sábado, 12 de junho de 2010

HOJE HÁ FOGUEIRAS NO ROMAL...




 Logo, quando baterem as dez badaladas na “Velha Cabra”, o Largo do Romal, ali ao lado da Praça do Comércio, bem no coração da Baixa da cidade, estará repleto de pessoas. No meio da centenária praceta estará o coreto todo enfeitado com bandeirinhas multicolores. A orquestra estará prestes a iniciar mais um baile popular. O cheiro a sardinha assada invade toda a zona em redor. Todas as mesas, recobertas com toalhas de pano aos quadrados, estarão ocupadas. Em cima dos tampos são bem visíveis as cântaras de barro com um tinto de fazer estalar a língua, a broa e, aqui e ali, umas “barriguinhas” assadas.
Os donos das pequenas tabernas, de relance virão à porta dos estabelecimentos e, em jeito de contentamento, passarão a sua mão pela emergente e saliente barriga, da mesma forma que uma grávida acalma o seu futuro menino.
Encostado na esquina, o “Zé Malaqueco” cofia a barba mal semeada. Levanta o braço esquerdo e cheira o sovaco, não vá o perfume adquirido na “Pétala” à última hora falhar no engate. E a noite promete. O “Malaqueco”, como farol que varre a enseada, mira o “material”. Mentalmente tira as medidas àquela cota toda aperaltada. “Hum…que bombom”, pensa o “Zé” para si, mas vai esperar, nada de compromissos antecipados, que a noite ainda é uma criança.
No outro canto, a Etelvina, toda enroscada no seu Anacleto, fez folga na Avenida. Esta noite não entregará o corpo ao manifesto. Só o corpo, saliente-se, porque a alma é mesmo só do seu homem. Jamais alguém a tomará.
E são então 22 horas, ouvem-se os primeiros acordes da banda para aquecer e afinar os instrumentos. Sobe ao palco o "capitão" Clemente –é o presidente da junta de freguesia de São Bartolomeu. É ele que, teimosamente, continua a fazer tudo para que estas velhas fogueiras do Romal não morram. Está junto ao micro. Ajeita a gravata, puxa as calças para cima, passa a mão na barba bem aparada para o efeito e começa o discurso de abertura: “Caros amigos, concidadãos, é com muito gosto que vamos dar início a mais umas grandes fogueiras do Romal. Uns fazem, outros prometem, outros ainda, como treinadores de bancada, mandam uns “bitaites” –sentado à frente de umas sardinhas, vou remexer-me na cadeira como se de repente fosse picado por uma pulga. “Vocês conhecem-me” –e o peito do presidente Clemente parece crescer-, “vocês sabem que não faço mais pela Baixa por que não posso…” –vai ser interrompido por uma grande salva de palmas. A orquestra dá início aos festejos populares.
O Albino “põe-te a jeito”, tomando nos braços a Genoveva, e mergulhando a cabeça nos seus fartos seios, dará início ao baile de roda. Estarão abertas oficialmente as fogueiras do Romal.
Já no ano passado foi assim…

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