quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

MÁ SORTE SER COMERCIANTE NA BAIXA




 A semana passada mais um comerciante da Baixa ficou sem a casa onde habitava. Tal como muitos negociantes, este homem começou de coeiros a trabalhar no comércio. Hoje está praticamente sem nada. O banco, como ave de rapina num deserto de vã glória, vendo a fragilidade da presa, engoliu-a sem dó nem piedade. Nos últimos três anos, aqui no Centro Histórico, aconteceu o mesmo a cerca de meia-dúzia de comerciantes. Todos ficaram na miséria, sabe-se lá se com dinheiro para se alimentarem.
Neste momento, para além de a grande maioria de pequenos logistas estar no fio da navalha e alguns destes não terem dinheiro sequer para adquirirem medicamentos, pelo menos quatro estão na iminência de ficarem sem loja, sem casa para morarem, sem subsídio de desemprego -porque não é consignado na lei.
Dizer que neste Janeiro já encerraram três lojas, e que até ao fim do mês mais duas estão à espera do último dia de um tempo que não deixa saudades, já nem causa surpresa. Uma destas tem quarenta anos de existência e foi, na década de 1970, um ícone na moda em Coimbra.
Ora, então, perante este cenário aterrador que está perante os nossos olhos, será de supor que, quer por parte dos comerciantes que ainda estão em actividade, quer pelas entidades representativas, há grandes movimentos no sentido de acudir a quem está com um pé na indigência. Pois! Deveria ser, mas não há nada. Ninguém se preocupa. Os que estão, ainda, de lojas abertas, num completo desleixo, entorpecimento, desinteresse, abandono, não querem saber o que está acontecer ao vizinho. Mesmo sabendo que, como roleta russa, estão na calha, ao serem convidados para tomarem uma atitude, escusam e esperam pacientemente a sua vez de encerrarem portas.
As associações representativas da classe, no caso a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, numa inércia inexplicável, continuam mudas e quedas. Esta última a ACIC, numa postura a raiar o indecoroso, para não escrever criminoso, desonerando-se completamente da responsabilidade institucional e histórica que carrega, não quer saber do que se está a passar. Como coveiro num cemitério que espera os mortos para serem enterrados, esta associação está de braços cruzados.
A APBC, com um bom trabalho na dinamização de eventos, atirando para a ACIC a representatividade do comércio tradicional, numa espécie de descarregar a incapacidade, sacudindo a água do capote, salvo num caso pontual, vai assobiando para o lado. Se, neste reino de apatia, entretanto surgir um movimento do interior do comércio, ou de fora como foi o caso recente de Sérgio Reis- um comercial que, através de uma reunião, tentou criar alguma dinâmica-, a preocupação de alguns dos membros da direcção é correr na antecipação, atabalhoadamente, e sabotar a acção. Como se tivessem medo de que, quem está deveras preocupado, quisesse ocupar os seus lugares. Como se, para além de algum protagonismo e ligação directa à Câmara Municipal, os seus cargos interessassem a alguém.
Quer a ACIC, quer a APBC, perante a autarquia, sempre tiveram uma atitude de chapéu na mão. É o nítido paradigma do português que se revê no Egas Moniz. Não quer dizer que a humildade não seja necessária, o problema é quando, a troco de umas lentilhas de importância ilusória pessoal, o servilismo se torna patológico e deixa de se exigir para toda uma classe o que esta tem direito. E escrevo isto a pensar na dívida que a autarquia de Coimbra tem para com os comerciantes de rua. Basta consultar a Acta de 14 de Outubro de 2002, no seu Ponto VII – Planeamento VII.1. do Fórum Coimbra –Multi 16 Sociedade Imobiliária S.A. –Informação Prévia, Processo 2927/2001. Aí, com intervenção de plena defesa do então vice-presidente, Pina Prata, ficou escrito que este projecto da Multi 16 SA teria parecer favorável –como teve por maioria- se, em compensação ao comércio tradicional da cidade, fosse construída a “Casa do Comerciante”.
Perante o que está a acontecer aos profissionais do comércio, que, repetindo, estão a cair diariamente na indigência, já que a ACIC morreu, está na altura da direcção da APBC, uma vez que não aceita ajudas de fora, dar um murro na mesa e “obrigar” a edilidade a cumprir a promessa que estabeleceu. Até porque, lembro, a própria agência não tem sede própria. assim sendo, se houver vontade política por parte do executivo camarário, como uma cajadada satisfaz-se duas necessidades prementes. O caso é demasiado sério. Convém não esquecer.


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1 comentário:

Jorge Neves disse...

Não sou comerciante mas podem contar comigo para ajudar na Casa do Comerciante.