sexta-feira, 15 de junho de 2018

EDITORIAL: ANA, BAST(os)A DE TIROS NO PÉ

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Por conseguinte, das duas uma, ou o movimento Somos Coimbra
fala a uma só voz para as grandes questões de cidade, como é o
caso da urgente recuperação da zona histórica, ou olhando para o
passado recente de outro movimento concorrente às eleições locais
em 2013, se não tiver cuidado, vai acontecer-lhe o mesmo.”


No semanário Campeão das Províncias desta semana é noticiada a posição de Ana Bastos, vereadora no executivo, sem pelouro, eleita pelo movimento Somos Coimbra, sobre a implantação do IKEA no Planalto de Santa Clara, processo que, entre o vai e não voltes e o há-de vir se deus nosso senhor quiser, se arrasta há cerca de uma dezena de anos.
Ora, parafraseando o Campeão e este citando a acta camarária de 07 de Maio, o que disse a autarca e docente universitária no hemiciclo? Tanto como isto:
A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) “deve acolher, incentivar e facilitar a fixação de empreendimentos geradores de emprego e de riqueza, razão por que não pode desperdiçar uma oportunidade absolutamente essencial para o desenvolvimento da cidade e da região Centro
E disse mais ainda: “Há mais de cinco anos que a população de Coimbra espera pela instalação da multinacional de origem sueca”, que acenou com um “empreendimento-âncora de influência supra-regional”, vincou Ana Bastos. DE acordo com ela, para além de mais de 300 postos de trabalho directos e indirectos que se perdem, o investimento da IKEA contribuirá para combater a perda de população do concelho conimbricense e para atrair milhares de pessoas residentes na região Centro. “O pior que poderá acontecer a Coimbra é a IKEA vir a instalar-se noutra cidade da região Centro”, alegou a autarca.”
E rematava assim: “Exige-se que a CMC reactive, com êxito, este processo, cuja resolução depende unicamente de si e que será um factor de atracção de mais investimentos; se não o fizer, Coimbra corre o risco de ver o dossier ser remetido para as calendas gregas ou de outras cidades, como Aveiro ou Leiria, aproveitarem esta janela de oportunidade” concluiu Ana Bastos.

RESPIRAR FUNDO E INTERROGAR

Quem lê com atenção o terço de página do reputado jornal local fica sem saber se estas declarações de Ana Bastos são feitas em nome pessoal ou em representação do movimento que representa no executivo municipal.
É que sendo em nome individual, falando como consumidora e sem responsabilidade no governo da cidade, as suas alegações são legítimas. Afinal todos sabemos que, no seu todo, os consumidores são uma massa abstrata que, sem visão de planeamento futuro, alcança apenas um ponto de vista imediato e egoísta.
Se o seu desempenho foi em nome do movimento Somos Coimbra, então, sendo assim, só os lerdos entendem esta sua argumentação. Ou seja, classificam-na como estouro de pólvora seca, vazia e sem nexo.
Por que gosto muito de política, pela boca de José Manuel Silva, acompanhei de perto as declarações deste novo agrupamento cívico e também do PSD, através do candidato Jaime Ramos. Se este último foi peremptório no apoio directo a novas grandes áreas comerciais -o que, entre outros tiros no pé, contribuiu para perder a edilidade para Manuel Machado-, já Manuel Silva foi deixando passar a ideia de que era frontalmente contra novos grandes pontos de venda. E foi dizendo amiúde que na sua candidatura cidadã a recuperação da Baixa era um desígnio estrutural.
Por conseguinte, das duas uma, ou o movimento Somos Coimbra fala a uma só voz para as grandes questões de cidade, como é o caso da urgente recuperação da zona histórica, ou olhando para o passado recente de outro movimento concorrente às eleições locais em 2013, se não tiver cuidado, vai acontecer-lhe o mesmo.

COM AMIGOS DESTES, MACHADO NÃO PRECISA DE INIMIGOS

Tenho muita pena de plasmar o que vou escrever a seguir: Coimbra, nas suas mais de quatro décadas de democracia, nunca teve uma oposição tão fraca, tão desorganizada, tão desconhecedora dos verdadeiros problemas que assolam a urbe e o concelho.
Podemos até acompanhar o féretro com muitas rosas desculpabilizantes, entre outras, descarregando na imprensa o ónus da situação, afirmando que oculta e não descreve as iniciativas da oposição. Mas, para quem segue a doença desde a primeira manifestação, nas suas metástases, dá para ver que o caso é bem mais grave.
É na minha opinião, e vale o que vale, quer a coligação Mais Coimbra, composta pelos partidos PSD/CDS-PP/MPT/PPM, quer o movimento Somos Coimbra dão a parecer que, por um lado, estão com assento na câmara cada um por si, a fazer o seu caminho individualmente por pessoa, por outro, a procurar não desagradar a ninguém e tentar satisfazer todos. Não é preciso ser licenciado em sociologia para perceber que, com estas ambições desorganizadas e antagónicas entre si, este percurso vai acabar muito mal para as agremiações partidárias. Claro que quem mais fica a perder é o munícipe-eleitor, que continua a ser uma espécie de bola de pingue-pongue nas mãos destes senhores.
Não admira que, com todos os defeitos estratégicos apontados, Manuel Machado apareça no meio deste ilusório jogo político como um Golias contra David. É certo que na história bíblica este último mata o primeiro, mas isso foi noutras eras, no tempo dos Filisteus. E a história nunca se repete com as mesmas circunstâncias.

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