é um vazio,
não existe. Nada que surpreenda! Os indícios, para quem quiser ver, são mais que muitos
UMA
BOA LIÇÃO DADA PELO “CALINAS”
Quem
faz o favor de ler o que escrevo sabe que, volta e meia, ando de
candeias às avessas com a imprensa que se faz na cidade. Na maioria
dos dias que compõe um ano, é um jornalismo apagado, sem chama,
sem glória e rendido aos poderes instituídos na cidade. De trás
para a frente, lê-se transversalmente um jornal da cidade em três
minutos.
Pois
pasme-se! Desta vez o local Diário de Coimbra (DC), em especial
pelos seus 88 anos de existência, transcendeu-se. Como a querer dar
uma palmada de luva branca ao concorrente nacional PÚBLICO, o diário
do emérito Adriano Lucas apresenta hoje um trabalho de cinco
estrelas sobre os cinco anos da classificação como Património
Mundial.
Sem
publicidade paga pela Universidade de Coimbra, o DC, ouvindo todos os
actores, desde o Reitor da Universidade, passando por outros órgãos
do poder representativo, até moradores e comerciantes, dá hoje uma
lição de como fazer bom jornalismo, livre e independente.
Curiosamente
os patrocinadores deste caderno especial com 32 páginas vão desde
uma página inteira apadrinhadas pelos Forum Coimbra, pela
Auto-Industrial, pela CIM-RC, Comunidade Intermunicipal Região de
Coimbra, e Iberocar, ren-a-car, até pequenos anúncios de juntas de
freguesia, instituições públicas e privadas e dos melhores do
nosso comércio e da nossa indústria que representam a cidade dos
estudantes.
Duas
vezes parabéns ao Diário de Coimbra.
1 comentário:
Como a Universidade de Coimbra é a principal e única razão pela qual Coimbra está na lista do património mundial, seria muito estranho que não dessem relevo à Universidade. Aliás, a universidade é a única instituição que realmente funciona em Coimbra e o seu reitor tem-se revelado um excelente gestor do seu património. Se não fosse a universidade, Coimbra tinha um terço dos seus visitantes. Mas Coimbra é uma cidade tão mesquinha que não é capaz de ver isso. Nas entrevistas, o reitor farta-se sempre de apelar ao esforço das restantes instituições. O que leva como resposta, são textos deste. Eu sou de Viseu, não se importam os coimbrinhas de transferir a universidade para Viseu, e livram-se assim do que não querem?
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