Hoje estou assim chateado,
vejo tudo negro e sem cor,
sinto-me meio abandonado,
como se não tivesse amor,
e a minha alma abdicado,
de uma canção sem cantor,
ou um poema acorrentado
num certo livro de autor;
Chamo-me Anildo Monteiro,
vagabundo de becos e ruas,
pedinte de algum dinheiro,
filho de muitas noites cruas,
vivo na calçada do atoleiro,
junto de coisas vazias, nuas,
tenho só por companheiro,
o sofrimento de muitas luas;
Fui o Cristo Negro da Maracha,
quando tinha outra cabeleira,
parecia um boneco de borracha,
sem um cêntimo na algibeira,
agora olho e arreganho a taxa,
raparam-me o cabelo à maneira,
sou a mesma sombra sem graça,
perdida no tempo e aventureira;
Agora já tenho uma casinha,
já não durmo mais na calçada,
sou uma espécie de andorinha
que fez um beiral numa entrada,
nas noites dorme sempre sozinha,
à espera da esperança outonal,
“que dia é amanhã, na baixinha?”,
interrogo, fazendo disso casual.
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