Amanhã, terça-feira, durante a manhã, através de uma pequena comissão, irá ser feito um peditório na Baixa para ajudar o nosso colega comerciante, Armindo Gaspar. Este homem, que trabalhou toda a vida, num descarte de duques do destino, já estava a atravessar o período mais difícil que qualquer um pode sentir. Como se isso fosse pouco, e ainda tivesse que ser mais castigado, esta noite foi assaltado e fustigado com o chicote da adversidade.
Provavelmente, muitos dos comerciantes, perante este acto desesperado, irão comentar de que não é admissível uma situação destas e irão dizer que caberá às instituições desempenhar este papel. Porém, perante a situação de aflição, devemos partir para a sensibilização geral, para a acção, ou, como sempre, passando a culpa para outros e lavando daí as mãos como Pilatos, devemos esperar (sentados) que se reponha uma situação individual de calamidade?
O mal desta classe, no meu entendimento, é chutar sempre para canto os problemas que a aflige. Ando há quatro anos a escrever sobre este assunto. Porque ao longo de muitas décadas estes profissionais sempre viveram bem e agora, por vários factores –sendo a maioria extrínsecos à sua responsabilidade- estão a cair na indigência. Bem sei que custa muito em dar o rosto quando se já lá esteve em cima e agora, num descambar continuado, se está no último patamar que separa o remedeio e a pobreza. Talvez o livro de Elísio Estanque, que dará ao prelo proximamente, com o título “Classe Média, Ascensão e Declínio”, explique em pormenor e sobre a óptica do sociólogo, o não assumir deste decadente estado social.
Contrariando o geral, neste caso concreto, num acto de coragem sem precedentes, o Armindo Gaspar dá a cara –aliás, como sempre fez- mais uma vez para mostrar aos seus camaradas, para mostrar a quem de direito, no caso as instituições, que o seu assobiar para o lado em face do que se está a passar envergonha todos. Não encavaca somente os comerciantes, mostra a frio a hipocrisia reinante no nosso meio. Bem sei que, infelizmente, esta situação de penúria social não é exclusivo desta classe comercial, mas chama a atenção para esta injustiça. Esta agremiação, para além de, durante toda a sua vida, ter contribuído para a riqueza do país, durante décadas, deu emprego e trabalho a quem dele necessitou. Hoje, numa cobardia institucional, estes operadores, caídos na mais reles miséria, não têm direito a subsídio de desemprego.
Pode ajudar amanhã o Armindo?
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