DE QUE RIRÁ O CRISTO NEGRO?

Dá pelo nome de Anildo Monteiro,

mora sem morar no largo da Maracha,

tem muita aparência de bandoleiro,

pode parecer que se emborracha,

mas é simplesmente estrangeiro

em terra pobre com elevada taxa;

Mas porque sorri o Monteiro?

Será do imbecil tecnocrata?

Pensará que o julga trombeiro?

Ou quem sabe um primata?

Talvez o julgue paneleiro?

Porque não lhe dão uma mulata?

“Infelizes!”, parece estar a dizer

aos que se esquecem da sua loucura,

“porque se não vão todos foder

mais a vossa miserável impostura,

prefiro finar-me esticado a sofrer,

do que levar nas bentas essa amargura;

Olhem para mim bem comportados,

dessa vossa vida de maluquice

trastes, nunca serão abençoados,

vivam felizes nessa enganosa beatice,

direitos, liberdades, garantias, advogados,

são tão manhosos a enganar na crendice;

Vão pregar para outra freguesia

as vossas lengalengas de vendedores,

não conseguirão roubar-me a alegria,

estou louco mas conheço os causadores,

de bom grado esta loucura vos daria,

cambada de insensíveis, reles estupores;

Baptizaram-me de apelido negro Cristo,

é uma graça como outra qualquer,

até poderiam chamar-me Evaristo,

ou Etelvina, como qualquer mulher,

foi a forma de mostrar que existo,

e sobrevivo neste labirinto de esmorecer."


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