sábado, 28 de janeiro de 2012

UM COMENTÁRIO RECEBIDO...




Melissa Pereira deixou um novo comentário na sua mensagem "DO BARULHO ENSURDECEDOR ATÉ À VITÓRIA FINAL": 



  É de lamentar que uma pessoa aparentemente tão instruída não saiba separar as coisas. As aparências iludem. Desvalorização do que fazem os jovens? Obrigada mas não. Onde se admite que pessoas com reformas de 485€ (outras menos) paguem um passe de 51€?

Se calhar a si não lhe pesa, que deve ganhar muito.
Esses alunos a que se refere especificamente (quanto ao facto de estarem a beber cerveja) não falam por todos, além de que isso ocorreu após o protesto. Nós lutamos por outra causa, esta foi só mais uma delas. Há dois anos troquei a minha véspera de Natal acomodada por sorrisos e abraços de sem-abrigo. Passei horas a distribuir comer e agasalhos pelas ruas. Até roupa que tinha vestida dei. Quer falar sobre isso?
Não seja retrógrado e não desvalorize o trabalho dos outros. Não somos todos iguais. A verdade é essa. 


NOTA DO EDITOR

 Começo por lhe agradecer o comentário, Melissa. Antes de argumentar em defesa dos meus pontos de vista gostaria de lhe dizer que não sou muito instruído –no sentido de que, por falta de tempo e impossibilidade, li muito pouco, sobretudo os clássicos que todos dizem ter lido, e mesmo a frequência escolar foi a possível. Quanto muito, tento ser esclarecido.
Com humildade, quero dizer-lhe, minha cara Melissa, que, quando apela para eu não ser retrógrado e não desvalorizar o trabalho dos outros, tenho também algo a dizer. No primeiro caso, de ser retrógrado –que se opõe ao progresso-, confesso, muitas vezes e neste caso específico sou. Mais à frente explicarei porquê. No segundo, “de não desvalorizar o trabalho dos outros”, tenho de lhe dizer que habitualmente tento não o fazer, mas, quando o intento, argumento com os meus pontos de vista. Neste caso concreto, e aqui já me estou a adiantar, é que não estou a desvalorizar o trabalho dos manifestantes. Sabe porquê? Porque esta mostra não é labor. Sendo claro e incisivo, o trabalho dos alunos, enquanto exercício profissional, é estarem nas aulas e não na rua.
Continuando, digo-lhe que, como refere, o facto de haver reformas de 485 euros, é escabroso, concordo consigo. Mas essa preocupação transcende –ou pelo menos deve ultrapassar as preocupações de alunos com a vossa idade, sensivelmente entre 15 e 17 anos. Incluindo o custo dos passes sociais. Esse sentir cabe aos vossos pais. Não quero dizer que um adolescente pré-adulto não deva informar-se sobre tudo o que se passa à sua volta, porém, por muito que se interesse sobre política –da polis-, falta-lhe o conhecimento e a maturidade, adquiridos com a experiência empírica. Na minha forma de ver, um adolescente como você, creio, deve preocupar-se, acima de tudo, em aprender. É para isso que a escola, enquanto extensão do Ministério da Educação, foi criada.
O problema da educação em Portugal, nos últimos 30 anos, é que está demasiado politizada. Claro que não será por culpa dos alunos, mas sim dos sucessivos ministérios que, entre avanços e recuos, não sabem o que fazer e também de uma classe de professores, muitas vezes, demasiadamente preocupada com a sua sobrevivência e elevadamente dividida entre vários sindicatos.
Gostaria de lhe dizer que não me fixei extraordinariamente no caso de alguns seus colegas estarem a beber cerveja –que, contrariamente ao que afirma, foi durante a manifestação, mas isso também não interessa nada. Chamei o assunto à colação porque, suportando-me dessa imagem, queria mostrar um outro mundo, subterrâneo, que existe para além do que se apreende. Hoje vivemos num tempo em que é moda manifestarmo-nos contra tudo, umas vezes com e outras sem razão. De tal modo, neste acaso de que argumento, que me parece inconcebível as escolas presentes na manifestação terem facilitado a falta às aulas nesta sexta-feira. As escolas, no geral, deveriam incutir nos alunos o sentimento da necessidade de aprender –não quer dizer que considere despiciendo o emergir do direito de manifestação. Creio é que em vez de despoletar o sentido de o fazer em grupo, deveriam fazer saltar o direito à indignação individual. O agir em massa é sempre estar a escudar-se no todo, sem dar a cara. É mais fácil e até é divertido –como foi o caso de que nos reportamos.
Minha cara, por muito que lhe custe ouvir, o que se assistiu ontem, foi a um carnaval, onde o ruído imperou. Penso que, a haver este tipo de reivindicação, tal, deve ser feito pelos vossos pais. Mais ainda, há locais próprios para ser feito, nomeadamente a Assembleia Municipal e o Executivo. É certo que isso implicaria que os vossos progenitores dessem a cara e, como sabe, a maioria, num mau exemplo para os filhos, não quer. Então vai-se pelo lado que é mais fácil: vocês, enquanto filhos e alunos. Primeiro porque, devido à vossa pouca idade, são muito mais fáceis de envolver em causas, segundo porque estão mesmo ali à mão de semear. Numa frase curta: vocês estão a ser instrumentalizados.
Gostaria de lhe dizer também que, contrariamente ao que muitos vos dizem, não há direitos inalienáveis –mesmo plasmados na Constituição. Há direitos a manter, como princípios indicadores da cidadania. Mas, tais, só serão alcançáveis enquanto o meio social envolvente, entre o contexto e a circunstância, o permitir –para ser claro: o “Ser Pessoa” é um direito constitucional inviolável e inalienável. Porém, em cenário de guerra não vale nada.
O que tento mostrar é que –não pretendendo defender este ou outro qualquer governo- os cortes na educação que estamos a assistir são inevitáveis. Tais como outros, na saúde, por exemplo. Foram conquistados e duraram até ao momento em que o estado económico do país o permitiu. Por muito que custe a entender, isto é mesmo assim.
Gostaria de lhe dizer ainda que faço parte de uma fracção de milhares de portugueses que, tal como os demais, comecei a trabalhar com 10 anos. Não estudei em tempo útil porque estava a ganhar dinheiro para os meus pais. O que estudei, ao longo da minha vida, foi de noite ou, como ave de arribação, cortando aqui, extraindo acolá, tomando notas, ler um jornal no café e mais um livro usado lá adiante. Em suma, fiz a minha formação intelectual a “martelo”. Foi assim a minha vida –tal como milhares de outros, volto a repetir, para que não pense que esta minha experiência me dá mais direitos do que a qualquer outro. Simplesmente se, por um lado não me confere prerrogativas especiais, por outro não é despiciendo –pelo menos para mim. É que não me esqueço que, no meu tempo de escola básica, para a frequentar, andava diariamente 10 quilómetros a pé.
Só para terminar, quando diz que “não me pesa e devo ganhar muito”. Estou a repetir-me, mas trabalho todos os dias –repito, todos os dias- e tento ser uma pessoa poupada. Tenho dificuldades como a maioria. Tento dar a passada conforme o alcance das minhas pernas.
Concordo consigo, quando diz que “não somos todos iguais”. Acontece que, com estas manifestações de rua, dá a parecer que o somos mesmo. Que todos, sem grande esforço individual, temos direitos iguais, mesmo sem a necessária correspondência de obrigação.

