terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O FOLCLORE DEMISSIONÁRIO

(IMAGEM DA WEB)


 Como é do conhecimento público, o Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, numas declarações profundamente infelizes, enfatizou que o que recebia –no caso mais de 10 mil euros, segundo a imprensa- não chegava para os seus gastos.
Se, como todos os comentadores já referiram, o proclamado ofende quem trabalhou uma vida inteira e aufere uma reforma de pouco mais de 300 euros, não é menos verdade que todo este arraial em volta deste assunto é, a meu ver, no mínimo indecoroso –estou à vontade para escrever sobre Cavaco Silva, não votei nele para este actual mandato. Não podemos nem devemos esquecer que, para todos os efeitos de legitimação é o presidente de todos os portugueses. Não é preciso ser analista político para verificar que neste folclore há muita frustração, azedume  e ressabiamento, sobretudo da esquerda que nunca o “engoliu”. Porém, no mínimo, esta tomada de posição ideológica deveria ter respeito por quem votou na sua reeleição, mas nem isso. O que estamos a assistir é o comportamento (a)típico de um processo de ajuste de contas. Poderei escrever que é um novo PREC, Processo Revolucionário em Curso, ao contrário. Embora tenha em pano de fundo o sistema político -que não serve o cidadão- o que visa é arrasar o símbolo da mais alta magistratura do Estado.
Poderemos começar por fazer perguntas. Por exemplo, para que serve a petição pública, que até ao momento já assinaram mais de 20 mil pessoas? O texto da rogação diz que “Cavaco Silva, não reúne mais condições nem pode perante tais declarações continuar a representar a população Portuguesa.”
Continuando a citar o texto, diz ainda que “Peso isto bem como o medíocre desempenho do Sr. Presidente da República face à sua diminuta intervenção nos assuntos fundamentais e fracturantes da Sociedade Portuguesa, os cidadãos abaixo assinados vêm por este modo transmitir que não se sentem representados, nem para tal reconhecem autoridade ao Sr. Aníbal António Cavaco Silva e pedem a sua imediata demissão do cargo de Presidente da República Portuguesa.”
E vamos debruçar-nos sobre algumas frases, como esta: “bem como o medíocre desempenho do Sr. Presidente da República face à sua diminuta intervenção nos assuntos fundamentais e fracturantes da Sociedade Portuguesa…”.
É justa esta apreciação? Convenhamos que não. Goste-se ou não do seu estilo, chamar medíocre ao seu desempenho é ofensivo e calunioso. À sua maneira, ele intervém. Naturalmente que não pode agradar a todos. É muito titubeante? A meu ver é! Mas não mais do que isso.
Continuando, “…os cidadãos abaixo assinados vêm por este modo transmitir que não se sentem representados, nem para tal reconhecem autoridade ao Sr. Aníbal António Cavaco Silva e pedem a sua imediata demissão do cargo de Presidente da República Portuguesa.”
Pergunta-se: alguma vez estes cidadãos se sentiram representados por Cavaco Silva? Duvido!
Não reconhecem autoridade porquê? Com base numas frases mal calculadas e proferidas? Se assim é, o melhor é começar logo em casa e pedir a demissão da patroa. A seguir do mecânico, depois o chefe, e por aí fora.
Ainda outra interrogação: pedem a demissão do cargo a quem? Só de for a Deus, porque pelo preceituado da Constituição a Assembleia da República não tem poderes de destituição. Lembro que o Presidente da República só responde “por crimes praticados no exercício das suas funções” perante o Supremo Tribunal de Justiça. É certo que cabe à Assembleia da República iniciar o processo, mas só a condenação por aquele órgão superior de justiça implicará a sua destituição –artº 130 da CRP.
Ora está de ver que estamos perante um “lapsus linguae” que não implica condenação penal. No máximo pode ter implicações políticas, e nada mais.
Outra pergunta ainda: os promotores deste abaixo-assinado não têm conhecimento da lei constitucional? Certamente que têm, mas, verdadeiramente o que os move é o desgaste, o pôr abaixo a qualquer custo. Não me venham dizer que é o superior interesse de Portugal que os agita? O tanas! Querem é festa, e com sangue. Muito sangue!
Claro que poderemos ser levados a pensar que estas pessoas acreditam que Cavaco Silva, para lhes fazer a vontade, vai renunciar voluntariamente. Será que estes cidadãos acreditam mesmo nesta possibilidade? Pode-se acusar o actual Presidente de muita coisa, de falta de jeito, de incoerência, mas jamais de irresponsabilidade. E se isto acontecesse –que parece ser o que os subscritores desejam-, isso sim, poderia ser mesmo o caos para todos nós, tendo em conta o momento económico periclitante que vivemos.
Parece-me que há muita falta de senso por aí. Em contrapartida sobram resquícios de vingança, de frustração. E sobretudo nota-se uma grande falta de patriotismo.
O que querem estas pessoas? Incendiar Portugal?


1 comentário:

Jorge Neves disse...

Eu já assinei a petição!
Este senhor é o principal coveiro de Portugal.