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O Diário de Coimbra de hoje noticia “Título honoris causa para António Damásio –para quem não souber, e segundo a Wikipédia, este homem é um médico neurologista, neurocientista português que trabalha nos estudos do cérebro e das emoções humanas.”
Sem dúvida que é um orgulho para a alma lusitana. São personalidades destas que, nos momentos em que nos arrastamos pelas pedras do chão, nos dão algum alento de orgulho nacional, elevando o nosso espírito conturbado e envolto em nuvens negras de pessimismo quanto ao futuro que nos aguarda. E este homem, felizmente para todos nós, não será o único. O mundo estará cheio de portugueses que alcançam o estrelato da fama como tantos e muitos mais que, no manto do anonimato, levam longe a glória e a vaidade legítima de ser português.
Até aqui, tenho a certeza de que estamos todos de acordo. Mas não comecei a escrever este texto para obter unanimidade, muito pelo contrário. Pretendo lançar a discórdia em torno do que parece não oferecer discussão, ou seja, pretendo contestar a atribuição “honoris causa” a este senhor, reconhecidamente famoso no mundo, e a outros. Diria mesmo, a esmo. Ainda não passou muito tempo, o agraciado foi Lula da Silva.
Já em Julho, pela comemoração do dia da Cidade de Coimbra, escrevi aqui que em tempos de vacas magras não fazia sentido atribuir medalhas de ouro a personalidades por mais eméritas que fossem. A razão da distinção deve incidir no acto de solenidade e não no objecto a atribuir, tendo sempre em conta a racionalidade dos custos inerentes. A meu ver não faz sentido continuar-se no mesmo procedimento como se estivéssemos no melhor plano económico e financeiro –na altura recebi um comentário engraçado, a dizer que a inveja era coisa feia. Espero que agora o mesmo leitor não me venha dizer que também estou a escrever contra esta distinção pelo mesmo motivo.
Entrando agora directamente no assunto que me levou a pedir um pouco da sua atenção leitor, gostaria de fazer uma pergunta que nunca é feita por ninguém: quanto custa um reconhecimento “Honoris Causa”? Provavelmente, você que me lê até pensará: “o que é que eu tenho a ver com isso? É um assunto interno da Universidade”. Mas será que é mesmo uma matéria que não dirá respeito ao colectivo? Fará sentido, numa altura de extrema carência económica continuar a apostar em espectáculos cénicos de novo-riquismo e que, pela repetição, raia a vulgaridade e a parolice? Num tempo em que o cidadão comum se debate com problemas gravíssimos para conseguir resistir ao dia-a-dia, aos problemas que o atrofiam, à fome dos filhos –ainda há poucos horas um casal novo, com um bebé ao colo, tentava a todo o custo vender-me um pequeno televisor a preto e branco, num esforço frustrado para fazer dinheiro. Todos os dias vivo este quadro pungente que faz sangrar a alma- terá nexo continuar a esbanjar dinheiro só para reanimar o nosso ego? Alguém se preocupa com o que está a passar a sociedade?
Num primeiro momento até poderemos pensar que esta atribuição será apenas mais uma tradição académica coimbrã que se cumpre. Porém, tendo em conta as anteriores distinções, que são participadas a seguir com um repasto de centenas de pessoas num dos restaurantes mais luxuoso da cidade, esta cerimónia, não se fica unicamente pela chancela protocolar. Quanto vai custar à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação esta distinção a António Damásio?
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1 comentário:
Gostei de ler o que escreveu ,mas em minha opinão,deve continuar a existir para premiar os melhores.Pode é ser avaliado os gastos desta cerimónia,e a medalha em ouro não é importante, um diploma , a divulgação, para todos termos conhecimento de que aquela pessoa se distinguiu, e quais os beneficios que pode trazer, que no caso de Manuel Damásio penso que o beneficio é bem superior aos gastos .
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