segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A ÚLTIMA LEITEIRA



 Quem passa na Rua Martins de Carvalho, mesmo sem o querer, dá de caras com a dona Elvira Magalhães. A senhora Elvira, com 70 anos, é, provavelmente, a última vendedeira de "leite do dia" existente na cidade. Com a invasão do leite pasteurizado, que não necessita de ser fervido e se conserva durante vários dias, o antigo e tradicional, progressivamente, foi deixando de ter procura. Mas ainda tem alguma. “O "leite do dia", de saco plástico, tem muito mais qualidade do que o de pacote em cartão. Não tem conservantes e é muito mais rico em proteínas. A procura foi decrescendo porque as pessoas, hoje, trocam a qualidade pela facilidade. Essa é verdadeiramente a razão. Até há cerca de 15 anos vendia aqui, diariamente, à volta de 1000 litros. Cheguei a fornecer os Supermercados Colmeia, ali na Rua Visconde da Luz, o Mendes & Companhia, a grande mercearia que, durante décadas, existiu na Rua do Corvo. Hoje vendo entre 50 e 60 litros”, enfatiza a vendedeira do líquido produzido pelas glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos.
A senhora Elvira vende ali há 54 anos. Naquela entrada de porta, na antiga Rua das Figueirinhas –onde funcionou o Conimbricense, o mais antigo jornal de Coimbra-, começou menina, se fez mulher, esposa, mãe e ali envelheceu. “Sabe, não consigo largar isto. É um vício que me corrói. Acredite, já nem é pelo que isto dá –que é muito pouco-, é o hábito. Preciso desta rotina. Se estivesse em casa dava em “maluquinha”, pode ter a certeza. Enquanto puder movimentar-me aqui estarei, mesmo que me considerem uma peça de museu.”


1 comentário:

Jorge Neves disse...

Ainda me lembro de só beber leite do dia.
Quando anoitecia, aproveitava os tabuleiros de cor verde que ficavam nas portas das pequenas mercearias da baixa para descer dentro deles as Escadas de S.Tiago, era o desporto radical da altura. Bons tempos de criança.