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JPG deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO...": 


Obrigado pela paciência e pela lição.

Se as "Melissas" forem ao PRIBERAM saber o significado de algumas palavras que aqui utilizou, foi sem dúvida, mais proveitoso do que a dita "manif".

Claro que a agitação social está normalmente de mão dada com a irreverência estudantil, tal como a ignorância e a arrogância não têm apenas em comum a terminação...

Só aumento das bejecas no NB ou dos shots no Teatrix é que não têm direito a "indignados", Arre!!!

Bom fim de semana! 



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Guida deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO...": 


 Só não concordo quando diz que os jovens não devem sentir as dificuldades. Devem sim, sempre soube o que poderia ou não pedir aos meus pais exactamente por saber como eram as coisas. E se hoje sei encarar as dificuldades económicas que vão aparecendo é exactamente por ter aprendido ao longo da vida: 1º com espectadora, depois como conselheira/cúmplice e depois como actuante. Explico-me (e é só um exemplo): os meus pais decidiram que eu haveria de estudar num Colégio (andei lá 5 anos); pagava-se; os rendimentos não eram assim tantos; para uma instrução melhor (e estamos a falar de um tempo em que havia falta de professores nos liceus, começando muitas cadeiras a ser leccionadas depois do Natal) não havia passeios, nem cinema, nem "barbies", nem consolas... não havia extras desnecessários. No meu ano de finalista (curso superior público) como é normal houve uma viagem, uma semana num local turistico muito procurado. Ôs meus pais só souberam depois dos meus colegas voltarem. É que nem me passou pela cabeça pedir-lhes o dinheiro para tal "gosto".
Já agora, permita-me um extra-comentário: nessa viagem + de 90% dos participantes eram bolseiros. 



2 comentários:

JPG disse...

Obrigado pela paciência e pela lição.

Se as "Melissas" forem ao PRIBERAM saber o significado de algumas palavras que aqui utilizou, foi sem dúvida, mais proveitoso do que a dita "manif".

Claro que a agitação social está normalmente de mão dada com a irreverência estudantil, tal como a ignorância e a arrogância não têm apenas em comum a terminação...

Só aumento das bejecas no NB ou dos shots no Teatrix é que não têm direito a "indignados", Arre!!!

Bom fim de semana!

Guida disse...

Só não concordo quando diz que os jovens não devem sentir as dificuldades. Devem sim, sempre soube o que poderia ou não pedir aos meus pais exactamente por saber como eram as coisas. E se hoje sei encarar as dificuldades económicas que vão aparecendo é exactamente por ter aprendido ao longo da vida: 1º com espectadora, depois como conselheira/cúmplice e depois como actuante. Explico-me (e é só um exemplo): os meus pais decidiram que eu haveria de estudar num Colégio (andei lá 5 anos); pagava-se; os rendimentos não eram assim tantos; para uma instrução melhor (e estamos a falar de um tempo em que havia falta de professores nos liceus, começando muitas cadeiras a ser leccionadas depois do Natal) não havia passeios, nem cinema, nem "barbies", nem consolas... não havia extras desnecessários. No meu ano de finalista (curso superior público) como é normal houve uma viagem, uma semana num local turistico muito procurado. Ôs meus pais só souberam depois dos meus colegas voltarem. É que nem me passou pela cabeça pedir-lhes o dinheiro para tal "gosto".
Já agora, permita-me umm extra-comentário: nessa viagem + de 90% dos participantes eram bolseiros.