sexta-feira, 11 de junho de 2010

BAIXA: PANTEÃO...QUÊ?



 Quinta-feira, 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Faltam uns minutos para as 13 horas. Um grupo de turistas franceses está junto ao pórtico da Igreja de Santa Cruz. Olham para um lado, para outro, um deles decide avançar para as fortes portas de madeira do monumento. Numa postura trágico-cómica, o homem empurra a porta com força, mas esta, inerte e insensível à curiosidade turística, não se abrirá à universalidade.
 Num francês “asocratado”, informei-os que o templo estava encerrado. Disse-lhes que abrira apenas para o culto uma hora antes. Um deles, mais afoito, retira um pequeno livro com uma frase sublinhada: “Panteão Nacional”. Interroga-me, “Panteão…Nacional…isto é o quê?”. Confesso, tive vergonha de desenvolver o que queria dizer. Expliquei apenas que era um monumento classificado onde jazia o fundador da nacionalidade.
 Como ressalva de valores, não sou um nacionalista exacerbado. Entendo que, por um lado, devido ao quebrar de barreiras fronteiriças, por outro, devido à Globalização em todas as suas vertentes, o mundo encolheu aos nossos olhos. O sentido de Pátria, como nuvem passageira que vai e vem, multiplicou-se e foi perdendo a sua carga etimológica como sempre o entendemos. Hoje, perante esta ofensiva universal, uma grande maioria, seremos mais cidadãos do mundo do que propriamente filhos da Pátria onde nascemos. Porém, entendo que não devemos esquecer as nossas raízes e a nossa história. Não vou dissecar sobre o que se tem feito para apagar momentos épicos que, na época, tendo em conta o seu contexto, foram gloriosos e que agora, perante iluminados, em nome de uma vergonha que só eles sentem, tudo fazem para obliterar o nosso passado.
 Entendi fazer esta salvaguarda para melhor se entender a minha indignação. Extrapolo-a em nome da história de um país maltratado, espezinhado e vilipendiado. O facto de ontem a Igreja de Santa Cruz, tal como o Mosteiro dos Jerónimos, Panteão Nacional, estar encerrada no dia de Portugal é uma vergonha colectiva. Só mostra o desleixo em que a cidade caiu. Ninguém se importa com nada. Se a história não preocupa o executivo da Câmara Municipal de Coimbra, pelo menos o turismo, nem que seja através da Empresa Municipal, deveria importar. Mas há muito que, em nome de uma paz podre, ninguém ousa questionar a Diocese de Coimbra acerca da razão de a Igreja de Santa Cruz, monumento importantíssimo na cidade e que deveria diariamente contribuir para a revitalização da Baixa, abrir apenas no período de culto.
Haja decoro, quanto mais não seja por respeito a D. Afonso Henriques. Se querem continuar nesta hipocrisia reinante, por amor de Deus, transladem as ossadas para a Lisboa. Coimbra não merece ser sua fiel depositária.

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