terça-feira, 13 de setembro de 2011

SAI UMA PIZZA, E MUITA MASSA PÚBLICA, PARA A MESA DO CANTO

(FOTO DO DIÁRIO AS BEIRAS)




 Quem costuma ler aqui os meus absurdos desabafos, estou certo, já deveria ter-se apercebido há muito tempo que sou mesmo feito de massa bruta –em antítese com a massa tenra de bolos e massa italiana. Isto é, custa-me a entender as coisas. Sou lento a atingir o que para qualquer um é um “ver se te avias”. Sou lerdo, pronto! Claro que tenho a explicação na ponta da língua: sou filho de gente muito pobre. Ora dizem os cientistas sociais que os gerados na pobreza são muito mais limitados intelectualmente. Portanto, está visto, eis a razão de eu ser um pouco atoleimado. A culpa não me cabe por inteiro, não reside em mim, mas sim nos meus progenitores e no meio em que fui criado.
E estou com este “conversê”, porquê? Olhe, porque tenho o Diário de Coimbra aberto à minha frente e estou a ler na capa, em título, “Nova Cantina aposta nas pizzas”. Levanto a página e deparasse-me a notícia “Pizzas e massas a partir de 1,40 euros no novo restaurante dos SASUC” –Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra. Continuo a ler o “lead” e diz que “Décimo primeiro restaurante dos SASUC funciona entre as 12h00 e as 22h00 e representa uma aposta “completamente nova”, onde é possível gastar menos de dois euros numa refeição.”
Continuo a ler a notícia, e lá mais para meio do texto diz, “é uma boa iniciativa. Temos de ir acompanhando o gosto dos tempos (…) são elevadas as expectativas de que o restaurante “Monumentais” “gere algumas receitas” praticando “preços bastante competitivos” (…) a nova cantina é a prova de que “é possível fazer coisas agradáveis por pouco dinheiro”, sublinhou o reitor João Gabriel Silva”.
Antes de prosseguir, e só para alcançarem que eu sou mesmo grosseiro de ideias, confesso, não entendo nada disto.
Para me ajudar a tentar compreender qualquer coisita, como se estivesse a falar consigo aqui junto a mim, vou partilhar umas dúvidas que me atrofiam o cérebro.

Primeiro, como é que se entende que, numa altura de profunda crise económica e financeira, em que, a nível nacional, centenas, senão milhares, de professores universitários, perante a ameaça de desemprego por razão de cortes no financiamento decretado pelo Governo, todos dias rezam para não perder o emprego, os SASUC continuem a abrir mais restaurantes?

Segundo, como é que o magnífico reitor, estando a utilizar verbas públicas, saídas do bolso de todos os contribuintes, tem a distinta lata de afirmar que “ é uma boa iniciativa. Temos de ir acompanhando o gosto dos tempos, são elevadas as expectativas de que o restaurante “Monumentais” gere algumas receitas praticando preços bastante competitivos, a nova cantina é a prova de que é possível fazer coisas agradáveis por pouco dinheiro.”
Como estou mais baralhado, vou pedir ao magnífico que repita: “é uma boa iniciativa. Temos de ir acompanhando o gosto dos tempos, são elevadas as expectativas de que o restaurante “Monumentais” gere algumas receitas praticando preços bastante competitivos, a nova cantina é a prova de que é possível fazer coisas agradáveis por pouco dinheiro.”

Terceiro, ficou-me uma frase a balouçar: “praticando preços bastante competitivos”. Competitivos com quem? Com os outros 10 restaurantes que já possuem na cidade e pertencem aos SASUC? Ou seja, agora estes serviços deram em competir consigo mesmo?
Ou, pelo contrário, este preço "competitivo" será em relação aos outros privados? Se calhar… Mas acontece que, certamente o magnífico, porque está há pouco tempo no lugar e nunca foi empresário de hotelaria, não sabe que em vez de empregar o adjectivo “competitivo” deveria antes aplicar “destrutivo”, que é o que se passa para todos os hoteleiros da cidade.
Escrevo a pensar naqueles hoteleiros que para abrir um estabelecimento estão, em média, um ano à espera do licenciamento –há casos de um ano e meio.
Escrevo a pensar naqueles hoteleiros que, devido às elevadas rendas e concorrência desenfreada, faliram ou estão na iminência de insolvência.
Escrevo a pensar naqueles empresários que, sem qualquer apoio público ou até um mero incentivo desburocratizante por parte da edilidade, arriscam tudo o que têm e o que pedem emprestado por um sonho.

Quarto, e último. Porque será que sou tão estúpido e não consigo entender este regabofe? É assim, utilizando verbas públicas e lixando as justas aspirações de quem arrisca, que se estimula o investimento privado?
Desculpe lá, magnífico, este desabafo. Já viu que sou mesmo rústico e grosseiro de células. Deve ser por isso que não entendo. Mas fica a saber que tenho esperança de um dia ficar mais inteligente. Quem sabe?

P.S. –Fica a saber o camarada reitor que não sou hoteleiro. Sou apenas um tosco e rude comerciante que se preocupa com o rumo que a cidade continua a tomar.

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