quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CARTA DE UM AGENTE DA PSP

(IMAGEM DA WEB)



"Sr. Primeiro-Ministro
Sr. Ministro de Estado e das Finanças
Sr. Ministro da Administração Interna

Exmo.(s). Senhor(es)

Na qualidade de cidadão português e na qualidade de profissional que pertence aos quadros da Polícia de Segurança Pública, nobre instituição centenária, garante da segurança de pessoas e bens e um dos pilares da democracia e do estado de direito;Venho por esta via, dirigir-me a V/Ex.ª, dada a realidade política,social e a minha condição sócio-profissional que atingiram proporções inimagináveis.

Sou agente da Polícia de Segurança Pública desde 2000, entrei para esta instituição com espírito de dever e desde dessa data, desenvolvo as minhas funções com profissionalismo e dedicação. Mas também entrei com uma legítima perspectiva de carreira e de estatuto profissional.

Desde a data que me encontro na instituição P.S.P., passaram vários governos, vários ministros, vários responsáveis, aplicaram-se vários modelos, várias políticas, várias alterações, mas todas com um denominador comum, reflexos negativos do ponto de vista profissional e consequentemente reflectidos no aspecto motivacional, o que aliado às políticas gerais, provocaram também reflexos em termos sociais.

Durante os onze anos que me ligam à instituição P.S.P, investi num curso superior, em diversas formações internas e externas, para valorização pessoal, mas também profissional.

Estes onze anos que me ligam à P.S.P ficam marcados por congelamentos, por cortes, por limitações, por alterações de regras, com a implementação de regras penalizadoras, em promoções e progressões, que culminou numa perspectiva de carreira totalmente gorada.

Neste mesmo período, as condições de trabalho pioraram, em instalações, em meios, em viaturas, em higiene e segurança no trabalho que nesta instituição nem tão pouco existe.

Encontro-me inserido numa instituição onde o mérito não é valorizado,onde a dedicação não é reconhecida, onde a formação de nada serve, onde as qualidades não são aproveitadas, onde não existe um modelo uniforme de trabalho, onde as leis não são cumpridas, onde impera a teoria da superioridade “artificial”, onde a comunicação interna é adulterada, onde os níveis de responsabilidade são aplicados desproporcionalmente, onde os regulamentos são aplicados mediante pessoas ou interesses, onde ninguém assume responsabilidades, onde não há “líderes”.

A P.S.P. é uma instituição sem estratégia, sem uma visão de futuro, que vive apenas o dia-a-dia, é uma instituição desprovida de camaradagem, refém do poder político.

Direi ainda que é o reflexo da sociedade portuguesa ao momento.

Nestes onze anos, vi as exigências de serviço aumentarem, vi a prática do crime mais sofisticada e perigosa, vi uma desvalorização da minha profissão, vi um poder judicial que demonstra não conhecer o trabalho operacional, vi governos que encaram a segurança interna com objectivos meramente produtivos, criando modelos de repressão rodoviária, com intuitos contra-ordenacionais.

Nestes onze anos, vi o custo de vida aumentar, vi para os polícias e pessoas que vivem do rendimento de trabalho, cortes e mais cortes, vi sectores da sociedade com aumentos brutais de lucros e rendimentos, vi injustiças sociais e sacrifícios muito mal distribuídos.

Em termos profissionais e pessoais, constato que o actual governo, prossegue com a mesma prática política, os mesmos modelos de sempre, inclusive anulando um estatuto profissional e o seu conteúdo por razões orçamentais, congelando uma vez mais o meu ordenado, congelando possíveis concursos, colocando-me estagnado e barrado em termos de carreira, onde me encontro desde 2005, retirando metade do subsídio de natal, retirando-me percentagens no meu ordenado e suplementos.

Por tudo isto, demonstro respeitosamente, a minha profunda desilusão, desânimo e desmotivação, por ter sido mal tratado pelos sucessivos governos do meu país e por continuar a ser.

Respeitosamente."

(RECEBIDA POR E-MAIL SEM ASSINATURA DO AUTOR)


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