UM POEMA PARA VINTE PASSOS
Subi a serra com devoção,
Buçaco, uma mata de encanto,
nunca cansei por afeição,
nem me julguei sacrossanto;
Entrei no Passo do Horto,
vi Jesus em agonia,
quase que o tomei morto,
mas Ele apenas sofria;
Avistei o Passo da Prisão,
estava Judas, o malfeitor,
comentando de antemão,
e entregando Nosso Senhor;
Continuei a caminhar,
achava que tinha um dom,
quase me apeteceu lançar
ao Passo da Ponte Cedron;
Não avistei Nosso Senhor,
fui ao Passo de Anás,
ver se via o Redentor,
estava em casa de Caifaz,
Fui ao Passo de Caifaz,
transpirava de cansado,
sempre me julguei pertinaz,
como Cristo o desprezado;
Encontrei um caminheiro,
interrogou: como podes?
disse-lhe que era sendeiro,
ali, no Passo de Herodes;
Fui para o Passo de Pretório,
ver Pilatos a sentenciar,
levava um ofertório,
não consegui Jesus indultar;
Já transpirava às postas,
e não carregava dor,
no Passo da Cruz às Costas,
imaginei-me Nosso Senhor;
Naquele paraíso terreno,
com cheiro que embebeda,
senti-me o Nazareno
no Passo da Primeira Queda;
Fui tomado de aventurança,
não encontrei qualquer fuligem,
enchi o coração de esperança,
no Passo Encontro com a Virgem;
Se encontrasse um homem novo,
como Cristo que morreu,
talvez eu mostrasse ao povo
a mensagem do Passo de Cirineu;
Confesso que estava cansado,
o suor me transcorria,
se encontrasse um atoalhado
no Passo de Verónica, pedia;
Imaginei-me a tropeçar
deixando cair uma moeda,
muito me apeteceu chorar
no Passo da Segunda Queda;
Espreitei o horizonte, além,
apanhei o Sol doirado,
no Passo das Filhas de Jerusalém,
senti-me eternamente abençoado;
Continuei sempre a subir
oxalá ninguém depreda,
não tive receio de cair
no Passo da Terceira Queda;
Sentia-me leve em missão,
pleno de alegrias puras,
no Passo da Despojação,
encontrei as vestiduras;
Considerei-me iluminado,
pelo Espírito Santo da luz,
entrei no Passo sagrado
em que pregaram Jesus na Cruz
Nesta viagem de breviário,
neste lugar encantador,
no Passo do Calvário,
recebi de Cristo amor;
Pensei na sede sentida,
no poço, no alcatruz,
na Santíssima mãe querida,
no Passo do Descer da Cruz;
Percorri todos os Passos
eu sabia que era o fulcro,
sempre encontrei os compassos
até ao Passo do Sepulcro.
(POEMA INTEGRANTE NO CONCURSO DE POESIA "BUSSACO, UMA MATA DE ENCANTO")
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