quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

FACEBOOK MURO DAS LAMENTAÇÕES

(IMAGEM DA WEB)


 Ao longo da história o homem sempre teve necessidade de ter o seu muro das lamentações. Numa espécie de catarse, num sentimento dividido entre o medo e o despejar do espírito, sempre precisou de plasmar em qualquer lado os lamentos que lhe atrofiavam a alma. Exceptuando o próprio Muro das Lamentações, em Jerusalém, sem grande rigor, teria sido com os arremedos, numa espécie de trautear à sua amada. A seguir, provavelmente, teria começado nas pinturas rupestres. Depois, com a música e surgimento dos instrumentos. Com a invenção da escrita, passou as suas lamúrias para a pedra. Com a descoberta da tipografia, por Gutenberg, por volta de 1439, teria passado a sua choradeira para os livros. É obvio que as guerras e as cruzadas ao longo da Idade Média, certamente, também teriam o seu quê de descarregar a alma em fúria no mais fraco; assim como a Inquisição ao longo de todo o Renascimento. Com a Revolução Francesa, em 1789, com o Iluminismo e o reconhecimento do indivíduo enquanto sujeito de personalidade jurídica, estou em crer que a carência de esvaziar e lavar a alma teria um aumento desmesurado.
Em Portugal, com os ventos vindos de França, com o início do Liberalismo, em 1820, e todos os seus ideais republicanos e antimonárquicos, e com a primeira imprensa escrita, como por exemplo “O Archivo Popular –Semanário Pinturesco”, em 1837, e os jornais que lhe seguiram, é natural que os carpidos, progressivamente, fossem tomando as formas inseridas na liberdade possível e até à Implantação da República, em 1910. A partir desta data, com percursos de maior ou menor autonomia, e até 1926, em que foi enterrado de vez o liberalismo em Portugal, as lamúrias foram sendo o possível. Com a implementação do Estado Novo e até Abril de 1974, a permissão de cada um poder abrir a alma foi um martírio só plausível, muitas vezes, graças à inteligência dos mais ousados.
Depois da Revolução de Abril, em que todos falavam do que queriam e sem olhar ao que se afirmava, mesmo assim, durante mais de uma década, encontrávamos os muros e fachadas de prédios cheios de grafites com frases revolucionárias e outras que nem tanto. A seguir vieram as portas das casas-de-banho de qualquer café nacional pejadas de mensagens.
Com a invenção da Internet resolveu-se o problema físico da conspurcação, substituindo-se todos os anteriores procedimentos. Actualmente o Facebook é o muro das lamentações nacional. É incrível o que se assiste neste sítio da Web mundial. Em analogia, poderemos pensar que esta página, na actualidade, é a porta da retrete de Portugal. Lê-se aqui de tudo. Recorre-se aos meios mais obscenos que se possa calcular para difamar qualquer um. E o mais grave é que é na maior das impunidades. Se antigamente, no caso das portas de WC’s, as mensagens eram escritas anonimamente, agora, sem qualquer despudor, dá-se a cara e ofende-se quem quer que seja, chegando a beliscar a honra. 
E comecei a escrever este arrazoado porque li hoje um documento no Facebook que, pretensamente, seria uma ficha de inscrição de Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa, na PIDE e como agente desta polícia de informação e segurança do Estado Novo. Não tenho competência para aferir da veracidade do documento –embora não tenho dúvida de que se tratará de uma falsificação-, mas, estou em crer que estamos perante um procedimento que deve merecer por parte do Ministério Público uma resposta imediata. Só porque se trata de uma figura política –por acaso o mais alto magistrado da Nação- aproveitando a maré caluniosa, não dá o direito de qualquer um vir arrogar-se em acusador público. Mais grave ainda, porque quase tenho a certeza, é o facto de se darem ao trabalho de fazer uma montagem para denegrir o Chefe de Estado.
É preciso limites para as lamentações. Embora a maioria não as queira, é urgente construir algumas regras para este Facebook, agora muro mundial das lamentações e frustrações.


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